Entrou para os
C.T.T. e rapidamente ascendeu à categoria de Director de Serviços,
tendo posteriormente sido nomeado Administrador-Geral. Desempenhou o
cargo de Governador Civil de Aveiro, pela primeira vez, entre Abril
de 1954 e Janeiro de 1959. Retirou-se, então, por divergências com o
governo do Professor Oliveira Salazar. Foi alvo de importantes
manifestações de apreço, tendo-lhe sido atribuída, nessa época, a
Medalha de Ouro da Cidade. Voltou a ser chamado a ocupar o mesmo
cargo, em Novembro de 1968, quando o Professor Marcello Caetano
entra para o governo e exerce funções até Fevereiro de 1974. Em
Janeiro desse mesmo ano, é agraciado com a Ordem do Infante D.
Henrique, pelos serviços prestados. |
|
Foi administrador e
presidente do Conselho de Administração dos Estaleiros de S. Jacinto e
presidente vitalício da Fundação Carlos Roeder.
Viveu intensamente os
problemas do seu distrito, sempre determinado pela sua convicção de
aveirismo, termo e noção de certo modo criado por ele e pelo seu amigo
Eduardo Cerqueira. Essa sua dedicação à região de Aveiro fez com que
Daniel Rodrigues tenha escrito, no “Comércio do Porto”, «Evocar Vale
Guimarães é de algum modo evocar a história do distrito de Aveiro nas
suas últimas décadas, mais concretamente no último meio século.» Foi,
sem dúvida, o seu espírito tolerante e liberal que permitiu a realização
dos Congressos da Oposição Democrática, em Aveiro, e foi talvez esse
mesmo motivo que fez com que, em 1985, Mário Soares o convidasse para
mandatário distrital da sua campanha.
A morte surpreendeu-o
em 22 de Fevereiro de 1986.
ACTA DA REUNIÃO ORDINÁRIA DA CÂMARA MUNICIPAL DE AVEIRO, DE 11 DE
SETEMBRO DE 1959
O senhor
Presidente apresentou à Câmara a seguinte proposta:
Considerando que
o aveirense Exmo Sr. Dr. Francisco José Rodrigues do Vale Guimarães
ascendeu na sua terra a mais alta magistratura, exercendo de 7 de
Abril de 1954 a 29 de Janeiro de 1959 o cargo de Governador Civil do
Distrito.
Considerando que,
no desempenho das suas funções, realizou em todo o Distrito obra
política, administrativa e assistencial que muito contribuiu para o
seu maior prestígio, progresso e bem-estar das populações, que não
esquecem a sua acção, como o demonstram as repetidas e espontâneas
manifestações de simpatia e reconhecimento que por toda a parte lhe
foram e continuam a ser tributadas.
Considerando que
a favor das aspirações e interesses da cidade e do concelho de
Aveiro, para além das suas obrigações de Governador Civil, tomou
iniciativas ou desenvolveu diligências junto do Governo da Nação,
que já se concretizaram ou estão ou vão concretizar-se em
realizações da maior projecção, de que, em anexo se dá nota, embora
incompleta, iniciativas e diligências essas que vivamente
impressionaram a opinião pública deste concelho, que nunca conheceu
um tal estilo de actuação.
Considerando que
soube harmonizar os interesses políticos do Regime que com inteira
lealdade representou no Distrito, com a maneira de ser e as mais
altas tradições do nosso povo e da nossa terra, o que lhe granjeou a
maior simpatia.
Considerando que
após a sua saída do Governo Civil foi dirigida a esta Câmara
Municipal representação no sentido de ao ex-Governador Civil, Exmo
Sr. Dr. Francisco José Rodrigues do Vale Guimarães, ser concedida a
Medalha de Ouro da Cidade, representação essa subscrita pelo Prelado
da Diocese, autoridades civis e administrativas, Juntas de Feguesias
do Concelho, pelos Clubes, Associações, Colectividades e Agremiações
profissionais e culturais, recreativas e artísticas, e por muitas
centenas de Aveirenses de todas as classes, contando-se entre eles
figuras das mais representativas da vida aveirense.
