Tem sido dito vezes sem conta, a tempo e o seu
contrário, com nuances várias e com diversos graus de agressividade /
intensidade, ao longo dos anos, que em todos os tempos houve gente
rasca, gente à rasca e gente que se desenrasca, bem como os inevitáveis
duplos ou triplos cruzamentos. Afirmação com que, genericamente e sem
banalizações, concordo.
É claro que ambos os núcleos se podem acentuar, mais
um ou mais o(s) outro(s), consoante o tipo de valores que enformem o
perfil de quem nos dirige / governa / manobra e mais ainda de quem os
dirige / governa / manobra a eles. Mas, para nossa desgraça, quem dirige
os destinos deste rectangulosinho, até parece fadário, a maior parte das
vezes enquadra-se no primeiro grupo. E isso (por nobres honremos bem as
excepções) desde o tempo dos tempos.
Antigamente ainda se ia escondendo, ou pelo menos
disfarçando/camuflando a silhueta a este indiscutível e incontornável
facto, coisa que hoje, por desbragado, não é mais possível.
Só que, hoje também, com o evento desta absurda e
incontrolável globalização, estamos sendo, simples e permanentemente,
formatados segundo o gosto e interesse(s) da gente rasca, cada vez mais
rasca, que se desenrasca e nos vai (des)governando. Isto é, se não nos
pusermos a pau tendemos a ser todos gente rasca e, cada vez mais, muito
à rasca.
Contudo, a gente rasca que se desenrasca passando por cima de tudo e de
todos, às vezes ainda me consegue espantar com a hábil criação de
casinhos em sucessão vertiginosa para camuflarem casos verdadeiramente
importantes e até escabrosos, ou pelo menos para desviarem a nossa
atenção da sua existência e importância. Mas deixa-me ainda mais banzado
o facto de isto ser feito absolutamente às escancaras e o povo
deixar-se, simplesmente, ir.
Por vezes assustam-me os pensamentos que me assaltam:
será que é a gajada rasca que nos (des)governa que é mais
inteligentemente perigosa do que eu pensava?... ou será que é o povo, à
rasca, que é mais bronco, manso e acarneirado do que eu quero acreditar
que sejamos?...
E assim se conturbam os meus dias. Cada vez mais com
a convicção de que o grande défice deste país é de valores, simples e
básicos valores, como por exemplo: o carácter, a honradez, a dignidade,
a vergonha, o respeito pelos outros, etc., etc. ....
Como consequência da nova formatação / desformatação
/ formatação que vamos sucessiva e permanentemente sofrendo, com receio
e sem querer saber a resposta, pergunto-me: como serão os filhos dos
nossos filhos e depois os filhos deles?...
Luís Jordão
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