Palestra evocativa do Dr. Orlando de Oliveira

Conservatório de Música de Aveiro de Calouste Gulbenkian, Palestra evocativa do Dr. Orlando de Oliveira, Sábado, 19 de Fevereiro de 2011 . 21h00 Anfiteatro

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«Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.» - Fernando Pessoa

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ORADORES
Dr.ª Maria da Luz Nolasco
[Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Aveiro]
Dr.ª Maria Filomena Vale Guimarães de Oliveira
[filha do Dr. Orlando de Oliveira]
Prof. Henrique Neto
[Conservatório de Música de Aveiro de Calouste Gulbenkian]
Professor Doutor Jorge Arroteia
[Universidade de Aveiro]


SESSÃO MUSICAL
Alunos e Professores do Conservatório de Música de Aveiro de Calouste Gulbenkian

LUÍS BARBOSA: ROMANCE
J. S. BACH: CONCERTO EM MI MAIOR (1º andamento)

Inês Bastos (Violino)
Profª Isabel Santos (Piano)

 

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ORLANDO DE OLIVEIRA
Elementos Biográficos

Nasceu em Viseu, a 30 de Dezembro do ano de 1908 e faleceu em Aveiro, a 24 de Fevereiro de 1991. De origem humilde, Orlando de Oliveira nutriu por Aveiro e suas vivências uma grande paixão. Este aveirense destacou-se no campo das letras, da cultura e do ensino.

Foi em 1932 que Orlando de Oliveira iniciou nesta cidade a sua vida académica. Foi depois, professor efectivo a partir de 1946, no Liceu Nacional de Aveiro, Reitor nos anos de 1957 a 1974.

Apoiante da regionalização nacional e de políticas de descentralização, nomeadamente, no que concerne ao ensino médio e superior, O. de Oliveira encorajou a criação do Instituto Comercial de Aveiro, entidade precursora do actual ISCAA – Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro; do Conservatório Regional de Música; do pavilhão gimno-desportivo do INDESP; da Universidade de Aveiro e ainda de estabelecimentos vocacionados para o ensino agrícola e pecuário; de enfermagem; de náutica e ciências. Muitos foram os esforços enveredados por Orlando de Oliveira, junto de Ministros da Educação Nacional, da Marinha, da Saúde e Assistência, da Fundação Calouste Gulbenkian, do Governo Civil, da CMA e da Junta Distrital, para que os mesmos se implantassem na cidade. A sua perseverança permitiu-lhe, de facto, angariar os apoios almejados e concretizar alguns dos projectos actualmente existentes.

É de salientar ainda que na década de sessenta, Orlando de Oliveira exerceu ainda os cargos de Presidente da Comissão Municipal de Cultura do Concelho de Aveiro; foi membro representativo do Distrito de Aveiro, na Comissão Regional de Planeamento da Região Centro (entidade que antecedeu a Comissão de Coordenação Regional) e Vereador da Câmara Municipal de Aveiro, de 1960 a 1967, durante os mandatos do Dr. Alberto Souto e do Dr. Artur Alves Moreira.

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A 18 de Dezembro de 1973, a Câmara Municipal de Aveiro deliberou atribuir ao Dr. Orlando de Oliveira, Reitor do Liceu local, a Medalha de Prata da Cidade pelos relevantes serviços prestados à cidade, em ordem à fundação do Conservatório Regional de Aveiro e, pela criação da Universidade local.

Orlando de Oliveira, encontra-se sepultado, nesta cidade, que tanto admirava, no talhão n.º 3, do Cemitério Central.

 

Fontes: Aveiro e o Seu Distrito, Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro, n.º 12, 1971, pp. 21 a 26 e n.º 31, 1983, pág. 12; www.ua.pt/isca; o "Litoral" de 22.12.1973; "Diário da República" I Série, n.º 168, de 24.07.1985, Calendário Histórico de Aveiro, por António Christo e João Gonçalves Gaspar, págs. 342, 402, 418, 509; Em Prol dos Distritos - I Encontro das Beiras sobre Regionalização, Viseu 12.06.1981; Universidade de Aveiro – do sonho à realidade, por João Gonçalves Gaspar, Aveiro, 1999, ed. Universidade de Aveiro, pp. 39 a 129.