Considerando que
a petição dirigida a esta Câmara Municipal traduz, de facto, o
sentir da maioria do povo da cidade e das suas freguesias, como o
têm revelado as manifestações de acentuado carácter popular que a
Sua Exa. têm silo prestadas sempre que para tanto se oferece
qualquer ensejo.
Tendo em atenção
as circunstâncias referidas, tenho a honra de propor que a Câmara
Municipal deste concelho conceda ao aveirense, Sr. Dr. Francisco
José Rodrigues do Vale Guimarães, a Medalha de Ouro da Cidade, em
sinal de reconhecimento e como justo galardão dos relevantes
serviços que prestou à cidade e ao concelho, como Governador Civil,
e, ainda, que a uma Praça ou Rua condigna seja dado o seu nome para
que assim melhor fique a perpetuar-se, no tempo, o muito que Aveiro
está a dever ao Sr. Dr. Francisco José Rodrigues do Vale Guimarães.
Mais tenho a
honra de propor:
a) Que a Medalha
de Ouro seja entregue a Sua Ex.ª em sessão solene promovida pela
Câmara Municipal:
b) Que, para
corresponder aos desejos já expressamente manifestados pela Comissão
que entregou a esta Câmara a referida exposição, a aquisição da
Medalha e seu estojo seja feita por meio de subscrição pública a
promover exclusivamente dentro do concelho de Aveiro.
Finalmente, tenho
a honra de sugerir que todas estas propostas sejam aprovadas de pé,
na presente sessão.
A Câmara, de pé,
e por unanimidade de votos, prestando homenagem ao ilustre aveirense
Sr. Dr. Francisco José Rodrigues do Vale Guimarães, deliberou
aprovar esta proposta e conceder-lhe a Medalha de Ouro da Cidade, a
adquirir por subscrição pública.
O Presidente da Câmara,
Alberto Souto
Os Vereadores,
Henrique Ramos
Pedro Ferreira
Humberto Leitão
José Mortágua
Amadeu Ala dos Reis
Severim Duarte.
|
O CORREIO DO VOUGA,
no número de
11-6-1960, anunciou,
na primeira página,
a homenagem nos seguintes termos:
HOMENAGEM
Vai a cidade cumprir,
na próxima quinta-feira, um nobilíssimo dever de gratidão. A homenagem é
da alma popular da nossa terra. Surgiu, espontaneamente interprete dos
sentimentos colectivos, a Câmara Municipal deu um belo exemplo.
O Dr. Francisco do
Vale Guimarães nasceu em Aveiro. E não soube nunca desprender-se destes
laços da família do burgo. Foi sempre um de nós, maior que nós, em
acrisolado carinho, em generoso interesse por tudo o que servisse o bom
nome, o desenvolvimento material e moral da terra e dos seus homens.
Depois, como Chefe do
Distrito que tem aqui a sua capital, continuou ainda fiel ao primeiro
amor e de amores se perdeu por tudo o que é nosso. A sua passagem pelo
Governo Civil, para além de largas benemerências que não podem
esquecer-se, teve o mérito de mostrar a magnanimidade do seu coração de
aveirense, sempre a saltar-lhe do peito para acudir aos clamores de quem
viesse bater à sua porta. Se tantos foram, tantos virão agora dizer-lhe,
em voz igual e comum, o preito agradecido e justo do seu louvor.
Por nós, nesta casa e
nesta obra, ao serviço de tarefas cujo alcance não se discute, sentimos
também a sua colaboração sempre pronta, generosa e activa. A qualquer
apelo, ele queria ser o primeiro, tanto na palavra como na acção.
Assim, nós estaremos
na homenagem que vai ser-lhe prestada.
Excerto do discurso proferido aquando da
entrega da Medalha de Ouro
por
Vale Guimarães.
De todos é sabido que
foram cerceados em larga medida os poderes dos Governadores Civis. Os
ministros passaram a ser, no domínio das suas pastas, os verdadeiros
orientadores.
