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Muié – Relatos e Sentimentos

Poema negro

A distância que me separa de ti é longa e a necessidade de uma expansão é precisa.

A saudade aperta-nos, aperta-nos contra as paredes da alma.

O mundo aqui é diferente e nós temos que o tomar, como se nosso fosse.

É preciso encontrar algo.

É preciso uma fuga da paralítica situação que nos cobre.

Os quatro muros que habito, não chegam para abraçar toda a vida que sinto.

Lá fora estão as máquinas escuras, que fazem prazer.

No princípio, aquelas figuras negras, cobertas de trapos, pobres e tristes, faziam-me olhar de lado quando passava.

A catinga, com o seu odor pútrido, dava vómitos; mas com um olhar mais atento e consciente tudo em mim se modificou.

Sim:

Tudo continua pobre e triste; e os homens continuam a pisar e esmagar a ignorância e a inocência para obter algo que necessitam.

O homem, nunca deixará de ter a caridade numa mão e o egoísmo na outra.

Sentirá prazer de ver um ser humano, com os pés feridos, arrastando-se pelas pedras, deixando um rasto de sangue e suor e oferecer-lhe uma coroa de ouro, para que esse frágil corpo o ajude a chegar às culminâncias do prazer.

(1971)

 

 

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