Prémio Nacional de Professores
2007

 

Texto Justificativo referido na alínea a) do artigo 13.º do Regulamento do Concurso

 

A candidatura de Arsélio de Almeida Martins ao Prémio Nacional de Professores justifica-se, na opinião da Escola Secundária c/ 3.º Ciclo de José Estêvão de Aveiro, pelas razões mais diversas. Perto de completar os sessenta anos de idade, mais de metade dos quais dedicados à causa da Educação Pública, sempre serviu com denodo a profissão que abraçou.

Nascido em Vagos, em 1947, licenciou-se em Matemática Pura, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, em 1972. Fez estágio pedagógico no Liceu Garcia de Orta, Porto, em 1977. Foi sucessivamente, antes e depois desta última data, professor do Liceu Nacional de Espinho, Escola Comercial Filipa de Vilhena, Liceu Nacional Garcia de Orta, Liceu Nacional de Santo Tirso, Escola Secundária de Aveiro, Escola Secundária N.º 2 de Aveiro. Antes de definitivamente ancorar nesta Escola, ainda esteve durante três anos em missão em Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe na cooperação, dando mais sentido a uma formação marcadamente universalista. É, desde 1980, professor da Escola Secundária de José Estêvão.

Foi Presidente do Conselho Directivo e Executivo da sua Escola e Orientador de Estágio de Matemática. Nas décadas de oitenta, noventa e no que decorre do novo milénio, fez de tudo um pouco no sector da Educação: tem sido competente professor de Matemática, alma e rosto da Escola Secundária de José Estêvão, passando cerca de quinze anos com Presidente do Conselho Directivo ou Executivo, Presidente do Conselho Pedagógico em igual período, colaborador do Ministério da Educação nas mais diversas missões, Orientador de Estágio, Director do Centro de Formação José Pereira Tavares, co-autor dos Novos Programas de Matemática, Formador acreditado, palestrante reconhecido, fundador da Associação da Comunidade Educativa Aveirense, activista científico na APM e SPM, sindicalista, cidadão de corpo inteiro com intervenção cívica e política activa

Ao longo da sua carreira de docente, Arsélio de Almeida Martins contribuiu de forma notável para a melhoria do sistema de ensino, nomeadamente nos aspectos que a seguir descrevemos.

Como professor de Matemática, que nunca deixou de ser, mesmo quando Presidente do Conselho Directivo/Presidente do Conselho Executivo. A excelência do seu trabalho é demonstrada pelos resultados escolares dos seus alunos e pela qualidade das aprendizagens que estes revelaram.

Como professor e investigador na sua área específica tem trabalho que fala por si. A dinamização de acções de formação ao longo dos anos, a sua acção na SPM e na APM, a criação de instrumentos de trabalho específicos da sua área científica, os trabalhos realizados para o Ministério da Educação, de que foi colaborador assíduo, são exemplos de qualidade, empenho e espírito de missão que o caracterizam. Dinamizou, entre mais de uma centena, as seguintes acções de formação: de 11 a 14 de Outubro de 1989, Viana do Castelo, Programas de Matemática no Encontro Nacional de Professores de Matemática, promovido pela Associação de Professores de Matemática; de 20 a 21 de Setembro de 1990, Funchal; Novos Programas de Matemática nas Jornadas Pedagógicas promovidas pelo Sindicato dos Professores da Madeira; 15 de Março de 1995, Sever do Vouga; Demonstração de materiais informáticos para o ensino da matemática. Possíveis alterações aos programas de Matemática, na Escola Secundária de Sever do Vouga; 24 de Março de 1995, Coimbra; Seminário: As tecnologias de Informação e Comunicação e Aprendizagens Escolares, na Apresentação do Projecto "Apple Classroom of Tomorrow" do Instituto de Inovação Educacional; 19 a 21 de Abril de 1995, Coimbra; Avaliação em Matemática no Encontro de Professores de Matemática promovido pela Sociedade Portuguesa de Matemática e Associação de Professores de Matemática; 12 e 13 de Setembro de 1995, Maia; A Reforma e a Matemática no Encontro Regional de Professores de Matemática, promovido pela Associação de Professores de Matemática; 31 de Outubro de 1995, Guarda; Oficina de Matemática "Máquinas. Artes & Manhas" no Encontro de Professores de Ciências da Beira Interior; de 15 a 16 de Fevereiro de 1996, Vila Nova de Famalicão; Uma lógica para a organização do raciocínio matemático no ensino secundário de Matemática no Encontro de Professores de Matemática do Distrito de Braga, promovido pela Associação de Professores de Matemática; 10 de Abril de 1997, Porto; (IN)Formação dos delegados do 1º Grupo sobre os programas a entrar em vigor no ano lectivo de 97/98 do Programa de Apoio ao ensino de Matemática, promovido pelo Departamento do Ensino Secundário; 20 de Junho de 1997, Covilhã, Entre o Programa e o Manual, o professor deve escolher o programa único e pode utilizar um ou outro manual na Escola Secundária Campos de Meio, promovido pela Sociedade Portuguesa de Matemática; 23 a 25 de Setembro de 1997, Cidade do México, México; Formação Permanente de Professores de Matemática do Departamento do Ensino Secundário, uma Organização dos Estados Ibero-americanos; 18 de Março de 1998, S. João da Madeira; Geometria para alunos do 9° ano. Encontro com professores sobre os programas ajustados, na Escola Secundária Serafim Leite; 6 de Maio de 1998, S. Romão; Áreas e Volumes - Estratégias para os professores na Escola Evaristo Nogueira; 15 de Julho de 1998, Lisboa; Formação nos Programas de Matemática, na Escola Josefa de Óbidos no âmbito do Acompanhamento de Programas; 21 e 22 de Setembro de 2000, Ponte da Barca; A Matemática no Ensino Secundário - que futuro?, Encontro Regional de Professores de Matemática, promovido pela Associação de Professores de Matemática; 21 e 22 de Setembro de 2000, Ponte da Barca; Grafos no Ensino Secundário de Matemática, Encontro Regional de Professores de Matemática, promovido pela Associação de Professores de Matemática; 2 de Abril de 2001, Castelo da Maia; Matemática Dinâmica, Universidade Portucalense e Escola Secundária de Castelo da Maia; 19 de Abril de 2001, Mealhada; Geometer's SketchPad no Ensino Básico , Escola EB23 da Mealhada; 10 e 11 de Setembro de 2001, Coimbra; Modelos Financeiros e de Grafos, Núcleo Regional de Coimbra da Associação de Professores de Matemática; 13 e 14 de Setembro de 2001, Funchal; Matemática A e B; Matemática Aplicada às Ciências Sociais na Secretaria Regional de Educação – Acompanhamento Local/Departamento do Ensino Secundário.

