Índice do Almanaque.
 

Olho nos olhos, estes velhos

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Luís Filipe Maçarico

 

Olho nos olhos, estes velhos
De faces rugosas e mãos
Deformadas de tanto trabalho
Escravo, à torreira de um
Sol castigador.

Olho nos olhos, estes sábios,
Dizendo admiráveis palavras
Que parecem fotografias
De um tempo de carência,
Relatando dias assombrosos
Pegadas indomáveis
De teimosa dignidade,
A resistência!

Olho nos olhos, estes camponeses
Do sul, sentados no largo da aldeia,
Ao postigo da casa ou comendo o cozido
De grão, falando como se fossem pássaros,
Do ar de liberdade que passou por aqui
E eles sonharam para sempre!

E ao olhá-los, sinto que pertenço
A esta luta, que também são minhas
Algumas pegadas, no pó dos caminhos da revolta.
Cada poema é uma bandeira de esperança,
À espera do dia desejado. E cada gesto, a certeza
Que estes homens e mulheres
Não fizeram a caminhada em vão…

                                      4-6-2011

Luís Filipe Maçarico (poema incluído nas páginas 42 e 44 do Livro "Morada da Poesia, Poetas Celebram Manuel da Fonseca", edição da Câmara Municipal de Castro Verde, Novembro de 2011).

A fotografia dos desenhos de Manuel Passinhas, que ilustrou o livro referido, também é da autoria de LFM.

A fotografia com António Manuel, de Mértola, que me inspirou este poema, foi realizada pelo Amigo Ruas, do restaurante Tamuje.

Em 7 de Maio de 2011 António Manuel tinha 92 anos e meio. Era um alentejano feliz porque tinha o cérebro em bom estado, cheio de lucidez... Nasceu na Amendoeira da Serra, tem 2 filhos, 6 netos, 6 bisnetos e 1 "tirineto"... "De vez em quando, no Natal, na Páscoa, e nesses dias maiores, juntamos todos. Fazemos uma festa!" Este é o Alentejo que me agrada. Da conversa, da memória e da identidade. Sem eles, a paisagem era apenas uma tela, vazia. Alentejanos, Poema Maior!

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