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A partir do momento em que
começou a surgir o ensino colectivo, em escolas de tipo paroquial, como
foi, por exemplo, o caso da França, tornou-se indispensável a criação de
material escolar adequado aos objectivos do ensino. Além de instrumentos e
materiais diversos de escrita (canetas, tinteiros, folhas, cadernos,
carteiras, etc.), as escolas começaram a ser dotadas com quadros murais. Em França, de acordo
com as prescrições de J. B. de La Salle, em Da conduta das escolas
cristãs[1] (1720), entre os materiais pedagógicos constam cartas murais de
grandes dimensões, com a representação das letras, ditongos e sílabas,
para aprendizagem da leitura, e quadros para o ensino das matemáticas,
que constituem os precursores do tradicional quadro preto. Tal como se lê
no citado documento de La Salle, «é necessário que as duas faces
desta prancha sejam pintadas a óleo de cor preta, a fim de que se possa aí
escrever as regras com giz branco.» Ao lado destes quadros, deveriam
figurar nas paredes, além do crucifixo, imagens piedosas. Em meados do século
XIX, após o período da Revolução Francesa, os textos oficiais
relativos às normas educativas fazem mesmo uma alusão explícita à
utilização do quadro preto. Os artigos 10º e 11º do Regulamento de 15
de Agosto de 1851 mencionam unicamente este recurso pedagógico, o qual
tinha obrigatoriamente que existir para exercícios de escrita,
ortografia, cálculo e desenho linear: «Haverá na escola pelo menos um quadro preto, destinado aos
exercícios de escrita, ortografia, cálculo e desenho linear. Numa parte
apropriada da parede ou em quadros móveis pendurados nas paredes serão
traçadas máximas religiosas e morais, as medidas usuais do sistema métrico,
a tábua da multiplicação, os mapas geográficos da França e do
departamento.»[2] No continente
norte-americano, antes de 1800, o ensino nos diferentes níveis era
essencialmente de tipo individual. E nas poucas escolas existentes, próprias
para ensino em grupo, estas eram extremamente rudimentares e com reduzido
material escolar. A partir do século XIX, com o sistema educativo lançado
por Joseph Lancaster (1778-1838), o ensino passa a ser essencialmente
ministrado em escolas públicas. Como materiais escolares, por questões
económicas, é criado uma variante do quadro preto, para uso de cada
aluno, que poderíamos designar por «quadro de areia». Tal como nos é
referido por P. Saettler[3], «sobre cada carteira era espalhada uma fina camada de areia para a
prática da escrita.» E os alunos escreviam «com um ponteiro
afiado de madeira e apagavam o quadro passando por cima uma régua de
madeira, economizando-se deste modo papel e tinta.» Para a
aprendizagem da leitura, eram impressos quadros com textos com letras de
grandes dimensões, que eram pendurados nas paredes, servindo deste modo
toda a turma. E «por meio de ardósias, centenas de alunos escreviam e
soletravam a mesma palavra ao mesmo tempo.»[4]
O quadro preto, hoje com um elevado número de variantes e modelos, foi considerado, no século passado, como uma das maiores inovações no campo pedagógico, por permitir que um só professor pudesse comunicar com turmas com elevado número de alunos, quer através da escrita, quer de esquemas, gráficos e desenhos. E apesar da elevada quantidade de novos recursos pedagógicos que a moderna tecnologia tem criado para apoio à comunicação em grupo, continua ainda a ser um recurso presente e indispensável em todos os estabelecimentos de ensino.
In:
Henrique J. C. de Oliveira, Os meios audiovisuais na escola
portuguesa. Universidade do Minho, Instituto de Ciências da Educação,
Braga, 1996, pp. 52-53. |
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