Terras da Nossa Terra - Ano 21, Abril de 1985

 

Igreja do Convento de S. Domingos

Do núcleo primitivo do convento, hoje apenas se conserva a igreja, que funciona como Sé. A fundação do convento remonta a 1423, período de grande desenvolvimento demográfico da então vila de Aveiro. Das obras de beneficiação sofridas nos sécs. XVI e XVII, sobressaem, no entanto, as de 1719, data da remodelação da fachada, que lhe conferiu o aspecto barroco que hoje podemos ver. É esta dividida por pilastras, em três corpos. No corpo central, mais largo que os laterais, rasga-se o portal, formado por dois pares de colunas torcidas que sustentam lateralmente o entablamento direito. Nos ramos do frontão e no remate distinguem-se as figuras alegóricas da Fé, Esperança e Caridade. Por cima, abre-se um óculo central, tendo o entablamento um remate central e quatro pináculos.

O interior é de uma só nave com várias capelas laterais, sendo o coro alto sustentado por três arcos, assentes sobre pilares. A igreja foi recentemente remodelada na zona do transepto e cabeceira, sob plano do arquitecto portuense Abrunhosa de Brito. Em lugar dos tradicionais transepto e cabeceira foi criado um espaço único alargado. Neste espaço está colocado o magnífico cadeiral de duas ordens, decorado de tarjas e enrolamentos de acantos, do séc. XVII, e algumas telas de boa execução, feitas em Lisboa no início do séc. XVIII.

O altar-mor, do séc. XVIII (segunda metade), em madeira entalhada, dourada e policromada, não é o primitivo, posto que o que hoje ali se admira seja proveniente da demolida Igreja da Vera Cruz. A cúpula em estuque, que se encontra por cima da capela-mor, estava anteriormente numa das capelas laterais. Na ampliação deste espaço, teve-se em conta a boa iluminação do altar-mor e do cadeiral, tendo havido o cuidado de manter à vista elementos de construção das primeiras obras do séc. XV, em pedra aparelhada, contrastando com a alvura das paredes. Numa reentrância destes arcos primitivos está colocada uma imagem gótica em alabastro, de Nottingham, conhecida por Nossa Senhora da Escadinha.

Numa das capelas laterais, de arco ornado de pilastras caneladas e de cobertura lisa de abóbada de tijolo, guarda-se um retábulo de calcário, representando a Visitação, obra renascentista do final do séc. XVI, de feição coimbrã. Numa outra capela, vê-se um retábulo da mesma época, que inclui uma pintura de uma Senhora da Misericórdia, também no estilo renascentista de Coimbra. A capela do Senhor dos Passos, do séc. XVI (1560), é coberta por uma abóbada de pedra, de caixotões. Nas antigas capelas absidais, ainda se podem admirar belos tectos de caixotões de talha e de almofadas pintadas ao gosto renascentista, com motivos figurativos dum lado, e naturalistas no outro. Nesta capela (do lado esquerdo), vê-se um magnífico retábulo em talha, que guarda uma imagem maneirista, policromada, uma Senhora do Rosário, que assenta num trono interrompido, de decoração já do período concheado.

Um dos púlpitos data dos finais do séc. XVII, enquanto o outro, perfeitamente igual e simétrico, é de 1745; têm bacia de pedra e balaústres torneados, de madeira exótica.

Alguns panos de azulejo revestem a nave e algumas capelas; os da nave são de fabrico coimbrão, do séc. XVIII, e os das capelas são de fabrico lisbonense, do séc. XVII.

À entrada da Sé, na primeira capela à direita, foi colocado em 1979 o Cruzeiro de S. Domingos, dos finais do séc. XV, trabalho de oficina coimbrã, em calcário da região. É magnífico pelo seu valor iconográfico: a cruz, cujos braços rematam em flores de Iis e cairéis, assenta sobre um capitel decorado por cenas de Paixão de Cristo e por figuras alegóricas dos Evangelistas.

No adro ergue-se actualmente uma réplica do mesmo cruzeiro, feita em Dezembro de 1978.

 

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