Eu
tenho um computador onde são registados, no disco duro, todos os
acontecimentos da minha Vida.
Mas tenho também uma operadora que trabalha com ele e com plena
liberdade mete nele as disquetes que ela quer, por vezes, contra
minha vontade; e obriga-me a vê-las e a revê-las quando bem lhe
apetece. São autênticas peças de teatro: umas vezes, sou a
espectadora; outras, a figura principal.
Por vezes, tento recusar-me a ver estes "filmes" que já conheço de
cor. Mas ela insiste e desta luta nem sempre saio vencedora. Ela
brinca comigo e com os meus sentimentos. Descaradamente, ora me
proporciona momentos de prazer e alegria, ora de aborrecimento e, o
que é ainda pior, horas de angústia e sofrimento. E ela continua o
seu caminho, sem reparar no que deixa atrás de si ou daquilo que
semeia à sua volta. Indiferente e altiva, conhecedora do seu poder,
belisca aqui, empurra acolá, a este dá, àquele tira. Tudo lhe tolero
porque lhe pertenço. Só não lhe perdoo quando ela, fria e serena,
corta os fios que a ligam a alguém. Já me pregou muitas partidas
destas. E não lhe perdoo! E pergunto-me como é que ainda tenho
paciência com ela. Mas, por estranho que pareça, amo-a e faço tudo
para tomar mais fortes os laços que nos unem. Aceito as suas
traquinices e aparo as cutiladas que ela me dá. E continuo a amá-la.
Quando ela chega é uma alegria, mesmo sabendo que nem sempre é boa
de aturar. E, quando ela parte, esqueço o mal que me fez e choro por
ela.
Mas eu gosto muito desta operadora. E todas as manhãs, ao acordar,
quando vejo que ela está ali, bem juntinha a mim, é com imensa
alegria que eu lhe digo:
– Bom dia, Vida!
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