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DO "LIVRO DAS FORTALEZAS" DE DUARTE DARMAS
edição de 1943, fac-similada da de 1520/30

A FORTALEZA DE MÉRTOLA

Pesquisa de Elsa Lopes

Serpa – Vista tirada da banda do sueste. Clicar para ampliar.
Mértola – Vista tirada da banda do sueste

«A povoação de Mértola está situada sobre um alto cabeço que se ergue abruptamente sobre a confluência da ribeira de Oeiras com o rio Guadiana.  A sua posição era do mais alto valor militar, não só pelas condições topográficas, que a tornavam quase inexpugnável por todos os lados, à excepção do nascente, mas ainda por ser testa de navegação do rio Guadiana, comandar a sua travessia, e ser o porto e ponto de passagem natural e forçado das comunicações terrestres de todo o Alentejo e o Algarve e o mar.

Até ao primeiro quartel do século actual, as comunicações terrestres entre Lisboa e o Algarve faziam-se quase exclusivamente pela estrada de Beja e Mértola, descendo-se depois o Guadiana até castro Marim, e mais recentemente até Vila Real de Santo António.

A sua importância militar e valor político, comercial e económico, foram sempre grandes, desde a mais remota antiguidade, mercê de estar situada numa região de solo rico em produtos agrícolas e pecuários, e abundante em jazigos minerais (1), com saída para o mar.

A sua fundação perde-se na noite dos tempos e a primitiva fortaleza deve ter consistido num castro neolítico ou de povoamento. Quando, muitos séculos depois, ali chegaram os fenícios, já Mértola deveria constituir uma forte e grande citânia.(2)

Quando os romanos invadiram pela primeira vez a Lusitânia, encontraram em Myrtilis uma povoação florescente, digna de lhe ser concedida a honra e o privilégio de cidade municipal do antigo direito latino, a tal ponto que Júlio César lhe concedeu o título de Myrtilis Julia.

Ocupada a cidade de Mértola pelos romanos, era natural que a fortaleza fosse completamente remodelada segundo a sua arte castrense, transformando-se numa potente base de ocupação. Com a invasão dos bárbaros do Norte, no princípio do século VIII, Mértola ficou reduzida a um montão de ruínas.

Mértolaa – Planta da fortaleza. Clicar para ampliar.

Mértola – Planta da fortaleza

Os árabes trataram depois de reconstruir a antiga Myrtilis que, embora não ficasse com a vastidão e magnificência da nobre cidade romana, ficou sendo uma povoação importante, devido à sua privilegiada situação.

As guerras entre mouros e cristãos, nos séculos VIII ao XIII, também arruinaram muito a povoação de Mértola, que deixou de merecer o nome de cidade.

Mértola foi conquistada aos mouros por D. Sancho II, em 1239, segundo uns, e, segundo outros, tomada por D. Paio Peres Correia em 1242, o que parece mais provável.

D. Sancho II mandou restaurar as suas fortificações em 1239, dando-lhe foral com o título de Vila, e doando-a à ordem de S. Tiago nesse mesmo ano, com a obrigação de a povoar e prover à sua defesa.

Pouco se desenvolveu a povoação até 1250, em que D. Afonso III expulsou para sempre os mouros do Algarve. Foi então repovoada de novo.

D. Dinis mandou restaurar as muralhas, já muito arruinadas, e deu novo foral à viola, em 1287, no qual confirmava os seus antigos privilégios.

D. Manuel deu-lhe foral em Lisboa em 1 de Julho de 1512, mandando também reparar a fortaleza, que é a desenhada por Duarte Darmas.»

Mértola – Vista tirada da banda do nordeste. Clicar para ampliar.
Mértola – Vista tirada da banda do nordeste.

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(1) A vasta zona mineira que se estende desde o Rio Tinto, em Espanha, outrora pertença da Lusitânia e passa por S. Domingos, Aljustrel e Canal-Caveira até mergulhar no Atlântico, vem sendo explorada, embora com largas intermitências, desde os primórdios da idade dos metais. Nas várias vezes que percorremos a região compreendida entre os rios Guadiana e Chança até à serra de Ficalho, tivemos ocasião de encontrar abundantíssimos restos de explorações mineiras, especialmente de cobre, desde as mais simples e rudimentares até às mais completas e modernas, como são as de S. Domingos.

(2) Corre a versão que Mértola foi fundada pelos fenícios, à qual teriam dado o nome de Myrtilis. Ora Mértola já tinha muitos séculos de existência, e sofrido os embates da civilização de gregos e cartagineses, quando uma forte armada de fenícios fugidos de Tyro, por causa da tomada desta cidade por Alexandre Magno (História de Alexandre Magno por J. C. Droysen) aportou em 318 a. C. à embocadura do Guadiana, e, porque não lhe foi permitido ali estabelecer-se, subiu este rio, e veio fixar-se às vistas de Mértola, onde fundou uma colónia, que reatou momentaneamente as antigas relações económicas com os povos da Fenícia.

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