Despedida da carta

Hoje, como referi no início, estou todo o dia preso no quartel. Encontro-me de serviço como Oficial de Dia, pelo que não há nada de especial para relatar. Da parte da manhã, cumpridas as obrigações inerentes ao cargo, escrevi uma grande parte deste aerograma. Interrompi a escrita pouco antes do meio-dia, para poder ir tomar um agradável e refrescante duche antes do almoço. Fui depois para a Messe de Oficiais do Grafanil, onde comi uma excelente feijoada. E agora vou dar por terminada a minha amena conversa com os pais. Como não tenho mais assunto e também começo a ter os dedos doridos da caneta, despeço-me com um grande abraço. Vou-me entreter um pouco a fazer paciências com as cartas e, mais logo, quando for substituído, espero ir comer uma mariscada a Luanda.

É verdade, antes de terminar definitivamente tenho ainda algumas breves observações a acrescentar. Amanhã, tenho esperanças de poder contactar com as pessoas para quem trago as cartas de recomendação. Se estiverem com o primo Adolfo, em Coimbra ou em Águeda, digam-lhe que me encontro bem e optimista e que me dou bem com o clima angolano, ou eu não gostasse do calor! Há até certos momentos em que tenho a sensação de recuar à minha infância e de estar a passar as férias grandes em Celorico da Beira, pois a temperatura e a aragem têm algumas semelhanças e lembram-me os bons tempos de infância em casa dos avós, em que percorria despreocupado e livre os campos e em que fazia longos passeios em grupo, nas tardes quentes de Verão, até ao entroncamento ou à Ponte Nova.

A mãe que não se esqueça de escrever aos tios a dizer-lhes que estou bem e que lhes mando muitos beijos. Diga-lhes que não lhes escrevi ainda por falta de tempo.

Beijos e até aos próximos aerogramas. A mãe que não mos perca. Numere-os e arquive-os.

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