Uma coisa de que provavelmente
já
ninguém se lembra é a Feira do Outeirinho. É
natural que isso aconteça porque, bem vistas as coisas, a feira acabou
por finais da primeira metade do Século XX.
Era uma feira mensal. Realizava-se no Largo do
Outeirinho, junto da Igreja Paroquial. A primeira foi no dia 17 de
Fevereiro de 1889. A partir daí, tinha lugar no dia 17 de cada mês.
Porém, com o andar do tempo, como nas redondezas se realizavam diversas
outras nesse mesmo dia, a nossa foi perdendo vitalidade. Com a
finalidade de lhe dar novo fôlego, a Junta de Paróquia, na sua sessão de
5 de Fevereiro de 1905, resolveu mudar-lhe a data para o dia 14. A
primeira feira dessa nova data realizou-se em 14 de Maio de 1905.
Em 1 de Fevereiro de 1908 ocorreu o Regicídio.
Foi um acontecimento brutal e traumático a que se seguiu, cerca de 2
anos mais tarde, em 5 de Outubro de 1910, a implantação da República. As
lutas políticas, que resultaram dessas alterações profundas, tiveram
também sérias consequências no meio social da nossa Freguesia. Entre
elas, um agravamento das relações inter-pessoais que redundou em novo
período de definhamento da nossa feira, que acabou por deixar de se
fazer.
Anos mais tarde, numa sessão extraordinária da
Junta, em 27 de Dezembro de 1914, o vogal Casimiro dos Santos Madail
tomou a palavra e propôs que a Junta fizesse os esforços necessários
para se estabelecer uma feira, a fazer no Largo do Outeirinho, porque
isso era muito útil para o povo. O Presidente, Duarte Tavares Lebre,
achava a ocasião inoportuna para tal iniciativa, porque o povo da
Freguesia estava dividido em duas correntes políticas - o que, em seu
entender, prejudicaria a prosperidade da feira. Então, o vogal Manuel
Simões Morgado propôs que, por / 28 / meio da propaganda à feira, se
procurasse unir o povo e acabar com a divisão provocada por essas duas
correntes políticas. Acrescentou que seria muito útil que, para fazer
essa propaganda, se nomeasse uma Comissão em cada Lugar da Freguesia. A
proposta foi aprovada.
Em consequência, na sessão de 24 de Janeiro de
1915, a Junta decidiu convidar todos os lavradores a comparecer com os
seus gados e produtos à primeira feira, que se realizaria em 17 de
Fevereiro de 1915, continuando depois a ocorrer todos os meses no dia 17
de cada um.
Contudo, o entusiasmo inicial foi-se esbatendo,
a feira voltou aos poucos a definhar e acabou por morrer. Foi outra vez
restabelecida, após o final da Grande Guerra, por decisão tomada na
sessão da Junta de 6 de Julho de 1919. Mas também não durou muitos anos
e acabou de novo por deixar de se fazer.
Na sessão de 22 de Março de 1931 da chamada
"Junta Militar", foi deliberado "dar apoio à Comissão de Lavradores da
Freguesia que pretende restabelecer a feira que há anos, por vários
motivos, se não realiza". Marcou-se o reinício para o dia 17 de Abril de
1931. A Junta, nos prospectos de propaganda distribuídos na Freguesia e
nos lugares vizinhos, dizia conceder aos feirantes todas as facilidades
e não cobrar qualquer imposto que lhe fosse devido durante um ano. E, na
sessão de 3 de Abril de 1931, decidiu que a feira inicial, do dia 17
seguinte, fosse anunciada com foguetes e repiques dos sinos e que uma
Filarmónica tocasse no recinto durante a sua própria realização.
Na acta da sessão do dia 17 de Abril de 1932,
data do primeiro aniversário do restabelecimento da feira, a Junta
anotou que se congratulava "com o êxito que a feira tem sido, com
comparência de gente da terra e de fora".
Porém, com a II Grande Guerra (1939-1945), os
tempos mudaram. E no final da Guerra, que foram os meus tempos de
criança, não recordo que a feira ainda existisse. |