Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996.

Funções da imagem



Tal como qualquer outro tipo de linguagem, a imagem pode desempenhar diversas funções, tendo em conta não só as suas características intrínsecas, como também a intencionalidade ou intencionalidades com que é utilizada e a maior ou menor quantidade de elementos que a constituem, susceptíveis de serem lidos e interpretados.

Enquanto forma de comunicação, podemos atribuir à imagem funções idênticas às que os linguistas atribuem à linguagem verbal[1]. No entanto, como forma de comunicação com características próprias, a imagem tem funções específicas que, tal como nos diz Santos Guerra, podem ser analisadas partindo de aspectos mais gerais para aspectos mais específicos. Como, no nosso caso particular, nos interessam as funções didácticas da imagem, serão estas que  / 40 / passaremos a analisar. Para as restantes, remetemos para a obra de Miguel Angel Santos Guerra[2].

Segundo diversos autores, as imagens têm sido analisadas quanto às suas funções, tendo em vista os aspectos relativos às metodologias de ensino e também à utilização[3] que delas se faz nos livros de textos.

Segundo Rodríguez Diéguez[4], a imagem desempenha oito funções no campo didáctico: função motivadora, vicarial, catalisadora, informativa, explicati­va, facilitadora redundante, estética e comprovativa.

A função motivadora é utilizada pelos professores e educadores em geral, quer com as imagens fixas, presentes nos manuais ou recorrendo a meios de projecção, quer com as imagens animadas,  recorrendo a sistemas de projecção em ecrãs (cinema e televisão).  Com elas pretende-se despertar a curiosidade e interesse dos discentes para os conteúdos cognitivos que vão constituir os objectivos da aula.

A função vicarial tem como objectivo permitir apresentar aos alunos, de uma maneira indirecta, elementos da realidade, que não podem ser observados in loco. Em vez do recurso à descrição verbal de determinados aspectos da realidade, susceptíveis de serem descodificados e deturpados pela fraca capacidade descritiva das palavras ou pela imaginação dos alunos, a apresentação da imagem do objecto permite uma captação visual das suas características, acabando a apresentação verbal que eventualmente possa acompanhar a observação da imagem por constituir um meio de orientação e de reforço daquilo que se observa.

A função catalisadora é frequente no ensino, utilizando-se a imagem como forma de provocar uma experiência didáctica, a fim de facilitar a aprendizagem, em virtude do poder que tem de reorganização do real. Esta utilização é antiga no ensino; já Coménio utilizava este recurso de organização artificial dos elementos através da imagem, para facilitar a aprendizagem, a análise e a relação entre os fenómenos.

A função informativa visa a apresentação de uma série de elementos, tendo em vista fornecer informações concretas sobre eles, coincidindo em parte com a função vicarial. A / 41 / imagem constitui o suporte didáctico principal, sendo as palavras um complemento ou reforço da informação, desempenhando um papel redundante.

A função explicativa é também desempenhada pela imagem, quando sobrepomos, por exemplo, diversos códigos numa imagem para explicar graficamente um processo, uma relação, uma sequência temporal. Esta função está presente quando recorremos a uma sequência de diapositivos para explicarmos as diferentes fases de funcionamento de um motor de explosão ou quando utilizamos montagens feitas com diferentes acetatos, que se vão sobrepondo, permitindo explicar os diferentes momentos de um diagrama ou as diferentes fases de montagem de um objecto complexo.

A função facilitadora redundante está quase sempre presente quando utilizamos imagens juntamente com texto, funcionando as palavras como complemento ou reforço da informação visual. Por exemplo, as legendas das imagens têm precisamente como objectivo esclarecer e reforçar os conteúdos apresentados, permitindo inclusive uma identificação mais precisa daquilo que é mostrado e fornecendo, por vezes, referentes situacionais não susceptíveis de serem descodificados só pela análise da imagem.

A função estética está presente em alguns manuais, tendo como objectivo torná-los mais atraentes, de leitura mais agradável, permitindo um melhor equilíbrio estético da mancha gráfica e ajudando a quebrar a monotonia da leitura. Mas esta função estética também pode estar presente numa imagem que nos cativa pela harmonia e beleza dos elementos apresentados.

A função comprovadora é também um dos papéis desempenhados pela imagem, permitindo comprovar de uma maneira mais concreta a exposição de uma ideia, de um raciocínio, de um relato, de um facto. Aquilo que se vê com os próprios olhos tem muito mais força e valor do que aquilo que se ouve dizer ou que apenas se leu.


[1] - As funções da linguagem verbal podem dividir-se em duas grandes classes: função interna (visando a aquisição da competência de comunicação e a aquisição de conhecimentos) e função externa (visando a exteriorização ou comunicação para outrem). Dentro da função externa, a linguagem verbal pode desempenhar um papel de mera exteriorização (o monólogo) ou ter em vista a comunicação para outrem (o diálogo), podendo desempenhar, neste caso, seis funções: emotiva ou afectiva (centrada no próprio emissor); poética (centrada na mensagem); apelativa ou conativa (centrada no receptor); informativa ou referencial (centrada no contexto ou referentes situacionais); metalinguística (centrada no código); e fática (centrada no canal de comunicação).
Vd. Roman JAKOBSON, Linguistique et poétique. In: "Essais de linguistique générale", Paris, 1993, pp. 213-223;
J. Herculano de CARVALHO, Teoria da linguagem, Coimbra, Atlântida Editora, 1970.

[2] - Miguel Angel Santos GUERRA, op. cit., capº 3, pp. 116-126.

[3] - Acerca do grau de utilização da imagem no ensino secundário, remetemos o leitor interessado para o trabalho de Isabel CALADO, Algumas intenções associadas à imagem pedagógica 79 , "Revista Portuguesa de Educação", Instituto de Educação da Universidade do Minho, Braga, 1993, vol. 6º, n.º 3, pp. 67-81. Incidindo numa população de professores do ensino secundário de uma cidade portuguesa, a autora procurou averiguar qual o grau de utilização da imagem nas aulas, de que modo é utilizada e quais as funções predominantes por ela desempenhadas.

[4] - Rodríguez DIÉGUEZ, Las funciones de la imagen en la enseñanza, Barcelona, Ed. Gustavo Gili, 1977.

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