Salvemos o moinho de Aveiro

Imagem reproduzida em tamanho real (65x92 mm).

Ali para os lados onde o casario da cidade acaba e a rasa paisagem lagunar se estende, ergue-se ainda o esqueleto estrutural, decepado e reduzido à absoluta apatia funcional, redondo de planta e ainda sólido nas paredes de pedra rolada de importação quiçá insular, um derradeiro espécime dos moinhos que polvilhavam outrora, ao rés de água, esta zona que se diferencia sem se subtrair no conjunto nacional.

De moinhos estiveram inçados a Ria e Aveiro. Desde os que conferiram esse topónimo a um ponto da estrada marginal da Cale de Vila e que a energia hidráulica das marés impelia para uma laboração precária, aos que disseminavam pelos chãos aluvionares de baixíssima cota, com propulsões eólicas, baralhadas com os palheiros das salinas.

Até ao mesmo Esteiro das Azenhas que, por via delas dava o nome, ao que hoje, não sei por que bulas nem pias baptismais que o legitimem, crismamos teimosamente de Canal do Cojo. E que terão, acaso, inspirado J. Ferreira Pinto Basto a construir, frustrantemente, a «Casa dos Moinhos»”, no termo do velho «llhote do Cojo» — onde está instalada a Capitania do Porto de Aveiro.

Aveiro perdeu, pois, uma velha e caracterizadora tradição de “moinhos”. Redobrada razão para conservar, reconstruir e aproveitar, funcional e culturalmente, aquele que nos resta à mão e autêntico.

EDUARDO CERQUEIRA

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NOTA – Infelizmente, volvidos cerca de vinte e quatro anos sobre a data em que foi dado à luz, nos boletins da ADERAV, este texto de Eduardo Cerqueira, continuam por se concretizar as palavras do Autor: «conservar, reconstruir e aproveitar, funcional e culturalmente aquele que nos resta à mão e autêntico». Continua a ser um esqueleto na paisagem, quase sem semelhança com a imagem do autocolante. (HJCO, 1/1/2004)


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