I
Do rosto que olha o Alentejo é o
corpo
mas não somente o corpo a árvore
figueira junto ao mar um pássaro
perto do coração
Trigo que escutamos e que vemos
antes de ser o pão
A mão que desvenda
o sítio exacto da alma
vegetal animal e mineral
em todos os caminhos
Para sempre
um país sob a luz menino imemorial |
II
Durante tanto tempo foste
o companheiro das coisas vivas
Terás de encher agora os teus
bosques ardentes
de neblina e silencio e animais sem
condição
E deverás olhar as coisas mortas
como se todas as manhãs elas
partissem
Tudo o que tens e que tiveste
outrora
a paz que em vão buscaste tantos
anos
nesse lugar fecundo ficará
Quanto oceano quanta sede quanta voz
na escuridão das searas que
amanhecem
Alentejo um pão cortado
na sombra dos candeeiros dentro das
casas desertas. |