BIBLIOGRAFIA

O ARQVIVO DO DISTRITO DE AVEIRO dará sempre notícia das obras à sua Redacção enviadas quer por autores quer por editores.

De harmonia com a prática seguida pelas publicações suas congéneres, fará também algum comentário crítico aos livros de que receba dois exemplares.


Arquivos de Angola, 2.ª série, vol. VII, n.º 30, Luanda.

Arquivo de Beja, voI. VII, n.os 3-4. Beja.

Das artes e da história da Madeira, n.º 8. Funchal, Madeira.

Mensário das Casas do Povo, n.os 64 a 66, Lisboa.

O Tripeiro, V série, ano VII, n.os 6 a 8, Porto.

Revista de História, n.º 8, São Paulo, Brasil.

*

Dr. G. SOARES DE CARVALHO − A geologia do baixo Mondego nos arredores de Coimbra (estado actual do seu conhecimento). Separata das Memórias e Notícias, n.º 29. Coimbra, 1951.

L'usure des galets et la granulométrie de quelques dépôts pliocènes du Portugal (Région entre Vouga et Mondego. − Proceedings of the third international Congress of Sedimentology, Groning − Wageningen, Netherlands 5-12 July 1951.

 

Visão da Serra-Salmos − por J. QUELHAS BIGOTTE. Coimbra, 1951.
     Voltada a última página deste volumezinho, encontra o leitor confirmada a conclusão a que muito antes porventura chegou, graças à expressão, umas vezes sem reticências, outras, um pouco velada, sem, todavia, parecer difícil a respectiva apreensão. E ela é que Visão da Serra constitui um todo orgânico religiosamente cantado ao jeito bíblico, com finalidade catequística, digamos assim, fundamentada em passos bem escolhidos dos Salmos da Escritura aos quais J. QUELHAS BIGOTTE vai, fazendo glosa adequada.
      Para tanto recorre ao coração − vaso de comoções contraditórias −, ao espírito de movimentos ascéticos, mas só depois de ver a sua e minha
/ 318 / Serra da Estrela com as alturas e abismos, com as neves e águas, com as tempestades medonhas e a solidão eloquente e, até, com o seu tipo turístico.
     Há, portanto, nesta obra uma dupla visão ou, se quisermos, a translação de uma, acto e objecto nos sentidos, para outra de natureza espiritual. A principio o autor vê a natureza morta e geográfica e nela a imagem reflectida do que o faz vibrar depois: o clima social, apocalipticamente semelhante ao observado, com olhos de lince, nas entranhas da Serra. Desta forma J. QUELHAS BIGOTTE vem alistar-se na poesia contemporânea altruísta, mas no arraial dos ansiosos por melhores dias a que nos levarão trilhos difíceis, de cascalho e silvedos serranos, percorridos, aliás, com amor divino.
      O apelo para as alturas, que o poeta nos dirige, tem forçosamente de ser, como é, retórico, por via do grandioso temático, do entusiasmo subjectivo e do desejo de vitória humana; por isso o impulso se encontra repetido aqui e ali nos mesmos nomes e frases idênticas que bem podem considerar-se, também, senões da formosura... emparelhados com outros da alçada dos revisores.
      Visão da Serra parece um baptismo poético, pois que o valor das composições é desigual no conteúdo e na forma. Assim, «O Poço do Inferno», «A Cabeça da Velha» e a segunda parte de «O Cântaro» − para não citar «A Tempestade» − lêem-se com prazer; outro tanto já não digo de «As Penhas» que é francamente destituída de poesia e farta de banalidades. Por sua vez «Altar da Pátria», que cerra o livro e assume categoria de proclamação nacional, merecia outro cuidadoso trato, menos discursivo e terra-a-terra; para isso J. QUELHAS BIGOTTE revela aptidões que deverá cultivar com estudo e arte, porquanto não carece de sensibilidade.
      Seja como for, Visão da Serra não deslustra quem lhe deu o ser para nosso gozo espiritual.

A. SARAIVA DE CARVALHO

Página anterior

Índice

Página seguinte