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DR. ORLANDO DE OLIVEIRA, FUNDADOR DO CONSERVATÓRIO DE MÚSICA DE AVEIRO DE CALOUSTE GULBENKIAN


Professor Henrique Neto

O Conservatório de Música de Aveiro de Calouste Gulbenkian nasceu há cinquenta anos, e brotou do entusiasmo e dinamismo de alguém que lhe dedicou todo o seu carinho e saber. Efectivamente já decorreram cinco décadas, desde que o Dr. Orlando de Oliveira pensou e idealizou para Aveiro a existência de um Conservatório. Na realidade deve considerar-se mais um ano, uma vez que foi em Agosto de 1959 que esta ideia começou a «conquistar» a atenção do Dr. Orlando de Oliveira, à época, reitor do Liceu Nacional de Aveiro. Era assim chegada a altura desta cidade, enquanto capital de distrito, ter a sua própria escola de música. Em Outubro desse mesmo ano, a criação de uma Academia era já considerada uma possibilidade. E foi como tal, que no final da sessão solene de abertura do ano lectivo de 1959-1960, realizada no Liceu Nacional de Aveiro, a existência desta iniciativa foi publicamente anunciada pelo seu reitor. O auxílio prontamente prestado pela Fundação Calouste Gulbenkian, foi de terminante para a concretização deste projecto. Assim, foi no dia 8 de Outubro de 1960 que a cidade «assistiu» à inauguração oficial do seu Conservatório Regional, constituindo esta realização a primeira conquista do Dr. Orlando de Oliveira em benefício de Aveiro, terra de alguns dos seus filhos como gostava e era habitual referir. Desde o primeiro ano da existência deste estabelecimento de ensino, ficou determinado que o cargo de presidente do Conselho Administrativo, cujos mandatos tinham a duração de três anos, seria atribuído ao seu fundador. Cumprindo o estipulado, o Dr. Orlando de Oliveira desempenhou estas funções durante os três primeiros triénios. No ano de 1969, prestes a iniciar mais um triénio, viu-se forçado, por falta de saúde, a pedir a não recondução no cargo e, consequentemente, a sua substituição no desempenho destas funções. Este facto, causou grande consternação entre os colegas dos trabalhos de tantos anos, que movidos pela forte amizade ao presidente / 8 / cessante, insistentemente procuraram levá-lo a reconsiderar esta sua decisão. Ao ser informado pelo próprio Dr. Orlando de Oliveira, deste seu pedido de resignação ao cargo de Presidente do Conselho Administrativo do Conservatório, também o Dr. José de Azeredo Perdigão; administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, diligenciou no sentido de procurar alterar o sentido desta decisão. Contudo, a perspectiva de mais três anos de trabalho intenso era incompatível com o fragilizado estado de saúde do Dr. Orlando de Oliveira. Foi ainda por sua sugestão e cuidados que a Assembleia Geral pôde eleger o seu sucessor no cargo. As felicitações pela criação do Conservatório e as manifestações de carinho e apreço pela acção do seu fundador foram uma constante, surgidas de múltiplas origens e nos mais variados contextos. Dos numerosos exemplos que podem ser encontrados, apresentam-se em seguida alguns:

«(...). É hoje um dia de grande júbilo para os músicos portugueses e para os aveirenses. Inaugura-se mais uma Escola de Música no País – O Conservatório Regional de Aveiro. Iniciativa altamente honrosa do ilustre Reitor do Liceu Nacional de Aveiro, Sr. Dr. Orlando de Oliveira, que a esta obra tem dedicado o seu melhor esforço e entusiasmo, ela irá decerto exercer uma benéfica acção educativa na juventude de Aveiro. (...»>

(Excerto do discurso da Ex.ma Directora, Profa Gilberta Xavier de Paiva, na sessão solene da inauguração oficial do Conservatório Regional de Aveiro; 8-10-1960)

«O Senhor Presidente propôs e foi deliberado, por unanimidade, agradecer ao Senhor Doutor Orlando de Oliveira os sentimentos de gratidão dirigidos a esta Câmara Municipal, os quais são retribuídos, informando, ainda, que este Corpo Administrativo sempre apreciou a sua acção no Conservatório Regional de Aveiro, lastimando, assim, a retirada de figura tão prestimosa do referido estabelecimento de ensino, o qual só adquiriu a repercussão com que actualmente se apresenta, mercê, em grande parte, da sua valiosa acção, pelo que é credor das homenagens da cidade, através do seu Município.»