Foi Director de Centro de Formação da Associação de Escolas do Concelho de Aveiro e, enquanto seu Director:

. preparou e organizou planos anuais de formação, acções de formação, bem como fez intervenções sobre formação contínua, etc.,

. participou em seminários e encontros sobre formação;

. interveio como formador no 1º módulo da acção "Sala de Aula com computadores"

Como Presidente do Conselho Pedagógico de uma escola associada do Cen­tro de Formação José Pereira Tavares, Arsélio Martins foi membro da sua Comissão Pedagógica. Nessa qualidade, apoiou a concepção e execução dos planos de trabalho do Centro, quer ao nível dos projectos de formação e da formação propriamente dita (em particular, Trends e didáctica da Matemática), quer ao nível da informação e divulgação. Como coordenador da secção de informação e di­vulgação da comissão pedagógica tornou-se responsável pela elaboração de planos e pela execução de acções específicas, como sejam as publicações: textos de apoio, textos-produto; Incentro de formação; Labor (revista publicada em colaboração com a Associação Cultural de Pro­fessores LABOR); Exame de Consciência de José Pereira Tavares (livro que inaugura a colecção VIDAS & IDEIAS, publicado em colaboração com a Associação Cultural de Professores LABOR); Nação, Nacionalismo e Democracia em Jaime Magalhães Lima de Manuel José Gonçalves Carvalho (volume 2 da colecção VIDAS & IDEIAS, publicado em colaboração com a Associação Cultural de Professores LABOR).

Foi ainda o redactor/relator das conclusões finais do II Congresso dos Cen­tros de Formação de Associações de Escolas, realizado em Aveiro e membro do Conselho Coordenador de Formação Contínua de Professores (CCFCP).

Enquanto professor e responsável pela gestão da Escola Secundária de José Estêvão sempre pautou as suas práticas pela promoção da qualidade do sistema de ensino público. Os bons resultados escolares e o baixo nível de abandono, que sempre se verificaram nesta Escola, são o melhor exemplo disso mesmo. Mas, em abstracto, enquanto causas, esses dois desideratos máximos da Educação sempre estiveram nos seus horizontes mais próximos. Prova disso é a sua intervenção cívica em defesa da Escola Pública: conferências, artigos de opinião, programas de rádio atestam-no publicamente. Mais importante ainda que tudo isso foi (é) a sua prática de todos os dias, dialogando com os alunos, falando com as famílias, intervindo onde a sua opinião avalizada é necessária.