Erro grave. O
ordenamento ao nível nacional, como é mister que seja, deve, no
pormenor, consentir certo grau de adaptação ao regional, tanto na ordem
política e burocrática como na ordem social, económica e de
melhoramentos. É que falta aos ministros a receptividade própria da
vivência gerada no contacto próximo, pelo que ao Governador Civil deve
caber esse papel, embora isso o obrigue a responsabilidades e trabalhos
de bem maior vulto.
Dentro desse
pensamento, esforcei-me por estabelecer colaboração lata com os
ministros. E fui bem sucedido na maioria dos departamentos do Estado,
com manifesta vantagem. Mas a virtude cabe aos seus respectivos
titulares, que revelaram a maior compreensão.
Por outro lado, à
colaboração, à amizade e à boa vontade de muitos, em Aveiro e no
distrito, se fica a dever a obra realizada. Saliento a acção das Câmaras
Municipais, dos organismos de assistência, dos serviços do Estado no
distrito, da União Nacional, dos deputados. Dezenas e dezenas de
autênticos valores que usaram da maior generosidade para comigo.
Gostaria de lhes referir, ao menos, o nome – se a lista não fosse tão
extensa. Assim, limito-me a uma saudação aos primeiros, o ilustre
presidente da Câmara de Aveiro; aos segundos, o distinto Dr. Fernando
Moreira; aos terceiros, esse exemplar servidor do Estado que é o Eng.º
Cunha Amaral e aos últimos, União Nacional e deputados, o Coronel Gaspar
Ferreira, figura de elevado recorte político e pela sua obra na
presidência da Junta Autónoma do Porto de Aveiro, de quase 3 décadas, um
dos propulsionadores do desenvolvimento da nossa cidade.
– oOo –
Finalmente a
orientação politica.
Sou de Aveiro e aqui
me eduquei. Conhecia assim perfeitamente a terra e o seu povo, bem como
as terras e as populações do distrito. Ninguém ignora ser ele permeável
a todas as correntes de opinião, dada a sua evolução e o seu elevado
nível social. Mas há um ideal que predomina, sobretudo na zona
ribeirinha: o ideal da liberdade. Para a maioria dos aveirenses, depois
da saúde, que agradecem a Deus, a liberdade é o maior bem de que podem
usufruir. Sabendo ser assim, era questão de consciência integrar a
actuação política ao gosto / pág. 80 / local, tanto mais aceitando, como
aceito, que só dessa maneira o Regime pode alargar-se e consolidar-se.
Assim, segui essa
orientação, embora enfrentando incompreensões, sem dúvida devidas à
obliteração que a segurança do dia de hoje faz criar e tem a sua raiz na
forte personalidade e inigualável prestígio do Chefe do Regime – Homem
extraordinário, mas sujeito como todos à lei geral.
Graças ao clima
político gradualmente criado dentro daquela orientação foi possível
manter Aveiro, no período conturbado da eleição presidencial de 1958, em
perfeita normalidade, o que foi causa de espanto em todo o Pais.
Concedeu-se, então, liberdade plena: fez-se questão de manter a força
armada alheia à vicissitude política, como convém e o exige o seu
prestígio. Era um ensaio, feito no momento mais difícil da vida do
Regime. Tudo correu, apesar disso, em impressionante ordem, respeito,
compostura. Nem para um dito mais contundente houve ambiente. Deu o
nosso povo magnífica lição de civismo. Demonstrou que sabe usar da
liberdade sem dela abusar. Alto exemplo, ainda há pouco recordado pelo
“Litoral”. E revelou o acto eleitoral, rodeado de decência, que da
orientação seguida foi o Regime o único e grande beneficiário. Lamentou
o Sr. Presidente do Conselho, no seu discurso de 30 de Junho, logo após
a eleição, que se não tivesse criado entre as forças situacionistas a
consciência da vitória. Em Aveiro foi diferente. Realizou-se até
grandioso almoço de confraternização, a que veio presidir – e nele
proferiu discurso que deu brado – o Conselheiro Albino dos Reis – figura
primeira do distrito e proeminente da Nação, a quem tanto e tão amigo
apoio fiquei a dever.
