A EPA, como mostra a fotografia, tinha uma enorme área de
seca natural. Mas foi a primeira empresa, seguida da de João Maria
Vilarinho, a montar secadores artificiais, dos nórdicos da Félix
Peterson. Primeiro, com 4 túneis; depois, com outros 4, foi também
executado nas próprias oficinas, já que os motores Efacec e os
tabuleiros em madeira sucupira eram construídos na carpintaria, hoje já
obsoletos, pois a central de vapor era a nafta. Tinha imensos motores, o
que dava muita manutenção à oficina eléctrica, principalmente quando os
navios zarpavam para a pesca.
Há várias espécies de bacalhau: Gadus morhua (bacalhau-do-Atlântico;
Gadus macrocephalus (bacalhau–do-Pacífico) e Gadus ogac (bacalhau-da-Gronelândia)
e aponta-se ainda para uma quarta espécie, o Gadus chalcogramma (paloco-do-Alasca).
O seu valor nutricional é elevado, e, apesar de ter um baixo teor de
gordura, contém ómega 3, proteínas, vitamina D e B12, selénio, cálcio,
fósforo e ferro.
Na demolha, depois de as passar por água corrente, as
postas devem ser colocadas com a pele virada para cima, para reduzir o
tempo. A água deve ser mudada três vezes ao dia, sempre no frigorífico,
principalmente no verão. O tempo necessário varia com a classificação do
bacalhau, a saber:
* Bacalhau especial – 50 a 60 horas.
* Bacalhau graúdo – 42 a 48 horas.
* Bacalhau crescido – 32 a 40 horas.
Na secagem propriamente dita, muitos pensam que é “atar e
pôr ao fumeiro”. Na realidade, é bem mais complexo. Aos próprios
técnicos da Comissão Reguladora do Comércio de Bacalhau, que actuavam
como entidade fiscalizadora e auxiliavam neste trabalho, era dada
formação com um veterinário e um biólogo. O próprio Ministério da
Economia, através da Comissão Reguladora, publicava literatura a que
tive acesso, já em 1956. Além de se ter de respeitar uma humidade na
ordem dos 48%, a temperatura tinha de ser rigorosamente controlada, para
que o peixe não cozesse. Por outro lado, o peixe podia apresentar-se
“vermelho” ou “empoado”, já que a cor ideal será o marfim, pois que,
quando aparece demasiado cor de palha, está oxidado.
No caso do “Vermelho”, era considerado que possuía uma
bactéria halófila tóxico-infectante e era tratado com bissulfito de
sódio ou metabissulfito de sódio, em dosagens de ± 2% e ia a “corar” ao
Sol para se recuperar.
Já o “Empoado”, com pontos castanho-escuros, é sempre uma
colónia de Sporendonema. Era escovado e tratado.
Cura Amarela
– Antigamente, este era o bacalhau do fundo do porão,
mergulhado na salmoura que se ia formando e prensado pelos outros, à
medida que o porão ia enchendo, durante os meses de pesca. Chegado a
terra, era demolhado em água corrente e posto ao Sol, várias vezes até
apanhar a cura necessária, que se comia até em lascas cruas, como o
presunto. Agora, não sei como se faz em Portugal, mas sei que em Espanha
o chegam a pincelar com um produto para o “caramelizar”.
O tão falado Asa Branca era um tipo de bacalhau de excelente
qualidade, onde o peritoneu era translúcido. Agora, arrancam-lhe a pele
do preto e eu asa branca, só conheço a das gaivotas! |