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Com o sábio mote de Aleixo

 

Francisco M. Neves Jordão

 

Penso que seja um erro misturar pão com nobreza,

E a meu ver diria mais. É uma pura contradição,

Porque um nobre, tenho a certeza, (com certeza)

Não merece comer pão.

E se essa cáfila de cães fosse julgada pela razão?

Decerto que a pena capital não lhe seria uma surpresa.

Matá-los? — Sim, seria um bem para a natureza,

Porque, nessa sociedade parasita e canalha,

É pão roubado a quem trabalha,

O pão que sobra à nobreza.

 

Não pode aceitar-se, que esse pão produzido

Pelas tuas mãos, meu POVO, que tanto trabalhas,

Venha depois tão desavergonhadamente a ser comido,

Por essa enorme corja de canalhas.

E tu POVO, comes do teu pão, mas só as migalhas,

Que esses abutres depois de fartos deitam para o chão,

E assim te vão mentindo dando-te a ilusão,

Que sempre cumprirão tudo o que te for prometido,

Para que tu, POVO, possas ver o pão por ti produzido,

Repartido p'la razão.

 

Nunca aceites meu POVO o que eles te impõem e não adormeças,

Pois quando analisares o que eles são, então verás

Que quanto mais acreditares em tais promessas,

Mais migalhas do teu pão, espezinhado por eles, comerás.

Pensa que, se neles acreditares, tu próprio contribuirás,

Para a tua subordinação, aumentando o poder e a riqueza

Dessa matilha de cães, que tanto te despreza,

Vivendo à tua custa, tal como sempre o fez outrora,

E nunca esqueças! — O que essa matilha depois de saciada deita fora,

Matava a fome à pobreza.

 

Se não fosse o peso da religião, que sem vergonha

Te esmaga, escondendo os crimes praticados pelos nobres e pelos seus,

Sem que nenhum governo a tais práticas se oponha,

Talvez que o que tu produzisses meu POVO te coubesse a" ti e aos teus.

E se um dia te libertasses das garras dos nobres, da igreja e de deus,

Para que formasses uma sociedade justa e livre, baseada na razão,

Onde só quem trabalhasse tivesse valor, aí então...

Verias, meu POVO, as tuas mãos laborando com mais vontade,

Poderia comer pão, livremente, toda a humanidade,

E ainda sobrava pão.

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