João
Pires Simões nasceu a 19 de Junho de 1945, no bairro da Beira-Mar,
juntinho ao Canal de S. Roque, onde ouvia amiudadas vezes o sino da capela
do São Gonçalinho. Com 6 anos, a sua avó andava atrás dele, para que não
lhe pisassem as mãos ao apanhar as cavacas.
Teve sempre mais afinidade com os avós Paternos, que os Maternos eram da
zona de Águeda. Muito cedo começou a ir para a marinha de sal, com o seu
avô Ti João “Alemão”. A bateira, esse barco maravilhoso, era o
transporte utilizado. Mas dava trabalho, quando estava à querena para ser tratada.
Teve sempre uma relação com o canal e com a ria. Fazia navalhinhas com
os pregos do seu avô, que colocava sobre os carris do comboio, que ia
até ao “redondo”, no Canal de S. Roque. Pescava caranguejos no cais com um cordel e anda
desconfiado que foi concebido na proa da bateira! Mas esta é uma dúvida
existencial que já não consegue tirar, porque os Pais já faleceram.
A
Mãe era “doméstica”; o Pai, António “Alemão”, chegou a ser o Mestre das
oficinas de mecânica da Base Aérea de São Jacinto. Também ele não deixou
de passar (como era obrigatório!) pelas oficinas do Egas, voltando a
encontrar-se com ele, no Teatro Aveirense, onde era projeccionista.
Com 14 anos, João Pires foi 3 meses aprendiz de canalizador, o que agora
lhe dá muito jeito. Mais tarde trabalhou junto aos Bóias & Irmão, numa
oficina de reconstrução de baterias. Ao fim de dois anos, cansou-se do
«ácido sulfúrico» e foi trabalhar para o Francisco dos Santos Piçarra,
que viria a ser o berço da FRAPIL, onde se faziam, já nessa época,
máquinas eléctricas para a indústria naval e não só. Mais tarde, com 18
anos, ingressou na Empresa de Pesca de Aveiro.
Entretanto, como frequentava a EICA e era um péssimo aluno, pois só
pensava no futebol e lia histórias de “cowboys”, o “Psicólogo António
Alemão” entendeu que chegava de brincadeiras e convenceu-o a passar para
o regime de trabalhador-estudante.
No
meio disto tudo, apareceu-lhe a “menina das trancinhas”, que andara com ele
na Mestra. Claro que ela tinha outro estatuto, porque morava num
palacete que os avós, seduzidos pelo “sonho Americano”, tinham
construído a norte do canal de São Roque, mesmo encostadinho a um monte
de sal. Mas ela gostava dele. Veio a saber que gostava dele mesmo antes
de ele saber. Por isso não o incomodou não ter conhecido mais nenhuma.
Casar na capela do São Gonçalinho foi promessa dela, de que hoje se
orgulha. Mas teve de percorrer 6000 km! Sempre gostou de fazer as
vontades à mulher, embora reconheça que, «se não fosse a falta que nos
fazem, não nos fariam falta nenhuma»!
Teve três paixões na vida: o Trabalho; a Mulher; as Filhas e os Netos.
Fez o Curso de Electrotecnia e as Secções Preparatórias para os
Institutos Industriais, na EICA, e foi
ainda
ao Liceu fazer dois anos do Complementar, na área de
Ciências/Arquitectura.
Mobilizado para a guerra, foi para Angola como Sargento de Transmissões.
Não quis ser Oficial. Só gostava de usar a G3 para caçar.
Tinha como ambição tirar Engenharia, mas o Sr. Egas “não deixou”.
Trinta anos na EPA, onde terminou como chefe dos Serviços
Eléctricos/Electrónicos, aliado à experiência militar, deram-lhe o
Estatuto de ser Formador, na área de Electrotecnia e Telecomunicações,
certificado pelo IEFP/ANACOM, actividade que exerceu durante 21 anos.
Hoje, gosta de ler Jornais “que espremidos, não deitem sangue” e que
respeitem o acordo ortográfico de 1945. Gosta da História da Arte, tem
um Atelier de Pintura, que denomina “Atelier do Joca”, por ser assim
tratado pelos netos. Tem uma boa
relação com os pincéis. É um autodidacta. Tem a noção que qualquer um
pinta um quadro, mas só os génios os conseguem vender. Tem ainda o hobby
de “trabalhar”, tendo para isso montado uma pequena carpintaria em casa.
E a Astronomia também o apaixona.
Actualmente, procura adaptar-se à fotografia digital, pois considera a
fotografia uma Arte.
Gosta de música e assume-se fadista. Mas atenção, não é só fadista quem
canta o fado. É também fadista quem sabe ouvir o fado, hoje património
imaterial da Humanidade. Os poemas encantam-no e adora a sonoridade da
Guitarra Portuguesa.
Tem três filhas com formação superior e os netos são a sua última
paixão. O Bernardo é um espectáculo. Já gosta de atirar cavacas. Gosta
muito do “Joca”. E o Guilherme, ainda pequenino, está longe e isso “dói”.
Mas, agora descobriu que o Skype pode dar uma ajuda.
As
crónicas que figuram nas suas páginas são uma singela homenagem ao homem
e industrial que foi Egas Salgueiro.
Aveiro, 28 de Março de 2014.
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