O grande mestre do crime

Na manhã seguinte, logo depois do pequeno-almoço, distribuída a ração de combate, arrancámos para Marimba. Tal como previra, tivemos a excelente colaboração do professor. O recenseamento fez-se muito mais depressa do que previra. Ainda não era uma da tarde e já estava encerrado.

A picada entre Marimba e Quimbele é atravessada por diversas linhas de água, que exigiram a construção de pontões. Alguns sítios apresentam um espaço agradável, fresco, protegido do calor pelas grandes árvores que compõem a mata que ladeia a picada. Resolvemos ganhar tempo, avançando em direcção à vila, e escolher um destes locais para almoçarmos. Foi o que se pode considerar um verdadeiro piquenique na mata, à beira da água. No final do almoço, consumidas as latas e os petiscos que mais nos agradam, o pessoal fez bicha, à espera da bica. Como a minha máquina só faz três cafés de cada vez, gastámos um pouco mais de tempo do que o habitual. Que importa? O serviço estava feito e a tarde por nossa conta! Para mais, apenas nos separavam algumas dezenas de quilómetros de Quimbele.

Chegámos à sede da Companhia bastante cedo. A tarde ia ainda a pouco mais de meio, quando entrou no Briosa Bar um soldado à minha procura. Fez a continência ao capitão e chamou-me:

— Alferes, meu alferes.

Interrompi a conversa e prestei-lhe atenção.

— O que há? Aconteceu alguma coisa?

— Não, meu alferes. Temos o reabastecimento feito. Ainda é cedo, Se quiser, podemos ainda hoje regressar à Quimabaca.

— Já está tudo pronto?! Tão depressa? E os outros, que andam a passear pela vila?

— Já está tudo pronto, meu alferes. A malta está toda junta. Não se importa de ir já para cima.

— O quê? Não querem passar cá o fim de semana? — perguntou o capitão, metendo-se na conversa.

— Não, meu capitão. Só se o nosso alferes não concordar. Nós não nos importamos de regressar ainda hoje.

— Por mim, tudo bem. É só passar pela messe de oficiais e pegar as minhas coisas.

— Nem penses! Não podes ir hoje para cima. Hoje é dia de cinema. Aproveitas o sábado e vais connosco ao cinema.

— Não posso, capitão. Se o meu pessoal está com vontade de regressar ainda hoje à Quimabaca, não sou eu que os vou contrariar. Além do mais, amanhã é o meu último domingo na sanzala.

— Não podes ir. Tens hoje cinema. Vai dar o «Grande Mestre do Crime». É um filme de categoria.

— Ó capitão, não vou aqui ficar só por causa de um filme. Se nem o meu pessoal está interessado no cinema, faço-lhe a vontade. Vou ainda hoje para cima. A picada é boa. Está completamente seca. Faz-se bem de noite.

— Não podes ir. Tens de cá ficar para amanhã. É preciso levar o reabastecimento ao Cuango. Vocês vão dar uma volta, — disse o capitão, voltando-se para os soldados. Preciso de falar com o nosso alferes. Aproveitem o fim de semana aqui. Vá lá. Estão a ouvir-me? Ponham-se a andar. Aproveitem bem a estadia em Quimbele.

— Ó capitão, não pode ser! Ainda temos alguns recenseamentos para fazer. A ter de ir ao Cuango, vamos ficar sem tempo.

— Ouve lá, não tens ainda sanzalas próximas do Cuango?

— Tenho uma que não conseguimos fazer. Na altura, não conseguimos dar com ela.

— E agora já sabes?

— Já. Isto é, penso que já sei onde deverá ficar, se as informações que colhi, quando estive preso no Cuango, estiverem certas.

— Ora aí está! Está-se mesmo a ver! Vais levar o «reab» ao Cuango e aproveitas para fazer o recenseamento que te falta.

Fui à noite ao cinema. Não me aceitaram o dinheiro do bilhete. Gostei do filme e tivemos um serão em casa de uns civis.

Na manhã de domingo, ficámos com a viatura super-carregada, com dois «reabs» debaixo do banco corrido do unimogue. Tivemos um petisco de categoria na messe. A seguir ao almoço, após uma bica sem disputa aos dados, arranquei com o meu pessoal.

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