Tal como qualquer outro tipo de linguagem, a imagem pode desempenhar
diversas funções, tendo em conta não só as suas características intrínsecas,
como também a intencionalidade ou intencionalidades com que é utilizada
e a maior ou menor quantidade de elementos que a constituem, susceptíveis
de serem lidos e interpretados.
Enquanto
forma de comunicação, podemos atribuir à imagem funções idênticas às
que os linguistas atribuem à linguagem verbal[1].
No entanto, como forma de comunicação com características próprias, a
imagem tem funções específicas que, tal como nos diz Santos Guerra,
podem ser analisadas partindo de aspectos mais gerais para aspectos mais
específicos. Como, no nosso caso particular, nos interessam as funções
didácticas da imagem, serão estas que
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passaremos a analisar. Para as
restantes, remetemos para a obra de Miguel Angel Santos Guerra[2].
Segundo
diversos autores, as imagens têm sido analisadas quanto às suas funções,
tendo em vista os aspectos relativos às metodologias de ensino e também
à utilização[3]
que delas se faz nos livros de textos.
Segundo
Rodríguez Diéguez[4],
a imagem desempenha oito funções no campo didáctico: função
motivadora, vicarial, catalisadora, informativa, explicativa,
facilitadora redundante, estética e comprovativa.
A
função motivadora é utilizada pelos professores e educadores em
geral, quer com as imagens fixas, presentes nos manuais ou recorrendo a
meios de projecção, quer com as imagens animadas,
recorrendo a sistemas de projecção em ecrãs (cinema e televisão).
Com elas pretende-se despertar a curiosidade e interesse dos
discentes para os conteúdos cognitivos que vão constituir os objectivos
da aula.
A
função vicarial tem como objectivo permitir apresentar aos alunos,
de uma maneira indirecta, elementos da realidade, que não podem ser
observados in loco. Em vez do
recurso à descrição verbal de determinados aspectos da realidade,
susceptíveis de serem descodificados e deturpados pela fraca capacidade
descritiva das palavras ou pela imaginação dos alunos, a apresentação
da imagem do objecto permite uma captação visual das suas características,
acabando a apresentação verbal que eventualmente possa acompanhar a
observação da imagem por constituir um meio de orientação e de reforço
daquilo que se observa.
A
função catalisadora
é frequente no
ensino, utilizando-se a imagem como forma de provocar uma experiência didáctica,
a fim de facilitar a aprendizagem, em virtude do poder que tem de
reorganização do real. Esta utilização é antiga no ensino; já Coménio
utilizava este recurso de organização artificial dos elementos através
da imagem, para facilitar a aprendizagem, a análise e a relação entre
os fenómenos.
A
função informativa visa a apresentação de uma série de
elementos, tendo em vista fornecer informações concretas sobre eles,
coincidindo em parte com a função vicarial. A /
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imagem constitui o suporte
didáctico principal, sendo as palavras um complemento ou reforço da
informação, desempenhando um papel redundante.
A
função explicativa
é também
desempenhada pela imagem, quando sobrepomos, por exemplo, diversos códigos
numa imagem para explicar graficamente um processo, uma relação, uma
sequência temporal. Esta função está presente quando recorremos a uma
sequência de diapositivos para explicarmos as diferentes fases de
funcionamento de um motor de explosão ou quando utilizamos montagens
feitas com diferentes acetatos, que se vão sobrepondo, permitindo
explicar os diferentes momentos de um diagrama ou as diferentes fases de
montagem de um objecto complexo.
A
função facilitadora redundante
está quase sempre
presente quando utilizamos imagens juntamente com texto, funcionando as
palavras como complemento ou reforço da informação visual. Por exemplo,
as legendas das imagens têm precisamente como objectivo esclarecer e
reforçar os conteúdos apresentados, permitindo inclusive uma identificação
mais precisa daquilo que é mostrado e fornecendo, por vezes, referentes
situacionais não susceptíveis de serem descodificados só pela análise
da imagem.
A
função estética
está presente em
alguns manuais, tendo como objectivo torná-los mais atraentes, de leitura
mais agradável, permitindo um melhor equilíbrio estético da mancha gráfica
e ajudando a quebrar a monotonia da leitura. Mas esta função estética
também pode estar presente numa imagem que nos cativa pela harmonia e
beleza dos elementos apresentados.
A
função
comprovadora
é
também um dos papéis desempenhados pela imagem, permitindo comprovar de
uma maneira mais concreta a exposição de uma ideia, de um raciocínio,
de um relato, de um facto. Aquilo que se vê com os próprios olhos tem
muito mais força e valor do que aquilo que se ouve dizer ou que apenas se
leu.
[1]
- As
funções da linguagem verbal
podem dividir-se em duas grandes
classes:
função interna
(visando a aquisição da competência
de comunicação e a aquisição de conhecimentos) e
função
externa
(visando a exteriorização ou
comunicação para outrem). Dentro da função externa, a linguagem
verbal pode desempenhar um papel de mera exteriorização (o monólogo) ou ter em vista a comunicação
para outrem (o diálogo), podendo desempenhar, neste caso, seis funções:
emotiva ou afectiva (centrada no próprio emissor); poética (centrada
na mensagem); apelativa ou conativa (centrada no receptor);
informativa ou referencial (centrada no contexto ou referentes
situacionais); metalinguística (centrada no código); e fática
(centrada no canal de comunicação).
Vd.
Roman JAKOBSON, Linguistique et poétique. In: "Essais de linguistique générale",
Paris, 1993, pp. 213-223;
J. Herculano de CARVALHO, Teoria
da linguagem, Coimbra, Atlântida Editora, 1970.
[2]
- Miguel Angel Santos GUERRA, op. cit., capº 3, pp. 116-126.
[3]
- Acerca do grau de utilização da imagem no ensino secundário,
remetemos o leitor interessado para o trabalho de Isabel CALADO, Algumas intenções associadas à
imagem
pedagógica
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, "Revista Portuguesa de
Educação", Instituto de Educação da Universidade do Minho,
Braga, 1993, vol. 6º, n.º 3, pp. 67-81. Incidindo numa população
de professores do ensino secundário de uma cidade portuguesa, a
autora procurou averiguar qual o grau de utilização da imagem nas
aulas, de que modo é utilizada e quais as funções predominantes por
ela desempenhadas.
[4]
- Rodríguez DIÉGUEZ, Las funciones de la imagen en la enseñanza, Barcelona, Ed. Gustavo
Gili, 1977.
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