Se tivermos em linha de conta a sua actividade profissional, tendo em conta processos de avaliação e reflexão sobre as práticas de ensino, a sua experiência é significativa. Enquanto activista da SPM, representou a Sociedade no Encontro da Associação de Professores de Matemática (PROFMAT 89) de Viana do Castelo para a discussão dos novos programas; integrou a Comissão Organizadora do Encontro Nacional de Discussão dos Novos Programas, realizado pela SPM, em Coimbra; organizou actividades, realizou acções (sobre novos e velhos programas) e teve intervenção nos Encontros da SPM; foi editor do Boletim da SPM para as questões do ensino primário e manuais escolares; realizou acção de formação sobre os novos programas de Matemática na Madeira, Sindicato dos Professores da Madeira; foi o organizador, responsável e relator do VI Encontro Nacional da SPM, Aveiro, 1992; realizou sessões sobre selecção de manuais escolares de Matemática em escolas integradas na iniciativa Tardes da Matemática da Região Centro (1997). Como membro da Equipa Técnica e da Comissão de Acompanhamento do Programa do Ensino Secundário de Matemática, participou em painéis de Encontros, sessões de formação, reuniões e sessões um pouco por todo o país; como formador acreditado para efeitos da formação contínua de professores, concebeu e orientou Conceitos de Matemática (Seminário), nos CFEC Ílhavo e CFAE Águeda; Tópicos de Matemática Contemporânea (Seminário), Centro de Formação José Pereira Tavares; uma Oficina para um laboratório de Matemática (Oficina de Formação), Centro de Formação José Pereira Tavares; Iniciação à Teoria de Grafos — via Internet, TRENDS, Centro de Formação José Pereira e Centro de Estudos de Telecomunicações.

Dinamizou intensamente a comunidade educativa aveirense, não só estando na origem da ACEAV (Associação da Comunidade Educativa Aveirense) que deu corpo a uma associação que pretende pôr em diálogo e utilizar as sinergias de diversas escolas de diferente graus de ensino – foi, ao longo dos últimos anos Presidente da Assembleia Geral da Associação. Na sua Escola promoveu a redinamização da Associação de Pais e Encarregados de Educação do Liceu de Aveiro e trabalhou sempre com o associativismo juvenil, dando toda a ajuda necessária para a existência da Associação de Estudantes da Escola.

Como membro do Conselho Directivo/Executivo (foi vogal do Conselho Executivo em 1982/83 e presidente deste órgão desde 1983 até 2002, com interrupções entre 1986/88 e 1991/95) sempre orientou a sua prática pelo justo equilíbrio entre a colegialidade  e a responsabilização individual, defendendo o exercício autónomo das competências como política para o tra­balho de direcção da escola.

O modelo de trabalho colectivo dos conselhos directivo/executivo, assente na responsabilização individual, foi reproduzido para as coordenações dos directores de turma e para os coordenadores de departamento e de­legados de grupo ou disciplina. Procurou, assim, dotar a escola com profissionais capazes do exercício de cargos de gestão intermédia com grande autonomia e independência.

Foi durante a sua gestão que a Escola se abriu de forma significativa a comunidade envolvente. Desde finais dos anos noventa, por sua iniciativa, A Escola começou a prestar serviços à comunidade educativa, em especial com a abertura de serviços de educação e ensino de adultos em pólos de animação comu­nitária (S. Jacinto - Área Militar e Paróquia/Junta; Nariz - Junta; Santiago - projecto da Câmara; Santa Joana - Junta; Estabelecimento Prisional). Por tudo isto podemos considerar que a prática de Arsélio Martins, enquanto Presidente do Órgãos de Gestão, foi inovadora, funcional e, a nosso ver, fez escola, contribuindo para a formação de uma nova fornada de pessoal dirigente.

O seu contributo para a formação e integração de novos professores fez-se, fundamentalmente, como Orientador de Estágio. Foi cargo que ocupou em duas épocas distintas: entre 1986 e 1988 foi Orientador da prática docente e professor de Didáctica da Matemática da Formação em Serviço do ClFOP da Universidade de Aveiro; entre 2003 e 2006 foi Orientador de Estágio de Matemática na sua Escola, tendo representado os Orientadores de Estágio no Conselho Pedagógico em 2005/2006. As suas práticas inovadoras são do conhecimento de toda a comunidade educativa e a preparação que os seus formandos obtiveram é reconhecida. Mas mesmo em tempo de ocupação de outros cargos a formação inicial de professores esteve sempre nos seus objectivos. Algumas das acções de formação já citadas são disso exemplo. Outras cumpririam, também, esse objectivo e podem ser consultadas quer no seu curriculum vitae, quer no seu “portfolio”

A difusão de boas práticas educativas foi sempre um dos seus objectivos. Ao nível pessoal – a imensidão das suas publicações nos mais diversos meios de comunicação assim o comprovam, mas também ao nível da comunidade educativa: a dinamização de publicações como o Aliás, a Labor e a Incentro, com repetidos pedidos para a publicitação das boas práticas a todos os docentes da Escola, são disso exemplo. Hoje nos jornais, ontem na rádio, desde algum tempo a esta parte no ciberespaço, sempre Arsélio Martins se tem dado à cidadania e aberto e à participação. Nos últimos tempos as novas tecnologias da comunicação transformaram-se quase numa obsessão. Transformar e espaço didáctico num espaço interactivo, recorrendo às novas tecnologias, quase sempre a expensas próprias, tem sido o seu último (mas não derradeiro) combate. Os alunos agradecem, os pais reconhecem, o país ganha. É assim que a educação acontece.

Por todos estes contributos para a Educação, candidatar Arsélio de Almeida Martins a este Prémio é uma obrigação do actual Conselho Executivo da Escola. O reconhecimento de 35 anos de trabalho capaz como poucos é o que se espera.

 
 

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Data de inserção
13 de Novembro de 2007