Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996.

Televisão e vídeo e suas implicações


 / 59 / A televisão é um processo electrónico de visão de imagens à distância projectadas sobre um ecrã, designado por cinescópio. Este não é mais do que uma válvula de grandes dimensões, formada por um canhão de feixes electrónicos e uma superfície sobre a qual esses feixes, projectados segundo varreduras de linhas horizontais que percorrem o ecrã da esquerda para a direita e de cima para baixo, vão dar origem à formação de imagens, tanto mais perfeitas quanto maior o número de linhas que varrem a superfície do ecrã.

Pode-se afirmar que a televisão foi dos inventos que mereceu simultaneamen­te o maior número de críticas e de elogios e também o sistema que mais contribuiu, conjuntamente com a rádio e a imprensa, para transformar o planeta numa imensa aldeia global pois, em pouco tempo, tornou-se acessível à grande maioria das pessoas, constituindo uma forma de companhia, de diversão, de informação e de formação, sendo talvez o instrumento mais poderoso da chamada « escola paralela ».

Para que a imagem tenha podido alcançar a força actual, foi necessário que a televisão passasse por uma série de evoluções, que tiveram os seus antecedentes ainda nos finais do século anterior.

Quando, em 1878, é apresentado em Portugal o telefone de Graham Bell , que gera grande entusiasmo e cujas experiências, em que participou o próprio rei, suscitam grandes notícias nos jornais da época, um professor português, Adriano de Paiva , lente de Física na Academia Politécnica do Porto, redige uma memória em que analisa as vantagens do sistema / 60 / utilizado por Bell[1] sobre outros sistemas. Enquanto outros sistemas, entre os quais cita o tubo acústico, com um alcance de apenas 150 metros, têm reduzidas potencialidades, considera que, com a criação da telefonia eléctrica estará dado o primeiro passo para transferir o mesmo princípio da telefonia eléctrica para o da telescopia eléctrica , permitindo a transmissão de imagens a grandes distâncias.

«A telescopia eléctrica - diz-nos Adriano de PaivaAdriano de Paiva na sua memória - viria mesmo preencher uma importante lacuna da telescopia catadióptrica, a qual, como é sabido, não permite ver objectos situados fora do cone dos raios visuais do observador.

Com o novo telescópio, porém, desapareceu tal obstáculo; transformado em corrente eléctrica, o movimento luminoso percorreria docilmente o caminho que nos aprouvesse dar ao fio destinado a conduzi-lo; e de um ponto do globo terrestre seria possível devassar este em toda a sua extensão.[2]»

Temos aqui, nas palavras transcritas do professor Adriano de Paiva, enunciado o problema básico do princípio de transmissão de imagens à distância, que viria a ser equacionado mais tarde noutros países. Chegou-se mesmo a pensar em criar um sistema que realizasse a transmissão das imagens de modo idêntico ao sistema natural de transmissão das imagens da retina para o cérebro, mas, como tal exigia um elevado número de elementos, acabou por ser abandonado e substituído por um sistema que, em vez do envio das imagens na sua globalidade, as decompõe em linhas, que envia uma a uma numa sequência de tal modo rápida, que permite reconstituir a globalidade da imagem projectada no ecrã do cinescópio.

Os primeiros sistemas de transmissão das imagens de televisão linha a linha são mecânicos. O sistema mecânico mais conhecido foi o do alemão Paul Nipkow , que utilizava dois discos perfurados em espiral, um no emissor e o outro no receptor. Inventado em 1884, acabou por ter larga divulgação em 1925. Este disco, girando a alta velocidade, embora apenas um ponto da imagem estivesse de cada vez exposto à célula foto-eléctrica, acabava por permitir que, a cada volta do disco pudesse ser vista uma imagem completa. Todavia, a qualidade da imagem era francamente má, pois as imagens eram constituídas por reduzido número de linhas.

Ainda nos finais do século anterior, em 1897, um físico alemão, Ferdinand Braun , inventou a válvula de raios catódicos, que vai ser a base dos cinescópios dos modernos televisores e das câmaras de filmar. Quando fazia experiências para investigar o comportamento dos electrões, Braun descobriu que, quando eles colidiam com tinta fluorescente, esta ficava / 61 / luminosa duran­te um breve espaço de tempo. Revestiu com tinta a extremidade de um tubo de vidro contendo um eléctrodo que, quando aquecido, emitia electrões[3]. Posteriormente, demonstrou que, recorrendo-se a electroímanes e placas electricamente carregadas do lado exterior do tubo se podia focar o raio  de  maneira  a obterem-se pontos de luz brilhante e que a variação de tensão permitia fazer deslocar esses pontos de luz.

