Não!
Não há mais nada para o jantar.
O dinheiro? Gastei-o na farmácia e não chegou. Não vês como são
caros os remédios do João?
O semblante dele carregou-se mais. Comem em silêncio. De vez em
quando, olhava-a com um olhar furtivo e desconfiado.
– Onde gastaste o dinheiro?
– Já te disse! N a farmácia.
Soou a primeira estalada. – Diz-me onde o gastaste!
Não respondeu. Já sabia que aquele era apenas um motivo para lhe
bater. Foi deitar a criança que, alheia à cena, dormitava já com a
cabeça pousada na mesa.
Já sabia. Era sempre a mesma coisa! Rara era a noite em que não
adormecia moída de pancada. Mas ele era amigo dela. Mas tinha aquele
vício de beber e depois batia-lhe.
Deixe-o ficar! – deram-lhe de conselho. E ia para onde? E dinheiro
para criar o filho? Não sabia o que havia de fazer. Recebeu em
silêncio as pancadas que a castigavam por ter nascido mulher.
Adormeceu mais uma vez, com o rosto molhado pelo pranto que já
conhecia o caminho até à almofada. Era assim todas as noites!
|