Ter podido exercer o
cargo de Governador Civil sem desrespeitar a grande tradição aveirense
representou para mim o maior prémio. É evidente que assim não podia ter
acontecido se o então e ilustre ministro do interior e especialmente o
Chefe indiscutível do Regime – que em muitos casos foi previamente
consultado – não tivessem dado o seu assentimento. Vai para Suas Exas o
melhor agradecimento.
– oOo –
Como manifestar o meu
reconhecimento?
Impossível!
Mas se alguma coisa
pode servir de princípio de retribuição seja o dom que faço ao meu povo
do melhor do meu afecto e a promessa de que esse que é um de vós, um
igual a todos, preso pelo coração à sorte das nossas terras e das nossas
gentes, há-de sempre acompanhar-vos na medida das suas parcas
possibilidades nas horas boas como nas más.
Para além desta
modesta retribuição, fica o estendal de tudo quanto de vós recebi, a
falar por si da vossa ilimitada generosidade.
Viva Aveiro.»
FRANCISCO VALE GUIMARÃES
Morte de proeminente figura política
«Francisco Vale Guimarães, dos mais
proeminentes políticos aveirenses da segunda metade do nosso século.
morreu no passado sábado, dia 22, a caminho de Aveiro.
Tendo ascendido ao lugar de Governador
Civil em 1954, aqui se manteve até Janeiro de 1959 e, posteriormente,
desempenhou as mesmas funções, entre Novembro de 1968 e Fevereiro de
1974. Nesta qualidade desenvolveu acção notável de moderação face a
pressão salazarista e marcelista, permitindo e apoiando os congressos
democráticos que aconteceram em Aveiro. com algumas reservas e
desconfianças de muitos, nomeadamente das cúpulas do poder central.
Figura destacada da Acção Nacional
Popular (ANP), soube manter, face a esta organização, um certo
distanciamento que a sua formação liberal impunha, acabando por merecer
o respeito generalizado de diferentes quadrantes políticos. Foram muitos
os cargos políticos que desempenhou ao mesmo tempo que outros de
responsabilidades diversas como administrador dos CTT, dos Estaleiros de
S. Jacinto, da Navalria, da Cerâmica Aveirense e presidente vitalício da
Fundação Carlos Roeder.
A cidade de Aveiro lhe ficou a dever
grandes benefícios e tal foi reconhecido outorgando-se-lhe a medalha de
ouro da cidade.
“Litoral” orgulha-se de sempre ter
contado com a amizade e a colaboração distinta deste homem ilustre.
Político de grande envergadura (era
licenciado em Direito) foi essencialmente defensor dos interesses
regionais, num vasto leque de perspectivas, sobressaindo nelas o seu
arreigado "aveirismo".
|
Natural de Aveiro, procurou fazer de
S. Jacinto um pequeno paraíso à beira mar plantado, para descanso da
vida de luta sem tréguas. Apesar de adoentado há alguns anos
(particularmente após o brutal embate de viação que visualmente o
afectou). Francisco Vale Guimarães continuou na cena política até ao
desenlace fatal, colhendo ainda recentemente uma extraordinária
vitória no apoio que deu ao novo presidente-eleito da República
Portuguesa, Dr. Mário Soares, de quem foi mandatário Distrital.
Por esta razão (empenhamento total
na campanha do seu candidato) terá adiado intervenção cirúrgica que
era a todos os títulos urgente. |
O seu funeral realizou-se na passada
segunda-feira, dia 24, pelas 16 horas, aqui comparecendo muitos milhares
de pessoas não só de admiradores e simpatizantes como também de
adversários políticos, certamente reconhecidos pela luta desenvolvida ao
longo da sua vida. Entre todas elas se viam muitas figuras de destaque
na vida nacional (caso do presidente eleito, Dr. Mário Soares) e local,
numa última homenagem àquele que foi, de verdade, o símbolo incarnado do
"aveirismo".
