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Muié – Relatos e Sentimentos

Mamba

O Mamba é um dos variados rituais dos usos e costumes deste povo e tem como finalidade, através das danças, gestos e o rufar dos tambores, afastar as maleitas existentes e as que poderão vir a acontecer.

◄ - A dança

Batuque, tantã, ritmo.

O som rítmico do batuque, criado pelas pancadas das rápidas e ágeis mãos negras, parece que emana de dentro do solo.

A mulher semi-nua dança com gestos significativos, afastando os espíritos maus do corpo dos doentes presentes.

É uma dança macabra, onde o povo deposita toda a vontade, para o restabelecimento do corpo e da alma.

Metade de uma cabaça, contendo um líquido para mim desconhecido, vai da mão da dançarina, para as mãos dos pacientes e todos bebem.

A mulher semi-nua –►

 

O ritmo aumenta e a dançarina contorce-se, dando grande movimento às omoplatas e ancas. Outra mulher passa-lhe com areia molhada por diferentes partes do corpo, indo a dançarina por sua vez massajar também com a areia o ventre de uma mulher grávida. Abraçada, costas com costas, massajava a grávida para que venha a ser feliz no parto.

Sequência idêntica é feita agora com uma mulher jovem, sendo-lhe massajados os peitos para que cresçam depressa.

Sempre dançando, a mulher vai ficando em êxtase e cada vez mais diabólica, acabando por entrar em transe, tal é a concentração no trabalho que está a fazer.

Agora com um recipiente de água à cabeça, vai rodopiando, enquanto junto dela, uma mãe levanta o seu filho nos braços, para que seja atingido pelas gotas de água que caem do centrifugador humano.

Agora a dançarina cai inanimada, sendo imediatamente levantada por outras mulheres.

◄– A mulher grávida

O seu corpo treme e parece que se desconjunta todo. Com os olhos em branco e o lábio superior muito subido é uma figura sinistra, mas já continua a dançar, sempre levada pelo som incessante do batuque. Os olhos também tremem e fitam-nos como se fossem olhos de uma louca. Gritos agudos e frases que não compreendo saem da sua garganta e cai no chão novamente, rebolando-se como um animal ferido.

Levanta-se e vai buscar quatro bocados de madeira de forma diferente, que distribui por outras tantas mulheres; estas pousam-nos no chão e passam repetidas vezes por cima.

A dançarina sempre em movimento apanha esses bocados de madeira e dispõe-nos ordenados numa cova regada com a bebida da cabaça. As mulheres envolvem-na por momentos e repentinamente laçam um grito como se fossem picadas por forte aguilhão e fogem do recinto.

Agora à volta da fogueira, a dançarina marcha com uma arma nas mãos. É acompanhada por um coro melodioso da assistência.

O batuque está agora a perder o ritmo depois de horas consecutivas a ressoar, acabando por se extinguir lentamente.

Acabou o Mamba.

◄– A dançarina marcha com uma arma
 

 

 

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