Rescaldo de um ataque |
O trabalho de remoção da camada escorregadia não terá levado sequer meia hora! Com todos a ajudar, foi trabalho leve e rápido. Quando chegámos ao cimo, lembrei ao condutor que era preciso ir tirar a viatura do local. Embora com receio, não quis dar parte de fraco. Tal como previra, a viatura arrancou sem problemas e fez o resto da subida como se estivesse numa estrada asfaltada. No cimo, toda a gente subiu para os seus lugares e a viagem foi retomada sem mais percalços. Chegámos ao Alto Zaza ao fim da tarde, já quase noite escura, todos avermelhados como se tivéssemos tomado banhos de argila e com as caras e mãos cheias de pequenos altos.
Este ataque imprevisto e violento, depois de lavados e refeitos da peripécia, foi o tema de todas as conversas. Disse-me o Teodoro que os soldados tinham ficado impressionados com a minha atitude, quando os mandei calar e dei as instruções. Não contavam que fosse tão ríspido em situações de aflição.
— O que é que o Teodoro queria que eu fizesse? Que estivesse com falinhas mansas? Com elas, ainda agora lá estaríamos a olhar uns para os outros!
E creio que estão neste momento suficientemente explicadas as minhas palavras, quando num dos aerogramas anteriores vos afirmei que esperava nunca mais voltar a encontrar-me numa situação de ataque como esta. Agora rio-me com vontade, quando recordo o caricato de toda a situação. Mas na altura não lhe achei graça nenhuma. E ainda continuo, agora, que já lá vão quase vinte e quatro horas, com a barba por fazer. Ainda não me libertei totalmente dos inchaços na cara e tenho medo de lhe meter a lâmina em cima. E para mais com uma barba comprida, como está. Talvez amanhã já possa deitá-la abaixo.
É altura de acabar com esta série de aerogramas. Não tenho mais nada de relevante para vos contar. Estamos, finalmente, com os relatos em dia.
Despeço-me de vós com um grande abraço de saudade e vou começar a dobrar todos os aerogramas e a colá-los, para depois lhes colocar uma cinta de papel a toda a volta. Vai dar cá uma pilha tal de aerogramas, que espero que não se assustem quando os receberem.
Não se esqueçam de dar cumprimentos meus aos nossos vizinhos e amigos. E o pai que não se esqueça da agenda.
Ponto final na escrita. Só mais... um grande beijo e abraço de saudades para ambos! |
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