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(Câmara Municipal de Aveiro, excerto da acta da reunião ordinária de 17-11-1969 )

«(...), se o Conservatório tanto deve à total dádiva dos relevantes préstimos do sr. Dr. Orlando de Oliveira, Aveiro muito deve à sua operosíssima e sacrificada devotação em prol do estabelecimento educativo e formativo de que tanto se orgulha. (...»>

(Litoral; 29-11-1969)

«Quando a história se fizer (...) há dois nomes que ficarão juntos, indelevelmente juntos, ao do Conservatório Regional de Aveiro: o Dr. Orlando de Oliveira e a Fundação Calouste Gulbenkian. Para o Conservatório, quanto a nós, o Dr. Orlando de Oliveira aparece-nos como o homem que foi o primeiro. Poderia ser outro. (...). Mas foi ele (...). Ele sonhou – e do sonho soube passar à concretização prática da obra. E a obra, tomada logo depois pelas benemerências da Fundação Calouste Gulbenkian e do seu ilustre e dinâmico Presidente, o Dr. Azeredo Perdigão, aí está nesta cidade, em casa nova e com nome feito: Conservatório Regional de Aveiro.»

(Correio do Vouga; 5-12-1969)

«(...), a nota menos alegre que há a referir neste ano lectivo foi o pedido insistente de não reeleição feito pelo nosso Presidente do Conselho Administrativo, Sr. Dr. Orlando de Oliveira, que por motivo de falta de saúde, se viu obrigado a tomar tal atitude. Foi com sincera mágoa e muita compreensão que o Conselho se resignou e atendeu tal pedido. É que o Sr. Dr. Orlando de Oliveira não foi apenas o homem (...) que sonhou esta bela obra, lhe amparou os primeiros passos e a dirigiu com paternal solicitude ao longo de dez anos; mas também o responsável competente que soube ouvir e informar-se antes de tomar resoluções definitivas, o / 10 / amigo leal com quem apetecia colaborar, o perito actualizado e sempre atento das leis que regem a educação nacional, o redactor inteligente e primoroso de boa parte da nossa correspondência oficial, o enamorado da sua Dama, a quem guardou perfeita fidelidade em todas as horas, particularmente as que se mostraram mais difíceis ou temiam mais perigosas. (...)»

(Conselho Administrativo do Conservatório Regional de Aveiro; Relatório Anual 1968-1969)

«Na sua última reunião, (...), a Direcção deste Clube, conhecedora de que V. Excia, por imperiosos motivos de saúde, se vira f0rçado a abandonar as altas funções de Presidente do Conselho de Administração do Conservatório Regional de Aveiro, deliberou consignar em acta – 1) a mágoa que lhe causava o afastamento de V. Excia, de um cargo que sempre exercera com notável dedicação e inultrapassável eficiência; 2) os melhores votos de um rápido e completo restabelecimento de V. Excia, de forma a, tão breve quanto possível, poder retomar a orientação de uma obra que lhe deve tudo, do muito que hoje é; 3) o seu reconhecimento pela acção que V. Excia desenvolveu no Conservatório Regional de Aveiro, e que, se foi utilíssima para este já prestigioso estabelecimento de ensino, representou um benefício inestimável para a nossa Cidade.»

(Clube dos Galitos; 4-12-1969)

«(...) não posso esquecer nesta hora o sonhador que idealizou, estruturou e dinamizou o Conservatório Regional de Aveiro; (...). Esse homem é o senhor Dr. Orlando de Oliveira, dedicado, infatigável, meticuloso e entusiasta impulsionado r desta Escola que tão relevantemente administrou na primeira década da sua existência. Com vénia de Vossa Excelência aqui lhe expresso publicamente a minha admiração e respeito. (...)»