O disco de Nipkow é utilizado pela primeira vez em S. Petersburgo, na Rússia, em 1911, pelo professor Boris Rosing , que apenas conseguiu projectar umas imagens de muito fraca qualidade.

Entre 1923 e 1931, um discípulo de Boris Rosing, Vladimir Zworykin , produziu o primeiro tubo electrónico que funcionava como câmara. Tendo fugido para os Estados Unidos, para escapar à Revolução Russa, Zworykin entrou para a empresa Westinghouse e, no final de 1923, apresentou o primeiro tubo de projecção de imagens, a que deu o nome de iconoscópio.

Em 1925, Zworykin registou a primeira patente de televisão a cores, cujo sistema só viria a ser produzido vinte e cinco anos mais tarde.

Feita a apresentação da televisão, em Londres, em 1926, pelo escocês John Logie Baird, que utilizou o sistema mecânico de discos de Nipkow, pouco tempo depois iniciavam-se as emissões regulares de televisão pela BBC (1929). A partir dos anos 30, o sistema mecânico é substituído pelos sistemas electrónicos. Em 1940, a televisão constitui já um novo media de utilização diária, não só em Inglaterra, mas sobretudo nos Estados Unidos, onde a CBS (Columbia Broadcasting System) inicia mesmo um sistema diário de televisão a cores. E é a partir da década de 50, terminada a segunda guerra mundial, que a televisão e sistemas dela decorrentes irão alcançar o desenvolvimento e vulgarização que hoje conhecemos.

Em Março de 1954 nasce a União Europeia de Radiodifusão (UER). Em Março de 1957 é inaugurada oficialmente a televisão portuguesa. A partir dos anos 70 começam a surgir na Europa as primeiras redes de televisão por cabo e a tornarem-se correntes as transmissões intercontinentais, através de satélites. Actualmente a recepção de canais de países dos vários continentes é prática comum, falando-se já em sistemas de alta definição, em sistemas em que a televisão anda associada à informática, prevendo-se mesmo para breve a televisão em relevo.

Com o aparecimento da televisão e com os progressos tecnológicos cada vez maiores, que acabaram por a tornar acessível a toda a gente, em breve, passa a reunir à volta do aparelho toda a família e a reduzir a assiduidade das salas de cinema. A televisão acaba por se tornar uma forma de espectáculo extremamente cómoda e, sobretudo, uma janela aberta para todos os acontecimentos do mundo, acabando por reduzir o planeta a uma imensa aldeia global. E, nos / 62 / finais do século XX, os modernos televisores permitem não só captar estações de todo o mundo, através da transmissão de programas via satélite ou por cabo, mas ainda funcionar como terminais de leitura dos modernos aparelhos de registo e leitura de imagens, em videodisco ou videocassete, bem como constituir uma forma de diversão, com as modernas "consolas" computorizadas de jogos, e uma forma de acesso à informação pretendida, através da utilização do CD interactivo (CD-I). Deste modo, a caixa mágica da televisão é não só um componente da tele-comunicação, como pode constituir o terminal de um sistema de comunicação-informação self-media e multimédia, na medida em que permite visualizar as gravações em vídeo realizadas pelos próprios, bem como programas alheios e videodiscos compactos através da utilização do leitor apropriado.

Outro grande recurso comunicativo, intimamente associado à televisão, é constituído pelos sistemas de gravação/leitura em vídeo, cuja expansão e acessibilidade levou praticamente ao desaparecimento do cinema amador e veio dar novas possibilidades a todos quantos se interessam, quer pela criação de mediatecas para uso pessoal, quer pela idealização e produção de programas próprios em vídeo.

Inicialmente destinado a fins comerciais, em breve aparecem os primeiros videogravadores para uso não profissional, em finais dos anos 60. A partir dos anos 70, surgem sucessivamente os sistemas Betamax e VHS, lançados no Japão em 1975, o Vídeo 2000, em finais de 1978. Nos anos 80, surgem as primeiras câmaras altamente compactas de vídeo, com ecrãs CCD e o novo formato de vídeo em 8 mm. Ao lado dos sistemas de gravação em vídeo, embora com um mercado bastante mais restrito, existem os sistemas de reprodução de vídeo em discos compactos. Todos estes sistemas permitiram que, no âmbito dos self-media, o homem passasse a dispor de sistemas versáteis de comunicação audiovisual, cujas potencialidades estão em permanente evolução e aumento, graças à fusão que actualmente se verifica entre os sistemas de vídeo e os sistemas informáticos.

