Esta capela fica num pequeno largo, na extremidade do bairro da Beira-Mar, na confluência da Rua do Carril com a Rua de São Roque.

Para além de ter visto a luz do dia na centúria de Quinhentos, para além da sua singeleza, a pequena ermida, que nasceu sob a batuta de São Roque, nada tem de assinalável.

São Roque viveu na passagem do século XIII para o XIV; era oriundo de família nobre de Montpellier, cidade do sul de França, já conhecida dos portugueses de Duzentos, alguns dos quais frequentaram a sua Universidade como alunos ou professores. O culto deste santo espalhou-se por toda a Europa depois de 1414, quando o Concílio de Constança lhe atribuiu o desaparecimento de uma epidemia.

O nosso santo era também o padroeiro dos construtores de naus, dos carpinteiros, calafates e tanoeiros que, pelo século XVI, zurziam a vila com o tonitruar das suas alfaias, salpicando com a sua azáfama as margens da ria, do Rossio de São João ao Canal de São Roque.

A capela foi instituída pelo Pe. Gabriel Gonçalves Varela, em data incerta do século XVI e, se o topónimo São Roque é posterior à construção da ermida, e dela derivado, podemos afirmar que esta já existia em 1571, data em que o referido topónimo aparece num assento de baptismo da Paróquia de São Miguel.

Não se encontram documentos que nos permitam datar a permuta de São Roque por Nossa Senhora das Febres, na invocação da capela. De qualquer forma, ambos os oragos se relacionam com as pestilências que, periodicamente, atormentavam homens e mulheres da Beira-Mar. Talvez São Roque fosse perdendo autoridade, à medida que os carpinteiros de caravelas desapareciam dos canais citadinos. Os marnotos da Beira-Mar chamaram a si a fábrica da capela e porventura foram eles a entronizar a Senhora dos Febres, assim mesmo, no masculino, como então se dizia no bairro.

Ainda há poucos anos, no início de Setembro, a capela fardava-se de sécias e vestia-se de caiação nova, de ponto em branco, preparando-se para a festa de arromba. Era a festa dos marnotos, anunciada pelo repenicar estridente e nervoso da garrida. Respondiam os velhos marnotei-os: «Quem não tem, fizesse-o!...». O mesmo é dizer que quem não trabalhou, não seria agora que conseguiria recuperar o tempo perdido, pois, com as primeiras chuvas outonais, a feitura do sal teria de esperar, irremediavelmente, pelo ano seguinte.

Por toda a Beira-Mar, de Sá a São Gonçalinho, todas as festas têm, para além da componente religiosa, o indispensável elemento profano ou pagão. A Senhora das Febres não foge à regra.

No princípio do século XX, no largo fronteiro à capela, acotovelava-se o povoléu para assistir aos entremezes que ali tinham lugar, e que precediam as festividades religiosas.

Este mesmo cenário, noutra altura do ano, assistia a outras manifestações da crendice popular e dos respectivos ritos, como nos conta o saudoso aveirólogo João Sarabando.

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