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1. Foi comum os Museus usufruírem apoio de associações empenhadas
na investigação e na divulgação das suas colecções. Foi essa a
missão das Sociedades Arqueológicas, nascidas. no séc. XIX,
nomeadamente da Sociedade Arqueológica da Figueira da Foz
(1)
que se inspirou em princípios inovadores já experimentados na
Sociedade Carlos Ribeiro, do Porto, e divulgados através da sua
prestigiada Revista das Sciencias Naturaes e Sociaes
(2).
Na Sociedade Carlos Ribeiro trabalharam e participaram activamente
homens que, mais tarde, ficaram ligados, com grandes
responsabilidades, a Museus. Referimo-nos a António Augusto Rocha
Peixoto que foi director da Biblioteca Pública e do Museu Municipal
do Porto.
Nessa época, trabalhava na Figueira da Foz, intimamente ligada ao
Museu, a Sociedade Arqueológica. Procurava enriquecer as colecções
do Museu nomeando delegados nas freguesias que contribuíssem para a
conservação e descoberta do património local.
O elevado nível científico atingido e os trabalhos realizados
projectaram o grupo de intelectuais figueirenses. Foi fundada em
1898 com o nome de Sociedade Archeológica da Figueira e
operou com este nome, até 1903, data em que mudou de denominação
para Sociedade Archeológica Santos Rocha, em honra ao seu
principal dinamizador.
Na mesma época, em Coimbra, o Instituto de Coimbra, com o seu
Museu de Antiguidades, desempenhou um papel semelhante. Foram
seus consócios. distintos António Augusto Gonçalves, Aires de
Campos, Filipe Simões e Adolfo Ferreira Loureiro
(3).
Ambas as instituições se empenharam em produzir uma linha editorial
forte: a primeira com o Boletim da Sociedade Archeológica,(4) a segunda com a revista o
Instituto
(5).
É, pois, evidente que a ligação de associações científicas aos
Museus, relacionadas com a defesa e com a valorização do património
e, ainda, com outras acções de divulgação, tiveram raízes antigas,
evidentes no séc. XIX.
2.
Em. Portugal, já no séc. XX, apareceram diversos "Grupos de Amigos"
cuja finalidade foi apoiar os Museus na investigação, na conservação
e na comunicação das colecções. Muitas vezes os seus objectivos
estendiam-se ao património edificado ou, até mesmo, ao património
natural.
O grupo mais antigo nasceu ligado ao Museu Nacional de Arte Antiga
–
Grupo dos Amigos do Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa.
Foi fundado, sendo director D Dr. José de Figueiredo, a 27 de Abril
de 1912. Sofreu a primeira alteração dos estatutos em 1946, já com o
Dr. João Couto na direcção do Museu. Só, recentemente, em 1988, os
estatutos foram, de novo, revistos adaptando-se às Leis e aos novos
conceitos de Museu(6). É inegável a importância que os serviços
educativos do Museu de Arte Antiga exerceram sobre as outras
instituições congéneres, sob a égide do Dr. João Couto. Dado o
prestígio alcançado e o trabalho desenvolvido no campo da formação,
educação e investigação foram considerados modelos e, ao mesmo
tempo, escola
(7).
A necessidade do Grupo dos Amigos do Museu foi reconhecida por
João Couto. Frisa a operacionalidade do grupo do Museu de Arte
Antiga, focando as facilidades de aquisição
/
4 / "própria" de peças que, depois, foram oferecidas ao
Museu, ultrapassando os processos burocráticos. Realça o apoio que
sempre prestou aos directores. Enumera as palestras e exposições
efectuadas e especifica os trabalhos correntes editados
demonstrativos de uma editorial dinâmica
(8).
Entre 1926 e 1935, talvez por influência do Museu de Arte Antiga,
funcionou, em Viseu, um Grupo de Amigos do Museu Grão Vasco
que apoiava o director, Francisco António de Almeida Moreira, no
difícil papel de criar e dinamizar o Museu. Perdeu-se o rasto desta
associação e só, em 1985, renasceu o grupo
(9).
Em 1939, nasceu na Figueira da Foz o Grupo de Amigos do Museu
Municipal, implementado pelo professor António Vítor Guerra.
Tinham-se passado 29 anos sobre a morte do fundador do Museu, Santos
Rocha
(10).
Os objectivos expostos foram inspirados nos antigos princípios
averbados nos documentos da Sociedade, embora com visão mais
limitada. Tinha como funções a "propaganda, acréscimo ou inovação
das suas colecções e condigna instalação do Museu; concorrer para a
difusão dos estudos arqueológicos, artísticos e históricos, em
especial da região figueirense; procurar recolher no Museu, por
compra, troca, donativo ou depósito, objectos dignos de exposição;
organizar exposições de carácter arqueológico, etnográfico ou
artístico; fazer publicações atinentes à divulgação do recheio do
Museu; auxiliar .a investigação ou explorações que respeitem às
secções do Museu; promover sessões de estudo e de expansão cultural;
velar pela boa conservação dos monumentos arqueológicos, artísticos
e históricos considerados ou não nacionais".
Vincava, pois, toda a animação e divulgação do Museu.
Em 1942, fundou-se, no Porto, o Círculo Dr. José de Figueiredo,
ligado ao Museu Nacional Soares dos Reis
(11). As finalidades e
objectivos do círculo identificaram-se com os dos outros grupos de
amigos.
Distingue-se, positivamente, esta associação pela edição da Revista
Museu. Com constrangimentos que, algumas vezes, se reflectem
na sua irregularidade, tem o Círculo cumprido a difícil missão de
manter a publicação. Tem sido um importante órgão de divulgação do
Museu, das colecções nortenhas e de estudos museológicos de
qualidade.