Do ponto de vista social, o aparecimento dos diferentes meios de comunicação social, especialmente a rádio e a televisão, após o período da segunda guerra mundial, constitui, segundo alguns, uma verdadeira revolução com implicações sociais. Para Marshall McLuhan, eles transformaram o planeta numa verdadeira «aldeia global», na medida em que aproximaram os homens uns dos outros. Todavia, se para McLuhan a rádio e a televisão contribuíram para a aproximação dos homens, há quem considere que eles tiveram precisamente um efeito contrário, com carácter negativo. De acordo com A. Duarte Rodrigues[4], os mass-media terão antes / 63 / contribuído para o isolamento do homem moderno, tendo reduzido significativamente as relações inter-pessoais e aumentado os sentimentos de incomunicabilidade e solidão. Por outro lado, além de terem contribuído para uma cultura superficial e ladrilhada, aquilo que Edgar Morin designou como uma «cultura de tipo mosaico», uma cultura polifacetada e sem grande profundidade, como acontecia anteriormente numa sociedade culturalmente alicerçada na leitura, o excesso de informação terá levado o espectador a uma espécie de insensibilidade. O excesso de informação de tipo audiovisual, com preponderância da imagem, leva o indivíduo a criar mecanismos de defesa, de impermeabilização à informação, dela apenas retendo, quando efectivamente interessado, uma reduzidíssima parte:  Os media têm «uma dimensão individualizante que os torna quase imperceptíveis e omnipresentes, infiltrando-se em todos os interstícios da vida privada, isolando os indivíduos à medida que os ecos do mundo chegam em catadupa aos recônditos da vida doméstica[5].»

Outro aspecto relativo às consequências dos mass-media, especialmente da televisão, pelo poder sedutor das imagens projectadas, tem a ver com o problema da sua contribuição para novos imaginários colectivos, para novas formas de comportamento e de pensamento, levando ao aparecimento de um novo tipo de homem. Por exemplo, o excesso de spots publicitários poderá levar, conforme refere J. Berger[6], à «cultura da sociedade de consumo» propagando através da imagem «a confiança da sociedade em si mesma». Com o intuito de levar o homem ao consumo, mesmo daquilo de que não necessita, a imagem publicitária acaba por transbordar para o imaginário, enchendo o alvo receptor de novos conteúdos, formas e expectativas, acabando a «imagem por se tornar mais real do que o próprio real». Este aspecto está bem patente no excerto de A. Reis, que passamos a transcrever:  «(...) apareceu na minha aldeia, quando eu era miúdo um cinema e, naquela altura, os filmes eram de capa e espada, filmes do Zorro. Pois bem, o Zorro foi o meu herói: recordo-me perfeitamente que quando estava a brincar tentava imitar o Zorro. (...) Quer dizer, se nós tínhamos um sistema simbólico, chamado tecnicamente  pelos eruditos de páleo-simbolismo, onde está conglomerada a experiência da primeira infância, agora há um outro sistema páleo-simbólico que se sobrepõe a este e que é um sistema pelo-simbólico inculcado tecnicamente. (...) As imagens vão fomentar (...) representações que estão impregnadas de influência social e tais representações sociais vão sofrer um processo de ancoragem, ou seja, materializam-se, tornam-se modelos reais susceptíveis de imitação[7]».

A sucessão de videogramas televisivos foge geralmente à ordem cronológica e às coordenadas espácio-temporais com que fomos habituados a pensar. Frequentemente o videograma inverte ou altera todas as coordenadas normais, subverte a própria realidade, o / 64 / imaginado sobrepõe-se ao próprio real e a sucessão vertiginosa de imagens e de sequências provoca uma sobrecarga informativa impossível de ser assimilada

«... A vertigem da sucessão de imagens e sons configura uma apreensão momentânea e descontínua, a que se associam vagos pensamentos esboçados e difusos raciocínios inacabados[8]

Constituindo um poderoso divertimento, os meios de difusão audiovisual, muito especialmente a televisão, constituem simultaneamente um agente transformador da espécie humana:  «(...) Os media são o mais poderoso divertimento de toda a história humana. Mas, divertindo-se, o homem transforma-se, tanto e talvez mais do que trabalhando. Porquê então não nos perguntarmos se as fábricas do fantasmagórico audiovisual não se tornaram os locais privilegiados de uma nova metamorfose da humanidade? Seja como for, é isso que temos de tentar estudar (...) para aceder às condições de domínio dessa produção do imaginário, prestes a tornar-se uma nova produção do homem[9]

Não é por acaso que a televisão é frequentemente encarada como uma potencial fonte de perigo e de transformação, susceptível de se tornar um factor de isolamento e, sobretudo, de constituir um factor de perigo para as gerações mais novas, suscitando artigos de alerta sobre os seus perigos, como é o caso do texto que passamos a transcrever:

«Os americanos estão perturbados. Acabam de se aperceber que a televisão, essa boa velha ama electrónica, a quem confiam os filhos desde há mais de um quarto de século, os torna seres introvertidos, inexpressivos, ilógicos, inaptos para a vida escrita, para a leitura, para a concentração e rebeldes a todo o espírito competitivo (...).

