Toda a Terra, quem sabe se
todas as terras, é ou são mar imenso em que qualquer ilha pode cair e
fixar-se como mundo a pulsar vida.
E, por vezes, criar raízes e
esquecer-se de que é parte, à medida que vê ou sente medrar o que a
diferença.
E tanto como no meio do mar,
também as podemos encontrar nesse outro mar que a Terra é, tão
diferentes nela são, por vezes, os pedaços de alma, singular ou
colectiva, nadando por si ou levados pela enxurrada dos tempos ou dos
sentimentos.
Chegam a julgar-se cercadas
de terra por todos os lados e que a água que as isola e prende, também
lhes dá asas para o voo. São as ilhas da Terra!
São as ilhas do Mar!
São almas e todas diferentes
para que se igualem no mel ou no fel de qualquer tragédia que as irmane
no favo.
Esse, que as aprisiona,
torna-as livres para se sentirem presas à profundidade, molhada ou seca,
dos seus destinos.
E é nas suas gentes que se
encontra o real dessas âncoras vivendo o sonho de si.
Por isso as separei, às
minhas ilhas, em dois arquipélagos.
O primeiro, pu-lo no
Atlântico onde as almas, por mais salgadas, mais açoitadas são pelos
ciclones do Destino.
O segundo, pu-lo nesta nesga
de terra, debruada de Mar, como lhe chamou Torga e em que Tomaz Ribeiro
viu o jardim da Europa, em antecipação romântica.
As de um e outro mundo são
seara de gente, não de todo isenta dos joios que as tornam dolorosas.
Mas, nem por serem o que são
− quem sabe se por isso mesmo... − despertaram a minha sensibilidade
para as viver com a ficção a temperar a crueza real de todas elas, onde
nem sempre a beleza é o contraste da realidade envolvente.
Começámos pelas do Mar, já
que do Mar saiu a Vida, como querem alguns.
Iremos, depois, às da Terra,
para onde são atraídos os que se sentem sós quando, à sua volta, só vêem
o Mar imenso, na sua realidade telúrica.
Umas sem as outras, por mais
voltas que dermos, não passam de realidades falsas, de pedaços do mundo
que é o todo de que fazem parte.
Por isso assim entendi e,
separando-as, espero uni-las na realidade comum que a vida é. |