(Excerto do discurso do Presidente do Conselho Administrativo do / 11 / Conservatório, Pedro Grangeon Ribeiro Lopes, na inauguração oficial das actuais instalações; 30-3-1971)

«– A todos – os de ontem e os de hoje – agradeço o entusiasmo com que sonharam esta obra e contribuíram para a sua realização. Ela deve-se, fundamentalmente, à confiança que souberam inspirar ao Conselho de Administração da Fundação, confiança que se alicerçou na obra que vinham realizando desde 1960 por iniciativa de alguém, cujo nome, só cometendo uma grande injustiça, poderia ser esquecido – o do Dr. Orlando de Oliveira – que, sendo reitor do Liceu, tomou a iniciativa de criar o Conservatório, o amparou e defendeu nas suas diversas vicissitudes e que só o deixou quando o peso dos trabalhos – que não das responsabilidades – já superava as suas forças físicas o Para ele as penúltimas palavras – de saudação e de reconhecimento palavras que todos que o conhecem e o que foi o seu esforço em prol do Conservatório, compreenderão e aplaudirão sem reservas.»

(Excerto do discurso do Presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, Dr. José de Azeredo Perdigão, na inauguração oficial das actuais instalações; 30-3-1971)

«Esta obra, de há muito ambicionada não apenas por aquele que a sonhou - o que foi, justamente, aqui lembrado – como por todos aqueles que deram realização a esse sonho, é, com efeito, uma grande obra.»

(Excerto do discurso do Presidente da República, Almirante Américo Tomás, na inauguração oficial das actuais instalações; 30-3-1971)

Passados cinquenta anos da sua fundação, este estabelecimento de ensino, continua a ser um organismo vivo e dinâmico, honrando e dando continuidade à missão idealizada e iniciada pelo seu fundador. Usando as suas palavras: «(...), a obra do Conservatório está de pé e continuará a / 12 / viver porque Aveiro já não a pode dispensar.»

A comunidade discente, docente e funcionários, que actualmente estuda, trabalha e frequenta o Conservatório, exprime aqui o seu voto de gratidão em honra da memória do Dr. Orlando de Oliveira, o fundador do Conservatório de Música de Aveiro de Calouste Gulbenkian – afinal e singelamente «o seu Conservatório».

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DR. ORLANDO DE OLIVEIRA E A

UNIVERSIDADE DE AVEIRO

Professor Doutor Jorge Arroteia


Introdução

Por deferência do Magnífico Reitor da Universidade de Aveiro, cabe-me a honra de o representar nesta sessão dedicada a recordar um dos aveirenses que se distinguiu em vários domínios: nas letras, na cultura, no ensino, na cultura e na construção do saber. Cidadão que não tendo nascido sob os telhados desta "cidade salgada", soube granjear pelo seu trabalho e acção, o reconhecimento dos seus pares, dos alunos e das gerações que lhe sucederam. Refiro-me ao Sr. Dr. Orlando de Oliveira, reconhecido beirão que depois de ter deixado o planalto Viseense e a Academia Coimbrã, iniciou a sua vida académica nesta cidade no longínquo ano de 1932. Aqui regressou para leccionar no Liceu Nacional, depois de 1946. Poucos anos depois, em 1957, assumiu as funções de Reitor e a partir de então, até 1974 – data em que abandonou essas funções – não mais pugnou pela defesa do ensino e da criação de novas escolas nesta cidade aveirense.

Tomei contacto com o Dr. Orlando de Oliveira no final do ano lectivo de 1981 quando da realização do "1º Encontro das Beiras sobre Regionalização", o qual teve lugar na cidade de Viseu em 11, 12 e 13 de Junho. A iniciativa coube à PROVISEU e reuniu diversos oradores e conferencistas. Cada um e à sua maneira deu a conhecer as diferentes perspectivas sobre um assunto que à data começava a agitar a sociedade portuguesa: a regionalização do país. De facto o MAl havia publicado no ano anterior o "Livro Branco da Regionalização", obra que reunia um conjunto de textos relacionados com esta temática e que surgia como um dos grandes desafios para a classe política e para a sociedade civil. Os académicos não podiam ficar indiferentes.

