Domingo de Páscoa

Regressei de tarde ao Alto Zaza. O domingo de Páscoa, sabem como o passei?

Além dos meus dados terem prestado um bom serviço, o melhor que me podia ter acontecido não foi o convívio com os camaradas, foi o ter recebido e lido a vossa correspondência. Recebi as vossas cartas e as encomendas. As seis cassetes que me mandaram para o gravador chegaram em perfeito estado e fizeram sucesso. Não imaginam a quantidade de interessados em que eu as vendesse! Se quisesse fazer negócio, pagavam-me o dobro do que elas custaram. E, mesmo assim, ainda ficavam mais baratas do que aquelas que se vendem em Quimbele.

Mas o melhor é que no domingo de Páscoa estive quase para atirar foguetes. Só não o fiz porque não os temos na arrecadação do Alto Zaza, nem em nenhum outro local. E foguetes porquê? Muito simplesmente porque tive o enorme prazer de ler algumas linhas, desta vez escritas (finalmente!) pelo pai. Fiquei satisfeito em saber que o Taunus está de boa saúde e a trabalhar em caroços de azeitonas. O que ele precisa é de andar mais vezes. Um carro não deve estar sempre parado. Parado também se estraga! Se não lhe derem uns bons esticões, de vez em quando, o carro pode apanhar reumatismo nos rolamentos. Espero vê-lo em Lisboa, dentro de dois meses, quando aí for de férias. Estou também com saudades do carro.

Conduzir jipes, unimogues e a berliet não é a mesma coisa que conduzir uma viatura ligeira, especialmente se é nossa e aquela a que estamos já afeiçoados. Não é que me possa queixar das viaturas militares. Tirando algumas avarias (e não têm sido poucas, como já devem estar fartos de saber!) também dá algum gozo, na falta de melhor, conduzir uma viatura militar. Há uma, pelo menos, que conduzo frequentemente e me dá um certo prazer. Apesar de se tratar de uma viatura pesada, de várias toneladas, tenho de confessar que nunca conduzi uma viatura mais fácil do que a berliet. Tenho feito centenas de quilómetros, revezando-me com o condutor nas viagens mais longas e cansativas. E é a viatura mais fácil que conduzi até hoje, apesar do tamanho. Muito mais fácil que o Taunus, apesar de este ser uma viatura ligeira. Além da direcção assistida, que a torna mais leve que a do nosso carro, tem uma excelente caixa de velocidades. E, quanto a travões, é um verdadeiro espanto! Apesar das várias toneladas que transportamos, tem uma capacidade de travagem excepcional. Além do travão de pé e do de mão, que são de uma grande sensibilidade e eficácia, tem ainda um terceiro travão de emergência.

Já agora, sabem qual foi a outra coisa que no dia de Páscoa me agradou, sem contar com a vossa correspondência e as encomendas? Foi a escrita para a agência de viagens. Já agora, para ficarem com uma ideia daquilo que tenho planeado, passo a transcrever-vos parte da carta que mandei para Luanda:

«(...) Em primeiro lugar, devo sair de Quimbele para Luanda no dia 27 ou 28 do mês de Junho, pretendendo embarcar no taxi aéreo de Carmona para Luanda.

Só no dia 1 ou 2 deverei poder embarcar em Luanda para Lisboa. Quanto ao dia de regresso a Luanda, é-me difícil indicar o dia, visto não saber ainda o tempo de férias que efectivamente temos, uma vez que é a primeira vez que a terei ao abrigo do artigo 109. (...)»

Por este excerto da carta, já ficam com uma ideia daquilo que pretendo fazer no período de férias. Se tudo correr bem, como espero, dentro de dois meses estaremos juntos. Deixarão de ter correspondência minha, deixarão de ler as minhas palavras, mas terão o prazer de me terem na vossa companhia em corpo e alma.

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