Outrora, insurgiam-se exclusivamente contra a má qualidade dos progra­mas, a sua violência, o conteúdo e a frequência das mensagens publicitárias. Actualmente, começam a preocupar-se com a enorme quantidade de emissões engolidas por uma clientela particularmente receptiva e vulnerável. E a incitar os pais a vigiarem mais rigorosamente o seu consumo. De facto, a maioria tem dificuldade em carregar no botão que lhes trará, como por encanto, o silêncio, a calma e o tempo livre para se ocupar de outras coisas, em vez de permanecer ali anichada, reduzida ao silêncio e à imobilidade (...)[10].

Reflexões parecidas sobre a influência negativa da televisão encontramo-las também em Vergílio Ferreira , relativamente à vida portuguesa na década de 1970. São interessantes a este respeito as palavras deste autor, que passamos a transcrever[11]:

«17-Agosto (quarta). É espantoso como a TV domina o país. Um folhetim de literatura digestiva, a Gabriela , e um concurso de passatempo, a Cornélia , condicionam o pensar, o sentir, os motivos das conversas, os horários domésticos, os horários comerciais, o próprio interesse político. Às horas dos dois programas, toda a vida portuguesa se suspende. Que se passa noutros países? Lembro-me de que há anos um programa fantástico de Orson Welles sobre uma «invasão dos marcianos» lançou o pânico em Nova Iorque. Mas a TV terá em França, por exemplo, o mesmo impacte? Não se trata apenas do império da «imagem», trata-se de uma disponibilidade total, de uma passividade do espectador. Sem ideias, sem projectos, sem mitos, um programa televisivo emprenha logo / 65 / a imaginação de quem o vê. Como uma mulher sem homem e na força da fecundação, a semente que cai dá logo gravidez. Meu país desequilibrado dos nervos.»

Todavia, nem tudo é negativo nos mass-media e, no campo pedagógico, televisão e vídeo começaram em breve a ser encarados como poderosos auxiliares educativos. No continente americano, enquanto a rádio educativa começa a declinar, a televisão educativa leva a uma clara expansão da tecnologia educativa. Em 14 de Abril de 1952, a Comissão Federal de Comunicações (Federal Communications Commission) estabelece um total de 242 canais televisivos, destinados exclusivamente a fins educativos, embora na altura houvesse opiniões favoráveis e discordantes acerca do valor educativo da televisão.

Entre 1955 e 1957, surgem no continente americano os primeiros trabalhos de R. Lefranc, com carácter científico, procurando comparar o ensino directo com o ensino através de circuitos fechados de televisão, tendo chegado à conclusão que os resultados em termos de eficácia eram praticamente equivalentes.

Em França, o emprego da rádio e da televisão só são tidos em conta como recursos educativos em 1962, distinguindo os educadores, relativamente à televisão, «ao nível do ensino público, a televisão escolar (ou de ensino), a televisão universitária, a televisão educativa e a televisão cultural, de objectivos cada vez mais amplos.[12]»

Em 1963 é levada a efeito a experiência de ensino televisivo no Colégio Marly Le Roi, perto de Paris, tendo como principal objectivo utilizar os novos recursos tecnológicos no campo educativo, utilizando um sistema de televisão em circuito fechado, que serviu para o lançamento das bases de uma pedagogia da televisão. Entre as diferentes conclusões, a mais significativa foi a de que a televisão não constitui alternativa à deficiente preparação dos docentes.

Cerca de 1965, havia ao todo, segundo Dieuzeide, 9 mil receptores escolares de televisão em França. O mesmo autor, relativamente à televisão como recurso educativo, lembra que as mensagens difundidas pela televisão «apresentam características estéticas e pedagógicas próprias de uma difusão instantânea generalizada (...) tais como a presença, a proximidade, o carácter humano, a autenticidade, o carácter de imediação, de actualidade, de novidade, a autoridade da mensagem provinda de um algures longínquo e organizado», possibilitando uma recepção colectiva cómoda.

