Deambulando pela cidade

Regressámos ao centro da cidade e tomámos a bica na esplanada de um café. Entretanto, encontrámos o outro alferes da nossa companhia. Fora jantar a casa de uns primos que vivem em Luanda. Convidou-nos para dar uma volta no carro que lhe tinham emprestado. Levou-nos a duas zonas elevadas da cidade, em extremos opostos. O primeiro local foi a Fortaleza de Luanda. No extremo sul da cidade, em frente à língua de terra que penetra pelo mar e tem o nome de Ilha de Luanda, porque efectivamente de uma ilha se trata, ligada ao continente por uma moderna e ampla ponte, o espectáculo que a cidade nos oferece, com todas as luzes e reclames duplicados numa longa esteira nas águas calmas da baía, é verdadeiramente deslumbrante.

Logo no primeiro plano, a seguir ao morro onde se situa a fortaleza, vê-se uma clareira iluminada com edifícios antigos e pequenos e esplanadas de cafés e restaurantes, destacando-se, no limite desta área, um edifício bastante alto e moderno.

O alferes Valério, que já tinha visitado a cidade com os primos, deu-nos algumas explicações, as mesmas que lhe foram fornecidas:

— Aquele edifício alto, que se destaca dos outros à frente, mais antigos e mais baixos, é o «treme-treme».

— O «treme-treme»? — perguntámos, surpreendidos pelo nome.

— Sim, o «treme-treme». É o nome com que a malta o baptizou.

— Como assim?

— É o sítio onde a malta, quando vem do mato para a cidade, ao fim de alguns meses, vai desenferrujar o prego. Agora imaginem o que acontece quando lá vai um pelotão inteiro. Com a malta esfomeada, toda ao mesmo tempo a fazer o servicinho com as meninas, o edifício deve tremer todo desde o cimo aos alicerces.

Com umas boas gargalhadas e devidamente esclarecidos sobre a população predominante no edifício, continuámos a admirar a esplêndida panorâmica da cidade: uma fiada compacta de majestosos edifícios iluminados, encimados por reclames multicolores, duplicados no espelho das águas. À frente, junto à larga avenida da baía, o belo edifício do Banco de Angola, todo iluminado e reflectido nas águas. Atrás, o imponente bloco de muitos andares do BCA, que se eleva muito acima dos outros, encimado pelas letras brilhantes do reclame. Na extremidade norte, os grandes edifícios de luxuosos hotéis junto à baía, que contrastam com a zona de construções baixas da Alfândega e porto de Luanda. E estas imagens de cor são completadas pelo intenso movimento de carros ao longo da avenida da baía, dos quais apenas se vêem as luzes brancas e vermelhas dos faróis.

Do lado oposto ao da cidade, como que fechando a vasta e calma baía de águas rasgadas por esteiras luminosas de muitas luzes, destacam-se as silhuetas iluminadas dos vários restaurantes e hotéis, que se estendem ao longo da extensa Ilha de Luanda.

O segundo local onde nos deslocámos fica do lado oposto da cidade, no cimo de um morro, por detrás de um cinema ao ar livre, cuja encosta se encontra toda ajardinada. Embora o espectáculo não tenha a mesma beleza e grandiosidade do anterior, por lhe faltarem os reflexos de uma cidade espelhada na baía, não deixa de ser interessante. Oferece-nos uma perspectiva diferente e uma noção mais exacta das dimensões da cidade.

Demorámos aqui um pouco menos de tempo que no primeiro local. Demos depois uma rápida volta por algumas das modernas avenidas. E regressámos ao Grafanil, aproveitando a boleia dada pelo alferes Valério, nosso guia turístico de momento. Acabei por me deitar por volta das duas da manhã, após uma partida de crapaud com o Capitão.

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