Desacordo com o capitão

Não se pode dizer que Cabula Calonge seja muito longe da civilização. Estamos apenas, a acreditar no conta quilómetros do unimogue que me trouxe, a trinta e sete quilómetros de Quimbele. E vim de Quimbele para aqui porque aconteceu na altura ter deixado o Alto Zaza, onde já me encontrava há vários dias a reforçar o grupo do alferes Vieira, devido à prevenção rigorosa durante o período da Páscoa.

Fui para o Alto Zaza no dia dezassete de Abril. Estávamos de prevenção e creio que ainda continuamos. Pelo menos ainda aqui não recebi nenhuma mensagem a dizer o contrário. Quem deveria ter ido para o Alto Zaza não era eu, porque estou (ou pelo menos deveria estar!) no meu período de rotação e permanência em Quimbele. Quem deveria ter ido para lá era o alferes Valério. Foi isto o que disse, quando reuni com o capitão no dia dezasseis:

— Poderás ter muita razão. Mas não vou mandar o Valério lá para cima.

— Mas não o manda porquê, capitão?

— Tenho de ter aqui quem me substitua, na minha ausência.

— E eu não o posso substituir?

— Claro que podes. Mas nunca cá estivestes. Estiveste sempre fora da sede da Companhia. Não estás a par disto, como o Valério. Além disso, tu conheces o Alto Zaza melhor que ninguém. Não vou mandar para junto do Vieira um alferes que não conhece minimamente a região. Se houver qualquer problema, és tu o alferes mais indicado para os resolver. Segundo parece, conheces toda a gente e dás-te bem com todos. Até durante a tua ausência, enquanto andaste pela Quimabaca, me perguntaram por ti.

— Mas quem é que se interessa por mim a ponto de lhe perguntar por onde tenho andado, capitão? Não me está a tentar lançar areia para os olhos?

— Não, não estou. És a pessoa indicada para ir lá para cima. E não tens nada que discutir uma ordem. Está dada: és tu que vais. Tens lá a companhia do Vieira. Tens lá parte do teu pessoal. Que mais podes desejar?

Em suma, manda quem pode! E a minha permanência em Quimbele está reduzida a quase nada. De modo que abalei no dia dezassete para o Alto Zaza e por lá fiquei até ao dia vinte e cinco. Só voltei a Quimbele, muito de fugida, no dia vinte e um. Fui lá com o alferes Vieira buscar o reabastecimento. Era um sábado. E como era fim de semana, dia de cinema, e o Vieira já não ia à civilização há mais de um mês, ficou ele na vila e regressei eu, da parte da tarde, ao Alto Zaza.

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