Tenho
seguido com algum interesse, alguma curiosidade e certa nostalgia, as
notícias e demais parafernália que vai rodeando o tentame, absolutamente
correcto e bastante justificado, de conseguir que o “cante alentejano”
seja considerado património cultural da humanidade.
Creio
que o é já, independentemente de as entidades oficiais darem de maneira
formal o seu assentimento. Tal como o flamenco, maravilha musical maior
de “nuestros hermanos”, o cante alentejano é indubitavelmente uma das
fórmulas vocais e poéticas mais belas que a imaginação, caldeada por
anos de adequação intrínseca, deu à voz humana organizada num jeito
peculiar.
Gostaria de pensar, de concluir e finalmente certificar que este
movimento não está nem estará orientado – e muito menos capturado – por
intenções de sectores que, por radical conceptualidade que pelos anos
lhe tem sido própria, podem tentar colonizar as coisa que pareçam, ou se
lhes antolhem, fazer aumentar a sua influência na manobra social.
O que
no Alentejo, pelo tempo fora, tem sido por vezes demasiado usual…
PScriptum – O primeiro dos poemas seguintes foi escrito nos idos de
72 e publicado por Mário Cesariny num dos boletins do Bureau Surrealista
em 1978. Tinha sido cortado pela Censura quando busquei dá-lo a lume no
“Distrito de Portalegre”, então dirigido por José Heitor Patrão, algumas
semanas após a sua efectivação. O segundo constituiu a letra que o
cantor espanhol Miguel Naharro utilizou numa das suas composições
integrada no CD “Canciones Lusitanas”.
A obra
que ilumina este bloco, “Grande Interior Alentejano” – cartão para
painel de azulejo (210 cm X 200 cm), faz parte da colecção do eng.º
Vítor Lemos Julião e foi elaborado por Trepal, Ldª. |