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Hélder Bandarra, O Percurso do Artista, Aveiro, Novembro 2010, 180 páginas.

4. Testemunhos – por Vasco Branco

HÉLDER BANDARRA OU O PERCURSO DE UM PINTOR

“A função da arte não é a de passar por portas abertas, é antes a de abrir portas fechadas.”

In “A Necessidade da Arte”, de Emst Fischer

 

Por debaixo do hábil “designer”, o anseio da polivalência cromática de telas ideais, o sonho multifacetado onde os ângulos se adoçam e o caminho rígido volve curva delicada.

As cores deixaram, finalmente, de soçobrar em mar de protocolos exigidos pelas siglas ou logotipos de carácter profissional e obedecem agora à exigência do gosto do artista que sempre viveu em latência. Belíssimo desenhador, com o traço fino e seguro que o aproxima dos mestres da Renascença (já o tem deixado ver em muitíssimas mostras), adivinha-se nele a luta dolorosa, mas tenaz, entre as matrizes vindas da adolescência

e o paradigma elegido que procura, avidamente, para as suas obras. A sua factura é sempre de um acabamento próximo do perfeito e há muito que superou o problema do enquadramento pictórico. Mas inconformado (o verdadeira artista é-o sempre) procura o tal paradigma, ideal aliás bem patente nas diferenças, às vezes subtis, que se adivinham no conjunto de obras que sempre tem como percurso necessário. A sua figuração abandonou o supérfluo e cinge-se, portanto, a um mínimo. Frequentemente, a cor completa a ideia da forma e a sugestão do clima. Hélder Bandarra, que ainda desejamos mais solto, isto é, mais próximo do seu - nosso paradigma, é um incontestável artista com mãos e cabeça que um dia - espero - irá tão longe quanto o deseja.

Mas o Hélder Bandarra desconheceu sempre as receitas e nunca se agarrou, mais ou menos convulsivamente, à obra feita que sempre considera esgotada. E não necessita de impor moliceiros ou pedaços lagunares para lermos a sua cidade natal em qualquer das suas telas, tal como se adivinha a Catalunha nas abstracções de Miró ou mesmo dos informalistas ali nascidos ou criados.

Não fora um homem dividido e há muito que os gritos vindos do cerne teriam sido aplacados e a fome do inatingível, se mitigaria com as obras que ainda considera percurso.

Todos os grandes artistas se alimentam desta, talvez paradoxal, mentalidade.

Vasco Branco

Escritor, Pintor e Cineasta, 1980

 
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