Figuras da Região

Mário Duarte (filho)

 

A 25 de Maio de 1982, anunciavam alguns jornais a morte de uma figura da cena política e desportiva, pertencente à região de Aveiro. Pela mesma altura, publicava-se neste Boletim um artigo de Eduardo Cerqueira, sob o título Dorida evocação de Mário Duarte (filho)(1). Prometemos, então, publicar um texto do punho de Mário Duarte, no qual ele evoca a sua actividade como cônsul de Portugal em Berlim, entre outros factos.

Quase um ano depois, damos cumprimento ao prometido, ao mesmo tempo que aproveitamos para uma breve resenha biográfica, já que, infelizmente, os elementos de que dispomos estão longe de fornecer uma retrospectiva completa e satisfatória desta figura da nossa região.

Filho primogénito de um dos maiores nomes do desporto nacional — o Dr. Mário Duarte — e de D. Maria Teresa de Melo, Baronesa da Recosta(2), Mário de Faria e Melo Duarte nasceu em Aveiro, em 25 de Dezembro de 1900.

Desde cedo se sentiu vocacionado para os desportos, praticando-os quase todos.

Em 1910, com apenas dez anos, Mário Duarte participa num concurso hípico, realizado no Luso, aí ganhando a primeira taça.

Em 1922, defende Mário Duarte as balizas de Lisboa, num encontro de futebol contra o Porto. Sócio fundador do clube de futebol “Os Belenenses”, é o seu primeiro guarda-redes, lugar que já anteriormente ocupara em Aveiro, no Clube dos Galitos.

Ainda no Belenenses, pratica também atletismo, ingressando posteriormente na equipa portuense do Académico, onde alcança inúmeros primeiros lugares. Evidenciou-se sobretudo nas provas de velocidade, sendo considerado dos melhores “sprinters” da época.

Em 1926, Mário Duarte toma parte no IV Campeonato de Ténis das Beiras, disputado na Guarda, saindo vencedor.

De 1927 a 1934, desempenha pela primeira vez as funções de cônsul de Portugal em La Guardia, no país vizinho. Durante este período de tempo, a sua actividade no campo desportivo continua: contribui, neste domínio, para o estreitamento das relações entre o norte de Portugal e a Galiza; participa, em 1930, 1931, 1932 e 1933, nos campeonatos de ténis Curia-Vigo, organizados pelo “Curia Palace Sports Club”, tendo saído, em 1930 e 1931, campeão dos singulares-homens. Pelos seus serviços como cônsul, é condecorado com a Cruz de Primeira Classe do Mérito Naval (Espanha) e feito Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo.

Em finais dos anos trinta, está Mário Duarte cônsul de Portugal em Port-of-Spain, Trinidad. Desempenha de modo brilhante a sua actividade e, em 1 de Outubro de 1940, é-lhe concedido o título de sócio honorário da Associação Portuguesa Primeiro de Dezembro, de Port-of-Spain.

De 1942 a 1945, nos três últimos anos da Segunda Grande Guerra, Mário Duarte vive em Berlim, onde desempenha simultaneamente as funções de cônsul de Portugal e encarregado da defesa dos interesses dos cidadãos brasileiros na Alemanha, Áustria e Polónia, período por ele próprio evocado no texto que escreveu e que inserimos a seguir a esta breve biografia(3).

Nos anos subsequentes, é cônsul de Portugal sucessivamente em Havana, no Recife, em Marselha, em Hamburgo, em Madrid e em Santiago do Chile.

No México, onde esteve cerca de cinco anos, termina a sua longa carreira diplomática. Como gratidão pelos bons serviços prestados neste país, recebe a Gran-Cruz da Ordem da Águia Azteca, a Gran-Cruz da Ordem do Direito internacional e o diploma de honra e a “espora de ouro”, da Federação Nacional de Charros Mexicanos, numa festa realizada na Praça Monumental do México. Neste mesmo país viria a conhecer o famoso romancista Hemingway, de quem foi grande amigo.

Finalmente, em finais dos anos 60, instala-se Mário Duarte em Lisboa, onde viria a falecer em 24 de Maio de 1982, com 82 anos, dos quais mais de metade foram passados ao serviço de Portugal, sendo trinta fora do seu país.

HENRIQUE J.C. de OLIVEIRA

_________________________ 

NOTAS:

(1)  Vd. Eduardo Cerqueira, Dorida evocação de Mário Duarte (filho), ln: “Boletim da Aderav”, n.º 6, Nov. 81-Mai. 1982, pp. 5-6.

(2)  D. Maria Teresa de Meio, Baronesa da Recosta, esposa de Mário Duarte e mãe de Mário, Carlos e Francisco Duarte, nasceu a 7 de Julho de 1871, falecendo em Aveiro a 3 de Novembro de 1929.

Via com interesse o desporto, praticando equitação, ténis e golfe. Exímia atiradora, terá eventualmente sido a primeira mulher em Portugal a andar de bicicleta e uma das primeiras a conduzir automóvel.

Veja-se Almanaque Desportivo do Distrito de Aveiro, 1950, p. 6., organizado por João Sarabando, M. da Costa e Melo e Virgílio Veiga.

Sobre Mário Duarte, pai da figura por nós evocada, veja-se:

JOÃO SARABANDO, Mário Duarte. Palestra no clube dos Galitos em 28 de Setembro de 1962. Aveiro, 1966, 19 pp.

(3)  Este documento, fotocópia do original, foi-nos cedido pelo nosso amigo e colaborador, Senhor Eduardo Cerqueira, a quem renovamos os nossos agradecimentos.


Página anterior   Página inicial   Página seguinte