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Tive oportunidade de fazer a viagem em conjunto e de lhe referir alguns tópicos de uma comunicação que havia elaborado sobre "Demografia e regionalização", nomeadamente os aspectos relacionados com o contributo da populace neste processo. De volta recolhi um rol extenso de informações relacionadas com a vida e as preocupações do antigo Reitor do Liceu de Aveiro que me levaram a conhecer no regresso e mais tarde, noutras oportunidades, o contributo desta personagem na criação dos estudos médios e superiores na cidade de Aveiro. Assim aconteceu com a instalação do Instituto Comercial de Aveiro (ensino médio), do Conservatório Regional Calouste Gulbenkian e da Universidade de Aveiro, que me cabe a honra de representar.


Tópicos de acção

A luta do nosso homenageado pela criação de uma universidade em Aveiro remonta ao início da década de sessenta de Novecentos, a par do cargo de Reitor do Liceu de Aveiro a exercer cumulativamente as funções de Vereador da CMA (1960-1967), ao tempo do Presidente Dr. Alberto Souto e do Dr. Artur Moreira.

No início do seu mandato, consciente das responsabilidades que como professor lhe cabiam, soube reclamar ao Ministro da Educação, em reunião ordinária da CMA (4NOV60), "a muita necessidade de se instalar nesta cidade de Aveiro um dos muitos estabelecimentos previstos nas suas palavras (Universidades)". Fundamentava-se no crescimento da população estudantil do Distrito a qual, no dizer das suas palavras, "seria o caminho logicamente seguido pelos numerosos alunos (mais de 8000) que hoje frequentam o Liceu, Escolas Técnicas e os Colégios do Distrito" (GASPAR, 1999, p. 39).

Logo no ano seguinte, em 1961, o Vereador Orlando de Oliveira na reunião ordinário da CMA (3NOV61), reconhece que "o aumento gradual da população escolar das três Universidades existentes torna ineficiente e quase impossível um bom ensino e, consequentemente, um bom aproveitamento escolar e social da massa estudantil dessas Universidades". Tendo em conta / 15 / esta situação e tendo em consideração "o alto nível técnico do Distrito de Aveiro", reclama ao Presidente do Município que "inclua na sua agenda de realizações imediatas, como da maior importância, a tentativa, junto do Governo da Nação, para que em Aveiro seja criada uma Escola Superior, com as características aconselháveis pelas necessidades de ordem local e com a orgânica que o Governo tiver como mais conveniente" (op. cit., p. 41).

Esta proposta, aprovada por unanimidade, vai dar continuidade à luta já assumida pelo Reitor do Liceu de Aveiro na defesa da sua proposta, retomada em momentos vários dos anos seguintes sempre reclamando para a cidade a criação de uns "Estudos Gerais" (op. cit., p. 42). No ano seguinte, em 1963 C 4JAN63), defende a criação de uma Secção da Faculdade de Ciências do Porto ou de Coimbra e ainda a criação de "um estabelecimento de ensino agrícola" (op. cit., p. 44).

O momento político escolhido para a reafirmação desta proposta parece adequado uma vez que a mesma vai ao encontro do pensamento do Reitor dos Estudos Gerais de Moçambique, Prof. Veiga Simão, que advogava "a reforma do ensino superior através do estabelecimento, sempre que possível, de vários graus que satisfaçam as múltiplas exigências nacionais", permitindo "a melhoria de nível cultural e científico e contribuirá para um aumento sensível de técnicos e cientistas". (op. cit., p. 45).

Quando da tomada de posse do Dr. Artur Alves Moreira como Presidente da CMA (20JAN64), mais uma vez o Reitor do Liceu de Aveiro vem solicitar a sua intervenção na Assembleia nacional para a criação, em Aveiro, "de estabelecimento de ensino médio e agrícola e de nível universitário" (op. cit., p. 47). Em complemento desta acção, o Dr. O. de Oliveira conseguiu, da parte do Deputado e Presidente da edilidade aveirense, que lhe fossem facultados elementos relacionados com a carta escolar e a demografia escolar do Distrito no sentido de fundamentar tecnicamente, em fases futuras, as suas propostas e pretensões (op. cit., p. 49).

