Tive pena de não poder participar
nas cerimónias comemorativas da ordenação do Padre que hoje é o
Monsenhor João Gonçalves Gaspar.
Estava ausente de Aveiro na
circunstância e eu ainda não tenho o dom da ubiquidade. Mas, repito,
fiquei com pena. É que eu gostava mesmo de lhe dar um grande abraço.
Conheço-o de há muitos anos. Desde
os tempos em que eu comecei a colaborar, primeiro no CORREIO DO VOUGA,
depois no LITORAL, semanário este que, infelizmente, já não existe.
Lembro-me de uma primeira reunião,
num edifício ao lado da Igreja de São Gonçalo, quando me pediram para
ter um encontro com o Padre Manuel Caetano Fidalgo, por então director
do semanário diocesano CORREIO DO VOUGA. Iria jurar que também estava
presente o meu grande amigo, Monsenhor João Gaspar. E o que me foi
pedido foi que eu desenhasse um novo cabeçalho para o periódico e
passasse a orientar graficamente o jornal, mediante uma pequena
remuneração mensal. Tudo isto para além do meu horário normal de
trabalho, como funcionário de escritório de uma empresa de pesca, onde
começara a trabalhar logo que conclui o meu Curso Geral de Comércio.
Claro que aceitei o convite. Para além de ser uma tarefa que me
agradava, era uma forma de reforçar a ajuda à minha mãe e aos meus
irmãos mais pequenos. Eu teria os meus dezoito anos. Tinha acabado de
ganhar um prémio internacional de desenho promovido por uma Escola de
Artes norte-americana que se traduzia no direito a frequentar um curso
de arte comercial por correspondência. E essa tarefa no jornal
correspondia a uma aplicação prática dos ensinamentos que me iam sendo
ministrados.
Foi assim, na Gráfica do Vouga, que
eu comecei a relacionar-me mais de perto com Monsenhor João Gaspar. A
sua voz calma que nunca mudou e o seu trato que eu considerava e
considero verdadeiramente paternal fizeram de Monsenhor João Gaspar
muito mais do que um amigo. Por ele, conheci e convivi com o senhor
Dom João Evangelista, o inesquecível Arcebispo-Bispo restaurador da
Diocese de Aveiro. E depois com o Bispo, senhor Dom Domingos da
Apresentação Fernandes. E, ainda como colaborador mais esporádico do
Correio do Vouga, com o Bispo, senhor Dom Manuel de Almeida Trindade.
A certa altura, também comecei a
colaborar no semanário LITORAL, no seu suplemento cultural COMPANHA, a
pedido do seu director, o sempre saudoso Dr. David Cristo que tantos
de nós, jovens, influenciou. Uma das coisas que mais me agradava era
assistir às conversas que David Cristo travava com Monsenhor João
Gaspar. A diversidade e a profundidade dos assuntos tratados, muitos
deles versando sobre a História de Aveiro, eram uma delícia, eram
momentos encantatórios. Sei que lhes fiquei, por isso, a dever muito.
Ao Monsenhor a minha dívida continua a aumentar, felizmente.
Ficaria de mal comigo mesmo se não
contasse duas histórias em que nós dois nos vimos envolvidos. A
primeira: certo dia, o DIÁRIO DE AVEIRO publicou uma fotografia em que
o Monsenhor e eu aparecíamos juntos na inauguração de uma exposição de
arte. Legenda da foto: Monsenhor Gaspar Albino e o senhor João Gaspar
na exposição do fulano de tal na galeria dos Morgados da Pedricosa.
Foi a primeira vez que me vi promovido a Monsenhor.
Doutra feita, eu fora convidado por Monsenhor João Gaspar para
escrever e ler um texto sobre o Bispo senhor Dom Domingos, numa
póstuma homenagem no salão nobre do nosso seminário. As minhas pernas
tremiam como varas verdes. Estava presente o senhor Cardeal Patriarca.
Mas, como milagre, essa tremura desapareceu quando vi, sobre a estante
de onde ia falar, um folheto onde se podia ler, depois do título da
homenagem ao saudoso Bispo, o seguinte, logo a abrir o programa:
GASPAR ALBINO: BISPO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL. Era o cúmulo. Eu tinha
sido promovido a BISPO. Estava escrito em letra de forma. Não havia
dúvida.
Sabe-me bem lembrar isto tudo. E
quando nos reunimos na Comissão de Toponímia da nossa Câmara, é da
praxe tratarmo-nos por COLEGAS. Como é bom ser AMIGO DE ALGUÉM ASSIM.
Gaspar Albino
7 de Fevereiro de 2014
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