A caneta e as rotinas diárias

Alto Zaza, 9 de Dezembro de 1972

A última vez que estive na vossa companhia foi há dez dias. De então para cá, especialmente depois do dia 6 deste mês, diversos acontecimentos impediram-me de pegar na caneta. Não quero com isto dizer que a tenha posto de lado. Além da arma, que nos acompanha sempre e espero não ter de utilizar contra vontade, a caneta é o meu instrumento de trabalho mais precioso. Com ela elaboro relatórios, ordens de serviço, decifro e cifro mensagens para manter o contacto com a Companhia e outros grupos, faço requisições de material, registo conhecimentos e acontecimentos diversos, em suma, é a ferramenta de trabalho que mais utilizo. E embora não tenha estado em amena conversa directamente convosco, deverão ter aí recebido cópias a químico de aerogramas, que escrevi para responder a colegas de infortúnio em pior situação que a minha. Tenho aqui comigo os triplicados de dois aerogramas, escritos em 4 e 7 deste mês para colegas que foram parar à Guiné. Foram meus companheiros nos momentos tristes e alegres que vivemos em Tomar. Como não tenho a certeza de que tenham recebido essas cópias, voltarei a incluí-las aqui. Se não forem passadas na íntegra, pelo menos não deixarei de reproduzir as partes que me parecerem mais interessantes.

Antes de retomar o relato dos acontecimentos na data em que ficámos, informo-vos de que tive, há pouco tempo, a alegria de receber duas encomendas vossas. Podem continuar a mandar-me coisas semelhantes, que não há perigo de se estragarem. Chegam aqui com um atraso de apenas quatro a cinco dias. E sabe-nos deliciosamente bem trincar umas gulodices diferentes daquilo que cá ingerimos diariamente.

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