Depois de 1974, nomeadamente nos anos oitenta, surgiram novas
associações ligadas aos Museus e outras, já antigas, foram
revitalizadas. Enumeraremos: Grupo de Amigos do Museu Grão Vasco
(estatutos de 1985), Liga de Amigos de Conímbriga
(estatutos de 1986), Grupo de Amigos do Museu dos C.T.T.
(estatutos de 1986), Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arte
Antiga de Lisboa (estatutos de 1988), Associação de Amigos do
Museu de Olaria-OLA (estatutos de 1988), Grupo de Amigos do
Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa de Braga
(estatutos de 1989), Grupo de Amigos do Museu da Cerâmica
(estatutos de 1989),
Associação de Amigos do Museu de AveiroAMUSA
(estatutos de 1992).
3.
Em 19 de Dezembro de 1991 fundou-se em Aveiro a Associação de
Amigos do Museu de Aveiro-AMUSA, tendo a escritura sido lavrada
em Março de 1992.
A finalidade expressa, nos seus estatutos, relata a promoção de
"publicações, conservação, e restauro de edifícios e obras de arte,
colaboração em actividades culturais, promoção de actividades
culturais, aquisição de obras de arte, promover a investigação no
sector artístico e promover a educação pela arte"
(12). Apesar de
todos os esforços desenvolvidos, em sete anos de existência, foi
impensável cumprir integralmente objectivos
/
5 / tão ambiciosos. Todavia,. a associação tem trabalhado no
sentido de atingir a estabilidade necessária. Participou nos eventos
preparatórios da formação da federação dos grupos de amigos.
O esforço despendido, imprescindível para a publicação deste
boletim, exemplifica as preocupações com a visibilidade do Museu
e da própria Associação.
Neste período de grandes transformações no Museu de Aveiro, que
implicam uma qualificação total do Museu, tanto no plano
arquitectónico como museológico, questiona-se sobre o papel do grupo
de amigos. Deseja-se uma associação forte, crítica, interveniente e,
ao mesmo tempo, solidária. O apoio à direcção é essencial. O diálogo
aberto e as sugestões sobre o futuro do Museu são indispensáveis e
desejáveis. Não se pense, contudo, que sugerimos ou preconizamos uma
identificação da direcção do Museu com a direcção da AMUSA. A
independência e a liberdade das duas Instituições têm de ser
.claramente defendidas. Do diálogo livre entre. as duas sairão as
soluções adequadas.
A direcção do Museu espera da AMUSA, em primeiro lugar, o
cumprimento das obrigações enunciadas nos seus estatutos e, além
disso, o reforço do diálogo no sentido de colocar o Museu de Aveiro
no plano que se deseja.
A AMUSA, naturalmente, espera que a direcção do Museu obtenha dos
Poderes Públicos todos os apoios necessários ao engrandecimento do
Museu. Espera, igualmente, uma direcção aberta e solidária, capaz de
compreender as suas aspirações.
Deseja ter, na direcção do Museu, um aliado forte e capaz de
defender e lutar pelos projectos da Associação a bem do Museu e de
Aveiro.
Isabel Pereira
_______________________________
NOTAS
(1) –
Sociedade Arqueológica da Figueira da Foz 18981910:
Centenário.
– Figueira da
Foz, 1999.
(2) –
Revista
das Sciencias Naturaes e Sociaes. – Porto:Sociedade Carlos
Ribeiro, 1890-1898, 5 voIs.
(3) –
António
A. Gonçalves: homenagem do "Instituto de
Coimbra
". –
Coimbra, 1946.
(4) –
Boletim
da Sociedade Archeológica Santos Rocha. – Figueira, 1906.1909,
tomo 1,1-10.
(5) –
Instituto: Jornal Scientífico e Letterario s/n – n.º 1 (Abril
1852). – Coimbra, Imprensa da Universidade.
(6) –
Esttatutos do Grupo dos "Amigos do Museu
Nacional de
Artte Antiga de Lisboa".
- Lisboa, 1988.
(7) –
COSTA, Maria Madalena Gagean Cardoso da – "Museus e Educação –
Contributo para a História e para a Reflexão sobre a Função
Educativa dos Museus em Portugal"; Coimbra, 1996, p. 125-287.
(Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação. Faculdade de
Psicologia e Ciências da Educação. Universidade de Coimbra.
Policopiado).
(8) –
COUTO, João – "O Grupo dos Amigos do Museu". – In Ocidente:
Revista portuguesa e mensal, Lisboa, 1964,312, v. 64, p.
197-198.
(9) –
Grupo de Amigos do Museu Grão Vasco: breve HistoriaI. – In Museu
de Grão Vasco. Boletim dos Amigos do Museu de Grão Vasco, Viseu,
1995, n.º 66, p. 7.
(10) –
Esttatutos do Grupo dos Amigos do Museu Municipal Dr. Santos Rocha
da Figueira da Foz. – Figueira da Foz, 1942.
(11) –
Círculo Dr. José de Figueiredo: Palácio das Carrancas. – In Museu
de Grão Vasco. Boletim dos Amigos do Museu de Grão Vasco, Viseu,
1995, n.º 66, p. 23.
(12) –
AMUSA, Associação de amigos do Museu de Aveiro. – In Diário da
República, III Série, 30 de Julho de 1992, p. 13628 –
(99).
AMUSA,
Associação de Amigos do Museu de Aveiro. – In Museu de Grão
Vasco. Boletim dos Amigos do Museu de Grão Vasco, Viseu, 1995,
n.º 66, p. 25.
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