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Pouco depois da proclamação da
Republica, em Maio de 1911, fez-se a separação em dois Museus distintos
– Museu de Arte Antiga e Museu de Arte Contemporânea –do que até aí fora
o Museu único da Janelas Verdes.
Enquanto as inúmeras
preciosidades que constituem o fundo do Museu de Arte Antiga permaneciam
no velho palácio dos Alvitos, os quadros e esculturas posteriores a 1850
tiveram que demandar novo alojamento.
Esta divisão, um tanto
arbitrária, não correspondia a uma época bem definida, e menos ainda a
qualquer revolução na estética nacional – apenas conveniências de
aspecto administrativo, dentro das coisas de arte.
O professor Carlos Reis, que há
anos dirigia o Museu das Janelas Verdes, foi encarregado de instalar e
dirigir o novo Museu.
Pensou-se então em dar-lhe
instalação condigna, num edifício central apropriado. E o Palácio
Almada, a S. Domingos, que pareceu excelente para tal fim, só não foi
nessa ocasião adaptado a museu de artes plásticas porque o representante
da ilustre família não consentiu em vendê-lo ao Estado. / 6 /
À falta de melhor casa,
considerou-se a vantagem que haveria em levar para junto da Escola de
Belas Artes o diminuto conjunto de obras de arte das últimas gerações e
de o enriquecer com alguns quadros e esculturas apreciáveis, existentes'
no próprio edifício da Escola, trabalhos de alunos que depois se
celebrizaram, de pensionistas, provas de concurso, etc.
E, aconchegando-se numa sequência
de meia dúzia de salas térreas, que recebem luz de cima e onde durante
muitos anos se tinham feito as exposições do «Grémio Artístico», – as
antigas salas da Galeria Nacional de Pintura – era pouco depois aberto
ao público o Museu Nacional de Arte Contemporânea, nome por certo bem
pomposo para tão modesta pinacoteca.
Porque não só o local se
ressentia da franciscana pobreza do antigo convento aproveitado – a
própria colecção, forçosamente, representava muito incompletamente a
Arte Contemporânea e a sua evolução.
Ainda que quiséssemos
restringir-lhe a função, a ponto de a considerarmos somente como um
repositório da obra dos artistas dos últimos tempos, ainda assim essa
obra arrisca-se em muitos casos a ser mal julgada, de ante das espécies
expostas, além de que nem todos os que o merecem ali estão
representados.
Um bom Museu não se improvisa e
para o realizar é mister, além da inteligência e do senso crítico de
quem o dirige, algum tempo e bastante dinheiro. Ora a verdade é que a
dotação destinada a novas aquisições era, até há pouco, pela quebra da
moeda, limitadíssima.
No entanto, todos os anos algumas
compras, feitas em exposições públicas, leilões e vendas particulares,
continuavam a aumentar o recheio do Museu.
Alargaram-se as instalações com
uma sala de escultura, maior do que qualquer outra, mas já hoje
estreita, aproveitaram-se umas pequenas dependências para salas de
aguarela e pastel, utilizaram-se até os corredores e os vãos de escada.
Finalmente, reconheceu-se que o
velho casarão de S. Francisco, insuficientíssimo, não poderia continuar
a albergar dignamente o Museu dos tempos modernos. E é do conhecimento
de todos que dentro em breve Lisboa possuirá um edifício expressamente
construído para Museu, em sítio próprio, onde a sua alta missão
educativa se possa exercer frutuosamente.
Não nos demoremos, pois, a
lamentar-lhe as deficiências.
Actualmente – e por alguns anos
ainda – compõe-se o Museu de cinco salas de pintura a óleo, uma galeria
de escultura e duas pequenas salas de aguarela e pastel, mais um
corredor escuro em que mal se vêem alguns desenhos e estudos a lápis; à
pena, águas-fortes, etc.
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