É
BEM conhecida a identificação que, pelo menos, desde
o século XVI até nossos dias, os eruditos têm feito de
Aveiro com Talábriga, antiga cidade lusitano-romana
que a obra designada por Itinerário de Antonino
menciona como existente na via militar romana de Lisboa
a Cale.
PLÍNIO (séc. I de C.), na sua
História Natural, não nos
deixa dúvida nenhuma de que na Lusitâni'a, ao sul do rio
Douro, existiu a cidade de Talábriga, a mesma do Itinerário. A
identificação referida baseou-se apenas nos textos dos
autores antigos, porque mais nenhuns elementos havia.
A interpretação que alguns investigadores deram ao texto
da obra Histórias dos Romanos (Romanorum Historiarum − De rebus hispaniensibus) do historiador grego APlANO DE
ALEXANDRIA (séc. II de C.) dá como tendo existido outra Talábriga ao
norte do rio Douro, na região dos Brácaros.
Apareceu, porém, em 1902 ou 1903 um elemento arqueológico importante referente a Talábriga; foi uma ara votiva de granito
dedicada ao génio Tiauranceaico, encontrada no
altar-mor da igreja paroquial de Esturãos (ou Estorãos), concelho de
Ponte de Lima, cedida algum tempo depois ao
Museu Etnológico Português pelo pároco José Fiúza da Rocha, em
consequência das diligências feitas pelo ilustre investigador e
arqueólogo Dr. FÉLIX ALVES PEREIRA.
A inscrição da referida ara mostra-nos que a ofertante
se chamava Camala e era talabrigense, isto é, da cidade de
Talábriga. Esta ara veio aumentar as divergências que havia
entre os eruditos acerca da situação de Talábriga ou do número
de cidades diferentes com esta designação.
Não pretendo nesta ocasião intrometer-me
no litígio,
mas apenas registar aqui alguns pormenores acerca da descoberta da ara de Esturãos.
A primeira pessoa que escreveu acerca desta ara foi o
Dr. FÉLIX ALVES PEREIRA, que a estudou e descreveu num
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40 /
artigo que publicou em O Archeologo Português, voI. XII,
ano de 1907, págs. 36 e segs., no qual afirma que a inscrição desta ara
dava-nos pela primeira vez, em monumento lapidar
autêntico, uma referência ao oppidum pre-romano Talábriga,
mencionado na literatura antiga e no Itinerário.
E mais diz: − «Temos, pois, em região dos Gróvios
nova lápide com onomástico pessoal de tronco celta; uma
observação porém devo fazer: é que não eram oriundos dessa região os dedicantes nela residentes, senão da Lusitânia».
Manifesta pois a opinião de que o
oppidum ou pólis
Talábriga de onde se dizia natural a dedicante era a cidade
do mesmo nome referida no Itinerário, e situada na Lusitânia,
Em 1909, o Dr. FÉLIX ALVES PEREIRA, voltou a referir-se
à ara de Esturãos no Almanaque ilustrado de Ponte do Lima. Foi por intermédio desta publicação que eu, em 13
de Abril de 1927, estando acidentalmente nesta vila, tive
conhecimento da descoberta desta ara. Este facto interessou-me muito, e logo resolvi ir ver o local onde tinha sido
achada a ara e informar-me das condições em que tinha sido encontrada.
A segunda pessoa que escreveu acerca da ara de Esturãos foi o sábio
arqueólogo Dr. JOSÉ LEITE DE VASCONCELOS
que em 1913 publicou a respeito dela um breve estudo de
carácter filológico e religioso, na sua importante obra Religiões da Lusitânia, voI.
III, págs, 199 e 200.
Assim, depois de transcrever a epígrafe, diz:
«Creio que é a primeira vez que nas inscrições peninsulares aparece precedido do substantivo Genius um nome
divino e adjectival em − aicus; como este Génio o é verosivelmente de uma localidade, corrobora-se assim de algum modo o que eu
havia escrito no voI. lI, pág. 312: isto é, que as divindades cujos
nomes acabavam em − aicus deviam ser Genii loci.»
Querendo efectivar a resolução que tinha tomado quando
li o Almanaque Ilustrado de Ponte do Lima, parti no dia seguinte de
Ponte de Lima para a aldeia de Esturãos, distante uns dez quilómetros desta vila, e lá obtive as informações que desejava.
Quando regressei a Aveiro, onde residia e onde resido
ainda hoje, publiquei no semanário aveirense "O Debate", n.º 230, 231 e 232, respectivamente de 5, 12 e 19 de Maio
de 1927, três artigos sob o título Talábriga e a ara de Esturãos, nos quais dava notícias da minha excursão a Esturãos
e das informações que aqui tinha obtido acerca da dita
ara.
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A estes artigos se referiu o excelente trabalho
Estação luso-romana do
Cabeça do Vouga, publicado em 1941 no Arquivo do distrito de Aveiro, voI. VIII, e em separata(1).
Porém, aquele jornal que já há muitos anos deixou de se publicar, é
actualmente de difícil aquisição, e como neste Arquivo já por vezes têm sido feitas referências à ara de Esturãos, vou reproduzir aqui os três
artigos mencionados, dos quais constam alguns pormenores da descoberta
desta ara. Antes, porém, declaro que não admito a identificação de Aveiro com o oppidum Talábriga.
