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Revista Alentejana (2ª série) in memoriam. Um texto para memória, o Estatuto Editorial e 26 editoriais. Lisboa, 2011, 36 páginas.


Desculpem não falarmos de Natal

N.º 25 – Dezembro de 2002

                                                                    Venham, venham,

                                                                    aproveitem, é fartar vilanagem...

Para alguns, hoje, este País é o paraíso dos paraísos. É evidente que são poucos, como sempre, pois sozinhos (...meia dúzia) dominam a enorme/esmagadora maioria de todos os nossos recursos. Alguns aparentam nem sequer saberem bem como tão gorda fatia lhes chegou às mãos, sabem somente que até com o pai e o avô já foi assim. Manobram estes nossos recursos tudo e todos comprando, sendo corruptos e corruptores. Navegam com bordadas airosas e desfilam aparentando sempre “bondade”, “moral e bons costumes”, falinhas mansas de  “cónego Queiroseano”, bem como até com alguma “generosidade” e impante “verticalidade”. Anulam/esmagam quase todos aqueles que com rara coragem (ingénuos) os querem denunciar e pôr no devido lugar.

Outros, a eterna maioria, continuam sem sair da “cepa-torta”,

ora-caem-ora-se-levantam, também como o pai e o avô. Alguns também são corruptos, mas esses mais-dia-menos-dia vão engrossar a grande população das nossas cadeias, sem apelo nem agravo. Mas há ainda outros que julgam, sendo naturalmente deste segundo grupo, dele poderem sair tornando-se empresários, pequenos às vezes pequeníssimos, que com imensa facilidade vão há falência, boa parte das vezes não por incompetência mas porque dependem sempre, de uma maneira ou de outra, do primeiro grupo, que não lhes paga os serviços prestados ou paga-os tarde e a más horas. Como consequência, este pobre sonhador que julgou poder ser gente/furar o bloqueio, para pagar a quem deve (trabalhadores, fornecedores, etc...) recorre à banca que o come até às entranhas. Depois consequência-da-consequência fica a dever ao estado que,  através de penhoras e outras acções que tais, lhe tira o que já não tem, fazendo actuar a lei (a do funil), que no primeiro grupo (corruptos, corruptores, branqueadores de dinheiro, traficantes de influencias e de pessoas e de armas e de drogas...) é outra, recordo: anulam quase sempre quem a quer fazer cumprir.

Entretanto, de uns casos e dos outros vão desviando as atenções de todos através de camuflagens várias, tais como: baixa política, programação televisiva sem conteúdo mas espalhafatosa, com batoteiros (de batota e de batuta) habilidosos disfarçando com o seu vazio o vazio dos próprios programas, com piedosas missas, espampanantes inaugurações, promessas sem fim que nunca são cumpridas, futebol com fartura, etc., etc..

Pensamos que é demais. Como em outras vezes dissemos, apesar da muita gente séria existente, a hipocrisia e a desvergonha grassam já como se fossem uma coisa normal.

Sinceramente, pensamos que é assustador.

 

 
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