O processo de democratização do ensino iniciado nos anos sessenta e que se consubstanciaram no prolongamento da escolaridade obrigatória e na / 16 / criação, em 2JAN67 (decreto lei n.º 47480) do Ciclo Preparatório do Ensino Secundário, reclamavam novas iniciativas relacionadas com a formação docente e com a qualificação de quadros necessários ao desenvolvimento económico do país. Foi com base nestes pressupostos que o Reitor do Liceu e Vereador da CMA, O. Oliveira, veio a prosseguir a sua luta promovendo, desta vez, a instalação na cidade, em 1965, de um "Instituto Médio de Comércio" (op. cit., p. 55) destinado a ministrar o curso de Contabilidade e, mais tarde, o "Conservatório Regional de Aveiro".

Como temos conhecimento, embora de natureza particular, estas escolas estiveram na origem de outros estabelecimentos de natureza pública, de cursos e de formação de recursos humanos, nestas diversas áreas do saber que hoje dignificam a cidade e a sua região.

Nos finais dos anos sessenta novos acontecimentos vão permitir alimentar a voz e o projecto deste cidadão aveirense. Embora tendo saído da vereação da CMA, assiste à evolução social e política do país a braços com a guerra do ultramar, as lutas estudantis, a emigração e a mudança social causada pela industrialização e urbanização, pelo acréscimo da mobilidade de população portuguesa e pela procura social da educação. Por isso quando o Prof. Marcelo Caetano ascendeu a 1º Ministro e trouxe consigo o Prof. J. H. Saraiva para a pasta da Educação, numa visita sua a Aveiro (12DEZ68), quer o Reitor do Liceu, quer o Governador Civil do distrito de Aveiro encetam uma nova cruzada no sentido de não deixar apagar a chama da criação do ensino superior universitário nesta cidade (op. cit., p. 67-68).

São as mudanças de Governo de 1970, quando Veiga Simão assume a pasta da Educação, que o cenário se altera substancialmente. Confinado agora ao seu palco, como Reitor do Liceu de Aveiro), mas apoiado no seu projecto pelo Governador Civil do Distrito, Eng. Vale Guimarães, estes dois protagonistas (íntimos e familiares), vão reforçar o seu projecto na ideologia, no discurso e na prática de acção do novo Ministro da Educação. Valem-se do envolvimento de diversos actores locais, personalidades públicas e meios de comunicação social, para reforçar esta criação. Fazem-no agora com base não só no discurso político mas já utilizando dados / 17 / concretos da demografia e do desenvolvimento económico de Aveiro e do seu distrito.

Em carta aberta datada de Abril 70 (op. cit, p. 82), o Reitor do Liceu de Aveiro defende que "Aveiro tem predicados, mais que bastantes, para merecer a distinção que solicita: ensino universitário dentro dos seus muros". Isso o reclamava mais de 8000 jovens que à data frequentavam os liceus, as escolas técnicas e os colégios do Distrito. Como assinalou na parte final desta missiva, "eles querem ascender, querem" mais e melhor" e têm o direito de exigir". (op. cit., p. 82).

No palco da imprensa regional refuta, à sua maneira beirã, os argumentos contra a criação de uma Universidade em Aveiro e defende o seu projecto à exaustão, reforçando os aspectos geográficos da região: "uma zona de alta demografia, de notável sentido político evolutivo e evoluído, de explosivo desenvolvimento económico e de valor social cada vez mais marcante no quadro do Portugal hodierno", escreveu ele em 1970 (op. cit., p. 98). Em Outubro de 1970 o Governador Civil de Aveiro, na companhia de uma comissão de aveirenses, apresenta formalmente no Ministério da Educação uma exposição na qual se lê: "Aveiro tem direito a Estudos Gerais Universitários, coroamento do vasto aparelho cultural de que o Distrito dispõe e onde se preparam seis centenas de alunos que anualmente se matriculam nas Universidades, número sempre a crescer" (op. cit., p. 105).

Da parte do Governo a criação em Outubro de 1971 de uma Secção do Instituto Comercial do Porto, estatuto que se altera em 1975 com a criação do Instituto Comercial de Aveiro, dependente da Direcção de Ensino Superior e precursor o ISCAA, hoje integrado na Universidade de Aveiro e a autorização, em 1966, do Conservatório Regional de Aveiro ministrar diversos cursos superiores, faz antever uma abertura para esta iniciativa.

