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Os povos da
Antiguidade Greco-Romana chamaram Museu ao templo das Musas; mais tarde,
esse nome viria a designar qualquer edifício consagrado às referidas
divindades, ou seja ao estudo das Belas Artes, das Ciências e da
Literatura. Contudo, já então, nessas épocas remotas, existiam colecções
públicas de objectos de arte. Os templos e os túmulos dos faraós do
Egipto e dos soberanos da Mesopotâmia continham colecções de objectos,
que ainda hoje causam a nossa admiração. Um típico conjunto de objectos
foi achado numa das residências de
Nabucodonosor II da Babilónia. E não se
esquece o
recheio valiosíssimo do túmulo de Tutankhamon, que reinou no país do
Nilo, nos meados do século XIV antes de Cristo – recheio esse que
actualmente pode ser visto no Museu Nacional do Cairo.
A Acrópole, em
Atenas, no seu complexo monumental, continha pinacotecas, onde existiam
séries de notáveis pinturas sobre madeira; e em Alexandria foi célebre o
museu construído por Ptolomeu Filadelfo, de que fazia parte a famosa
biblioteca. Roma, por sua vez, instalou em edifícios públicos as
pinturas e as esculturas, quer as
espoliadas aos
gregos, quer as
executadas por artistas locais; o imperador Augusto mandaria também
enriquecer alguns templos e lugares públicos. Além disso, os patrícios
embelezavam as suas casas e vilas com tais objectos – uns
autênticos, outros em cópia.
Durante a Idade
Média, as abadias e igrejas cristãs mais importantes converteram-se, de
facto, em verdadeiros museus de pinturas e de objectos artísticos,
obedecendo embora às finalidades religiosas de tais construções; no seu
próprio espólio, foram-se acumulando, ao longo dos séculos, preciosas
alfaias litúrgicas, ricos paramentos sagrados e livros artisticamente
decorados.
Depois, na época do
Renascimento, recomeçou o gosto pelas colecções e galerias de arte; o
exemplo dos Médicis em Florença e dos Papas em Roma seria seguido por
outros príncipes e governantes, que também criaram os seus museus. A par
deles, outros altos dignitários e ricos negociantes encomendaram obras a
uma multidão de artistas, criando opulentos núcleos – studiolos,
cabinets e gallerias – que, aliás, seriam dos primeiros museus da
modernidade, cuja visita era franqueada a estudiosos e amadores. Por
toda a Europa alastrou este culto faustoso, que outrossim chegaria a
Portugal no século XVI, com D. Leonor, D. Manuel I e D. João III, nos
paços reais de Lisboa.
O decreto da
extinção das Ordens Religiosas, em Maio de 1834, expulsando dos
conventos os frades que os habitavam, sem que deles pudessem levar
qualquer objecto, provocou a dispersão - senão mesmo a rapina – de parte
de um multissecular património artístico; por isso, logo se tomou
urgente a obrigação de acautelar os bens que haviam pertencido, durante
séculos, àquelas instituições da Igreja Católica. Nessa altura, as
medidas estatais, que procuraram suster o desaparecimento ou a
destruição desses bens, se trataram de salvaguardar uma boa parte,
apenas conseguiram a abertura da Galeria Nacional de Pintura, em 1868,
na Academia Real de Belas Artes, no antigo convento de S. Francisco
(Lisboa), com as colecções aqui alojadas desde 1835; suceder-lhe-ia, em
1884, o Museu Nacional de Belas Artes (ou de Arte Antiga), no palácio
das Janelas Verdes, ampliado após 1911 com novas construções,
projectadas. para o sítio onde fora o cenóbio carmelita de Santo
Alberto, cuja igreja se conservou. Depois, outros museus foram
/ 13 / surgindo em diversas
localidades do País.
Quanto ao Museu
Nacional de Aveiro, ele foi instalado no antigo Mosteiro de Jesus,
cenóbio de freiras dominicanas desde 1465 até 1874 e, seguidamente,
colégio de meninas até à
implantação da República, em Outubro de
1910. Por decreto
ministerial de 23 de Agosto de 1911, o histórico edifício conventual,
com suas dependências, e ainda o das carmelitas foram cedidos à Câmara
Municipal de Aveiro "a fim de neles instalar repartições públicas,
escolas, tribunais e quartéis de polícia"; mais
determinou o diploma que "a parte do
convento de
Jesus, contígua ao claustro e à igreja, a qual já foi declarada
monumento nacional, será destinada à instalação de um museu de arte
antiga e moderna, na medida do que for sendo necessário e sob a
administração da Câmara Municipal". Contudo, a Edilidade ver-se-ia
incapaz de levar por diante a iniciativa do museu, pelo que, em 7 de
Junho de 1912, o Estado chamou a si a sua instalação e conservação.
Apesar das obras que
sofreu para a sua adaptação à nova finalidade, conservou-se a zona
monumental (igreja e claustro, com seus anexos, incluindo o coro de
baixo, onde se encontra o túmulo de Santa Joana). Em extensão, o Museu
de Aveiro é o segundo do País, com salas de exposição, colecções de
pintura (de que se realça o importante núcleo quatrocentista, com a
tábua da Princesa), imaginária sacra, paramentos litúrgicos, talha
barroca dos séculos XVII e XVIII, etc.
Anexa ao Museu, mas
dele separada, encontra-se a igreja do antigo convento das
carmelitas, o qual fora construído no século
XVII por D. Brites
de Lara para sua habitação, que o legou ao sobrinho D. Raimundo de
Lencastre, quinto duque de Aveiro, para nele ser instalado o dito
convento. Aí também podemos admirar os belos retábulos dourados e os
painéis azulejares da época setecentista.
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S. Domingos – Relicário – em madeira,
séc. XVII. Pertenceu à Capela de S. Domingos e Santos da Ordem –
Convento de Jesus, Aveiro. |
Ao rabiscar esta
despretensiosa nota, apenas simplesmente quis evocar alguma coisa de
história e de arte, em particular no que se refere a Aveiro. Talvez ela
tenha o condão de criar maior interesse de muitos de nós pelos nossos
valores de antanho.
João Gonçalves Gaspar
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