Foi uma jornada pública de grande
significado. Na hora da verdade, o reconhecimento dos aveirenses.»
Amaro Neves
O Dr. Vítor Mangerão, que era, na
época, Director-Adjunto do extinto “Jornal de Aveiro”,
escrevia após a sua morte:
UM DOS RAROS
Ele era um
Senhor; um dos raros que continuava a ser tão discutido que
sobrevivia a todas essas discussões. Por isso, quando voltava a
cidade, a sua silhueta vagarosa e distinta sobressaía de entre os
apressados anónimos e os lojistas vinham às portas cumprimentá-lo. É
que, cada vez são mais os chamados e cada vez são menos os que
merecem ser lembrados.
Digam, agora, o
que disserem, a memória destas décadas ficará, nestas terras,
marcada por tudo aquilo que à sua volta se disse a favor ou contra.
Há homens que, pela sua diferença, se transformam em símbolos e
referências obrigatórias. E numa região de tantas areias e águas
movediças, honra lhe seja prestada, porque as suas pegadas por aí
ficaram inscritas, um pouco por cada lado, sobrevivendo a todas as
marés.
Mas apenas
palavras e funerais, não. Que, a umas, leva-as o vento, os outros
misturam os amigos sinceros com os falsos escondidos. Parecer
aveirense e fácil é pouco: ser aveirista exige ser-se outra coisa.
Como muitos raros, ele sabia-o. E provou-o até ao seu derradeiro
discurso político.
Que ao menos, e
para já, antes que recomece a Primavera, o seu nome regresse à pedra
de uma rua larga desta cidade onde, finalmente, repousa. Todos
sabemos que ele é um dos raros que o merece. E o Dr. Vale Guimarães
de certeza que há-de gostar.
V. C. M.
|
Acrescentamos nós, agora. O Dr. Vale
Guimarães, de certeza, não gostou. Um nome numa rua, se quiserem numa
praceta, nós dizemos que foi num beco que nem sequer saída tem, é
tudo o que resta.
E já lá vão catorze anos após a sua
morte!
Foi numa tarde de chuva que decorreu o
funeral. Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 1986. Como muita gente então
dizia dos maiores, talvez mesmo o maior que alguma vez teve lugar entre
nós. Os aveirenses em peso, com a população de S. Jacinto à frente,
acompanharam o "pai do aveirismo" até à sua última morada. Curiosamente
no Cemitério Central, junto ao Homem que ele sempre citava nos seus
discursos. José Estêvão nunca deixou de ser a sua grande referência. O
destino – ou o que lhe quiserem chamar – colocou-os, para sempre, lado a
lado, em jazigos contíguos.
Mário Soares, que tinha sido eleito,
pela primeira vez, Presidente da República, cerca de um mês antes do seu
falecimento, ainda não tinha tomado posse do cargo. Mas isso não
invalidou que não se tivesse esquecido do Homem a quem tinha convidado
para Mandatário Distrital da sua candidatura. Quando tudo e todos o
"viam" a apoiar Freitas do Amaral, decidiu ficar ao lado de quem pensou
que reunia as melhores condições para ocupar o mais alto cargo do país.
A doença, que acabaria por o vitimar, não o deixou empenhar-se a fundo
em acções de campanha, mas Mário Soares, acompanhado de sua mulher,
esteve último adeus ao seu amigo. O préstito fúnebre saiu da Igreja da
Vera Cruz. Lugar onde tinha sido baptizado. Lugar onde tinha pedido para
/ pág. 84 / ficar em câmara ardente, quando um dia chegasse o fim.
A cerimónia em frente da Câmara
Municipal, com o Hino da cidade a ser tocado pela Banda Amizade e o
então Presidente Girão Pereira a colocar a bandeira sobre a urna, foi um
dos momentos mais chocantes. A chuva escondeu as lágrimas de milhares de
pessoas.
Aveiro chorava a partida de um dos seus
mais ilustres filhos.
Com a devida vénia, Vítor Mangerão,
Aveiro chorava a morte, aos 72 anos, de "um dos raros". |