Depois da visita do Ministro Veiga Simão à cidade, em 6JAN71, (op. cit., p. 123) Orlando de Oliveira recorda o percurso das suas propostas e diligências, nos termos seguintes (op. cit., p. 124): "Tive oportunidade de advogar nos jornais a criação de estudos superiores em Aveiro, e fi-lo com / 18 / a plena convicção de cavaleiro que defende a sua dama em torneio de galanteria. Não por mero sentimentalismo de quem deseja uma Universidade na terra dos seus filhos (...); mas, antes, por sentimento de crença nas potencialidades aveirenses de fácil demonstração numérica e ainda pela certeza de que, se a Região se desenvolve a ritmo acelerado e lhe antevemos futuro promissor e talvez explosivo, esse desenvolvimento será deformante, se o económico não for acompanhado pelo escolar".

O rumo seguido por estas reflexões tivera eco no discurso do Ministro da Educação, Veiga Simão, que em Abril de 1971 (op. cit., p. 127 e 128), no decurso do VI Congresso do Ensino Liceal, realizado nesta cidade, afirma:

"(...) os estudos superiores não devem ser apanágio exclusivo de Lisboa, Porto ou Coimbra. É necessário expandirmos esse ensino par mais centros do nosso país. Aveiro está nas minhas preocupações". A partir de agora aliavam-se nesta projecto as forças vivas locais, o Ministro da Educação e o Centro de Estudos e Telecomunicações dos C.T.T. (op. cit., p. 129), que se disponibiliza para colaborar neste projecto cedendo parte das suas instalações. Em 19DEZ72, Veiga Simão anuncia a sua reforma do ensino superior com a criação de "uma Universidade no centro, possivelmente na região de Aveiro".

Ao júbilo manifestado pelos aveirenses e autoridades do Distrito, o Dr. Orlando de Oliveira (op. cit., p. 137), refere: "Estou profundamente emocionado por tudo isto. Sinto-me feliz por ver realizado um sonho, que sempre reputei de extraordinária importância para a vida escolar de Aveiro".

Em artigo publicado na revista da Junta Distrital: "Aveiro e o seu distrito" (1972), enuncia um conjunto de reflexões sobre o seu desenvolvimento futuro que terminam num desafio, aliás, alcançado: o de contribuir para as necessidades regionais e o saber valorizar-se, desde o seu início, com o "prestígio resultante do valor científico e cultural dos seus membros".

O projecto porque lutara fica consignado com a publicação do Decreto-Lei n.º 402/73, de 11 de Agosto, com a criação oficial da Universidade de Aveiro, conjuntamente com a Universidade Nova de Lisboa, a Universidade do Minho e o Instituto Universitário de Évora.

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A acção deste professor em prol da educação e, sobretudo, da criação da Universidade de Aveiro ficou plasmada em diversas condecorações. No ano de 1973, a Câmara Municipal (18DEZ73), decidiu atribuir-lhe a medalha de prata da cidade de Aveiro; na abertura do ano académico de 1990/200, por ocasião do 25 aniversário da sua criação, a Universidade de Aveiro, decidiu igualmente prestar-lhe uma merecida homenagem.

Com o sentido de recordar e de valorizar a memória dos que nos antecederam na construção deste projecto, não podia a Universidade de Aveiro, na pessoa do seu Magnífico Reitor, representante de toda a sua academia, alhear-se a esta sessão e de associar à homenagem dos cidadãos aveirenses que hoje se reúnem para evocar a acção desta personalidade: o Dr. Orlando de Oliveira. Como se lê na fundamentação da "mercê honorífica" atribuída pela CMA – "sendo Viseense pelo nascimento, a Aveiro se prendeu pelo coração".

Nesta sessão coube-me a honra de testemunhar o reconhecimento da Academia aveirense através desta singela alocução.

Obra consultada:
 

Gaspar, João Gonçalves (1999) – Universidade de Aveiro do sonho à realidade. Aveiro, Universidade de Aveiro

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Agradecimentos


Família do Homenageado, na pessoa da Dr.ª Maria Filomena Vale Guimarães de Oliveira

Universidade de Aveiro

Aluna Inês Bastos (violino)

Professora Isabel Santos (piano)

 
 

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Data de inserção
17 de Fevereiro de 2011