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Sérgio Paulo Silva, Que Saudades do Mar,  1ª ed., Estarreja, 1998, 16 pp.


E os dias, sempre muito iguais, foram passando. Enquanto a lua viajava ou quando as estrelas brilha­vam, o pequeno caracol abandonava o esconderijo e andava pelo jardim comendo pequenas folhas, pequenos rebentos de muitas plantas, que eram o seu sustento. Às vezes, ia até à horta, onde havia nabiças e as alfaces cres­ciam muito juntinhas no seu canteiro. Outras, via passar para o lado da escola, que tinha torres altas com sinos e um velho relógio, uma coruja enorme.

As minhocas davam abraços húmidos de amor e ouviam-se as rãs para os lados do charco que de dia tinha líquenes muito verdes.

O sapo, cada vez mais velho e feio, enchia a pança de insectos. E os ratinhos passavam a correr de um lado para o outro, sempre afadigados com qualquer coisa.

Belas eram essas noites!

Pareciam noites de festa, com o arraial cheio de caracóis e bicharada comendo, brincando...

Sim, largas e belas eram essas noites, que duravam até que nos loureiros o melro começasse a assobiar as suas lindas árias. Depois tudo regressava às suas tocas, aos seus esconderijos. Era a essa hora que o pequeno caracol voltava ao seu tijolo e de lá espreitava o jardim.
 

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