CONTEMPORÂNEO de Luís XIV e de Luís XV, o rei de Portugal D. João V, cognominado o Magnânimo, rivalizou com aqueles soberanos em gosto e magnificência. Como eles em França, deu o nosso rei o seu nome ao estilo que caracteriza a arte portuguesa do século XVIII – o estilo D. João V tão tipicamente português como o estilo manuelino no século XVI.

Não sendo originais em absoluto, estes dois estilos nacionais revelam em parte a assimilação, pelos artistas portugueses, das duas mais fortes correntes da arte italiana que têm dominado na Europa, nos tempos modernos: o Renascimento e o Barroco.

O reinado de D. João V, vigésimo quarto rei de Portugal, foi uma época de elevada cultura intelectual, que se manifestou nas ciências, nas artes e nas letras, e em que foram chamados a colaborar sábios e artistas de renome em todo o mundo. Assim, vieram da Itália, da França e Alemanha os artistas mais afamados do seu tempo: arquitectos, músicos, pintores e escultores, que aqui fizeram escola e a cuja sombra se criaram, em artes menores, artífices de mérito notável: ourives, marceneiros, lavrantes de pedra, entalhadores, ferreiros, construtores navais, gravadores, tipógrafos, encadernadores, segeiros, estucadores, torneiros, e os debuxadores de graciosos silhares de azulejo, com tão elegante e simpático sentimento decorativo e que só por si caracterizam a época.

Desta arte nobre e rica, existem monumentos como o Convento de Mafra, a Biblioteca da Universidade de Coimbra, o aqueduto das Águas-Livres e / 6 / construções anexas, numerosos palácios e solares, e ainda pequenos exemplos da sua elegância em peças de ourivesaria, mobiliário, na talha dourada de inúmeras capelas e altares, portais de igrejas, painéis de azulejos, portas brasonadas de casas nobres, chafarizes citadinos ou à beira de remotas estradas, enfim tudo o que pôde salvar-se do Terramoto de 1755 e do espírito destruidor dos homens – que é de todas as épocas!

Além dos elementos de arte portuguesa, e para atestar a sumptuosidade da mesa do rei Magnânimo, o fausto das suas embaixadas, a gala dos cortejos reais e a pompa religiosa do Rei Fidelíssimo, conservam-se em Lisboa três conjuntos únicos no mundo: as mil e tantas peças da preciosíssima baixela Germain; os coches régios e os carros triunfais expostos no Museu Nacional dos Coches; e, na Igreja de São Roque, a maravilhosa Capela de São João Baptista com os respectivos paramentos e objectos de culto, executados na Itália por encomenda de D. João V, e que constituem a mais valiosa colecção da arte sacra italiana do século XVIII.

Foi nesta igreja de São Roque que os padres da Companhia de Jesus estabeleceram em 1555 a sua casa professa. O templo, reedificado por eles em 1563, não tinha nada de aparatoso.

Diz a lenda que o rei D. João V, notando a relativa pobreza em que nele se prestava culto ao Santo do seu nome, prometera aos padres jesuítas mandar fazer uma capela dedicada a São João Baptista, que fosse digna do Precursor e do seu real devoto. Para cumprimento desta promessa resolveu que o trabalho fosse executado em Roma, pelos primeiros artistas da época, segundo instruções minuciosas que de Lisboa eram enviadas para o encarregado de negócios de Portugal junto da Santa Sé, Manuel Pereira de Sampaio.

Transmitia estas instruções o jesuíta italiano Padre João Baptista Carbone, matemático insigne e pessoa de grande influência na corte portuguesa.

Pela longa correspondência, iniciada em Outubro de 1742 e conservada na Biblioteca da Ajuda, se verifica que o plano e execução da obra não foram deixados ao completo arbítrio dos artistas romanos: tudo lhes foi indicado de Lisboa – linhas gerais, medidas e detalhes; e vieram depois, para cá, para serem previamente examinados e criticados, os desenhos dos trabalhos a executar.

Recomenda-se que a obra seja «das mais ricas e do melhor gosto»; e, para que fosse rapidamente executada, «torna-se a recomendar muito que, salva a perfeição, riqueza e singularidade tantas vezes repetida, se lhe apliquem todos os meios de evitar demoras.»

Mas, ao mesmo tempo, se recomenda por várias vezes esta coisa inaudita: muita economia!

Dois arquitectos de valor, Nicola Salvi e Luigi  Vanvitelli, se encarregaram da encomenda régia.

Recebidos em Lisboa os primeiros desenhos, logo a carta de 6 de Fevereiro de 1743 é uma longa crítica, em que certamente interveio o grande arquitecto Ludovice, ao serviço da corte portuguesa.
 

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