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Igreja do Convento de S. Domingos
Do núcleo
primitivo do convento, hoje apenas se conserva a igreja, que funciona
como Sé. A fundação do convento remonta a 1423, período de grande
desenvolvimento demográfico da então vila de Aveiro. Das obras de
beneficiação sofridas nos sécs. XVI e XVII, sobressaem, no entanto, as
de 1719, data da remodelação da fachada, que lhe conferiu o aspecto
barroco que hoje podemos ver. É esta dividida por pilastras, em três
corpos. No corpo central, mais largo que os laterais, rasga-se o portal,
formado por dois pares de colunas torcidas que sustentam lateralmente o
entablamento direito. Nos ramos do frontão e no remate distinguem-se as
figuras alegóricas da Fé, Esperança e Caridade. Por cima, abre-se um
óculo central, tendo o entablamento um remate central e quatro
pináculos.
O
interior é de uma só nave com várias capelas laterais, sendo o coro alto
sustentado por três arcos, assentes sobre pilares. A igreja foi
recentemente remodelada na zona do transepto e cabeceira, sob plano do
arquitecto portuense Abrunhosa de Brito. Em lugar dos
tradicionais transepto e cabeceira foi criado um espaço único alargado.
Neste espaço está colocado o magnífico cadeiral de duas ordens, decorado
de tarjas e enrolamentos de acantos, do séc. XVII, e algumas telas de
boa execução, feitas em Lisboa no início do séc. XVIII.
O
altar-mor, do séc. XVIII (segunda metade), em madeira entalhada, dourada
e policromada, não é o primitivo, posto que o que hoje ali se admira
seja proveniente da demolida Igreja da Vera Cruz. A cúpula em estuque,
que se encontra por cima da capela-mor, estava anteriormente numa das
capelas laterais. Na ampliação deste espaço, teve-se em conta a boa
iluminação do altar-mor e do cadeiral, tendo havido o cuidado de manter
à vista elementos de construção das primeiras obras do séc. XV, em pedra
aparelhada, contrastando com a alvura das paredes. Numa reentrância
destes arcos primitivos está colocada uma imagem gótica em alabastro, de
Nottingham, conhecida por Nossa Senhora da Escadinha.
Numa das
capelas laterais, de arco ornado de pilastras caneladas e de cobertura
lisa de abóbada de tijolo, guarda-se um retábulo de calcário,
representando a Visitação, obra renascentista do final do séc. XVI, de
feição coimbrã. Numa outra capela, vê-se um retábulo da mesma época, que
inclui uma pintura de uma Senhora da Misericórdia, também no estilo
renascentista de Coimbra. A capela do Senhor dos Passos, do séc. XVI
(1560), é coberta por uma abóbada de pedra, de caixotões. Nas antigas
capelas absidais, ainda se podem admirar belos tectos de caixotões de
talha e de almofadas pintadas ao gosto renascentista, com motivos
figurativos dum lado, e naturalistas no outro. Nesta capela (do lado
esquerdo), vê-se um magnífico retábulo em talha, que guarda uma imagem
maneirista, policromada, uma Senhora do Rosário, que assenta num trono
interrompido, de decoração já do período concheado.
Um dos
púlpitos data dos finais do séc. XVII, enquanto o outro, perfeitamente
igual e simétrico, é de 1745; têm bacia de pedra e balaústres torneados,
de madeira exótica.
Alguns
panos de azulejo revestem a nave e algumas capelas; os da nave são de
fabrico coimbrão, do séc. XVIII, e os das capelas são de fabrico
lisbonense, do séc. XVII.
À entrada
da Sé, na primeira capela à direita, foi colocado em 1979 o Cruzeiro de
S. Domingos, dos finais do séc. XV, trabalho de oficina coimbrã, em
calcário da região. É magnífico pelo seu valor iconográfico: a cruz,
cujos braços rematam em flores de Iis e cairéis, assenta sobre um
capitel decorado por cenas de Paixão de Cristo e por figuras alegóricas
dos Evangelistas.
No adro
ergue-se actualmente uma réplica do mesmo cruzeiro, feita em Dezembro de
1978.
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