Em Portugal, a televisão como recurso educativo extensivo a todo o território nasceu legalmente em 1964 e, apesar das críticas várias que lhe foram feitas, a Telescola desenvolveu um processo inovador, constituindo pela primeira vez no sistema educativo português um curso escolar estruturado com base num dos sistemas de difusão mais importantes do nosso tempo, surgindo como precursora da unificação do ensino liceal e técnico.

 / 66 / Por parte dos alunos, segundo informações colhidas em António Moderno, há uma adesão favorável à televisão por diferentes motivos, entre os quais uma melhor compreensão do que é apresentado, menor distracção, melhor acompanhamento das aulas e melhor qualidade do ensino.

Embora actualmente, salvo casos muito pontuais e esporádicos, a televisão não seja utilizada pelos professores em situações de difusão directa dos programas, a possibilidade actual de seleccionar e gravar programas com interesse por meio de sistemas de videogravação para sua posterior utilização, integrados em estratégias de ensino-aprendizagem, abre novas perspectivas ao vídeo no campo pedagógico. Além de se tornar possível a constituição de uma mediateca com programas de interesse cultural e educativo, os sistemas modernos de gravação, bem como a enorme facilidade de utilização das modernas câmaras de vídeo (as camcorders), cada vez mais compactas e de fácil utilização, transformam o vídeo num dos mais versáteis e poderosos recursos educativos, abrindo perspectivas pedagógicas totalmente novas. Enquanto os videogravadores de salão permitem a integração de materiais já elaborados nas estratégias das aulas, a câmara permite que alunos e professores passem da posição de receptores à de produtores dos próprios programas, pondo em jogo e desenvolvendo todo um conjunto novo de situações, quer de relação social, quer de construção do saber, na medida em que obriga a uma participação activa, interessada, de todos os elementos do grupo e ao desenvolvimento de capacidades diversificadas, que ultrapassam o âmbito disciplinar, englobando harmoniosamente as mais diversas áreas do conhecimento.

As potencialidades actuais dos sistemas de vídeo no ensino estão consideravelmente aumentadas pelo facto de ser possível passar das imagens limitadas do pequeno ecrã do televisor a grandes ecrãs, transformando a televisão num sucedâneo do cinema, graças à existência de videoprojectores altamente compactos de elevada qualidade, cujo inconveniente reside apenas no elevado preço, que os torna praticamente raros nos estabelecimentos de ensino portugueses.

Perante as potencialidades do vídeo e as dificuldades geralmente existentes de ordem económica, para já não falarmos da tradicional resistência dos professores à inovação tecnológica, torna-se pertinente saber até que ponto as escolas se encontram actualmente devidamente apetrechadas com estes novos recursos e em que medida os professores recorrem a eles numa perspectiva do ensino.

 


 [1] - O telefone foi inventado em 14 de Fevereiro de 1876 por Alexander Graham Bell e patenteado em 1877. Também Elisha Gray o inventou independentemente de Bell, mas só apresentou a sua patente duas horas depois de Bell o ter feito, pelo que juridicamente não teve qualquer efeito, ficando a paternidade do telefone atribuída a Bell.

 [2] - Para uma leitura mais completa do texto de Adriano de Paiva, de que transcrevemos um breve excerto, consulte-se:

Lopes da SILVA e Vasco Hogan TEVES, Vamos falar de televisão, col. Biblioteca Básica Verbo (Livros RTP), nº 29, 1ª ed., Lisboa, Editorial Verbo, 1971, pp. 9-15.

[3] - O eléctrodo é designado pelo termo técnico « cátodocátodo79 » e o feixe de electrões por « raio catódicoraio catódicoraio catódico ».

[4] - Adriano Duarte RODRIGUES, Estratégias da comunicação. Questão comunicacional e formas de sociabilidade, Lisboa, Editorial Presença, 1990.

[5] - Adriano Duarte RODRIGUES, op. cit., p. 43.

[6] - John BERGER, Modos de ver, Lisboa, Edições 70, 1982, p. 143.

[7] - Alfredo REIS, Escola e Mass Media. O Professor, Lisboa, 1990 b, 3ª série, Setembro, p. 39

[8] - Alfredo REIS, op. cit., p. 42.

[9] - Denis HUISMAN, Le dire et le faire - Essais sur la communication efficace, Paris, C.D.U. e SEDES, 1983, p. 196.

[10] - Adaptação livre de um texto apresentado em La Télévision, Ed. Hatier, Paris.

[11] - Vergílio FERREIRA, Conta-corrente (1977-79), 3ª ed., Lisboa, Livraria Bertrand, 1990, p. 103.

[12] - Vd. H. DIEUZEIDE, op. cit., p. 20.

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