TALÁBRIGA E A ARA DE ESTURÃOS
I
«Encontrando-me em Ponte do Lima a passar as férias da Páscoa de 1927, veio-me parar às mãos acidentalmente o
Almanaque
Ilustrado de "O Comércio do Lima", relativo ao ano de 1909 e que, a
páginas 273 e seguintes, inseria um artigo cujo título me chamou a
atenção: − Ara celtibérica da época romana − com o sub-título: −
Um novo
«Génio» − da autoria do Dr. FÉLIX ALVES PEREIRA. Para mais, na página em
que começava o artigo, estava intercalada uma figura, na qual entre
outras se lia a palavra Talabrigensis.
Tratava-se claramente de um monumento que dizia respeito à história de Aveiro,
− minha terra − nas relações que possivelmente tenha com a velha cidade de Talábriga, e foi com
verdadeira sofreguidão que li as dez páginas pelas quais
se estende o referido artigo, cuja doutrina é um resumo de um outro
artigo sobre o mesmo assunto, publicado em 197 em O Archeologo
Português, voI. XII, pelo mesmo autor.
O assunto é a descoberta de uma ara de granito, votada a uma divindade ibérico-romana,
na igreja paroquial de Esturãos, concelho de Ponte
de Lima, sendo ofertante uma mulher da antiga Talábriga. A descoberta
de tal pedra foi feita em 1902 ou 1903 pelo pároco da freguesia,
reverendo José Fiúza da Rocha, que a cedeu, passados alguns anos, talvez
em 1909, ao Museu Etnológico Português, onde se encontra hoje, sendo um
dos monumentos de maior valor arqueológico que tal museu possui.
Não quis, porém, o abade José Fiúza da Rocha ficar sem
uma lembrança de tal monumento, e, por isso, mandou tirar
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uma cópia exacta de gesso da face que continha a inscrição, para ficar
na igreja. Assim está descrita a ara em questão: − «O cipo é o maior que
possui o referido museu. A altura total é de 1,07 metros, e a largura a meio
do corpo é de 0,44. A epígrafe ocupa um campo de 0,62x0,44 m e os
caracteres têm de alto a média de 0,065. As molduras expressas estão
por assim dizer esboçadas, e a base, muito volumosa, grosseiramente desbastada, afigura-se ter tido o destino primitivo de
ficar enterrada no solo, colocado o monumento no lugar próprio. Na
face superior da ara há uma cavidade, que mede nos lados 0,10 m. e de
fundo 0,06 m. Creio não ser foculus, mas encaixe adequado a segurar a
base de qualquer remate que o cipo suportasse: uma estátua ou busto do Génio.
Há no Museu Etnológico mais exemplares deste facto. Nas faces laterais
da ara não há nenhum símbolo ou emblema.
A leitura do texto faz-se sem dificuldades, mas as letras são um pouco
toscas e desiguais».
Ora a inscrição diz:
CAMALA . AR
QVI . F . TAL
ABRIGEN
SIS . GENIO . T
IA VRANCEAI
CO . V . S . L . M
que corresponde ao seguinte:
Camala Arqui fllia Talabrigensis Genio Tiauranceaico (ou Tiaurauceaico) votum solvit libens merito
cuja tradução é:
Camala, filha de Arquio, de Talábriga, cumpriu de boa vontade e com
razão o voto que havia feito ao Génio Tiauranceaico.
Este monumento é, pois, dedicado a uma divindade ou génio que, pelo
nome, deve ser ibérico, embora escrito em caracteres latinos, e que
portanto não fazia parte das divindades propriamente romanas.
Esta ara, à qual muito sucintamente o sr. Dr. JOSÉ LEITE
DE VASCONCELOS se refere no seu livro: Religiões da Lusitânia, voI. III, págs. 199 e 200, e da qual diz ser uma das
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melhores jóias epigráficas do Museu, é, segundo os estudos do Dr. FÉLIX
ALVES PEREIRA, do século lII ou IV depois de Cristo.
Não se sabe qual o oppidum ou terra que tal génio tutelava mas não
restam dúvidas de que era uma terra do norte do actual Portugal,
atendendo ao local em que foi encontrada a ara.
Àquele senhor, a lápide
interessou-o principalmente sob o ponto de vista religioso e
filológico, pois que vem trazer mais um génio novo e mais um
elemento de estudo para a linguagem ibérica. A mim, interessou-me
principalmente por ser o único monumento lapidar autêntico relativo
ao oppidum pré-romano Talábriga, conhecido através da
literatura antiga e do Itinerário, e que, conforme alguns
afirmam, ocupava o lugar que aproximadamente hoje ocupa a cidade de
Aveiro, e atestando o facto de uma dama de origem celta e natural de
Talábriga ter vindo no século lII ou IV desta cidade para urna
povoação da Galécia, a cujo génio dedicou o altar ou ara em questão.
E interessou-me mais porque nunca li, nem ouvi, nenhuma referência a
tal monumento, feita por qualquer aveirense quando sobre Aveiro ou
Talábriga têm escrito, donde concluo que é desconhecido dos
aveirenses aquele monumento. Vejamos corno foi descoberto.» |
|
Ara celtibérica da época romana referente à cidade de Talábriga e
encontrada em Esturãos. Publicada em O Arqueólogo Português, voI.
XIl, e Religiões da Lusitânia, vol. III. |
II
«Como bom aveirense que me
prezo de ser, interessando-me por
tudo o que possa dizer respeito à minha terra, que é, na
opinião de alguns, a velha Talábriga, resolvi visitar o local onde a
lápide foi encontrada, e possivelmente colher mais alguns informes que
esclarecessem o caso. E assim, no dia 14 de Abril, dia seguinte ao da
leitura do Almanaque, parti de automóvel com mais quatro amigos para Esturãos, a entrevistar o abade Fiúza da Rocha.
Atravessada a velha ponte sobre o Lima, formada de
duas partes, uma do século XIV, de arcaria ogival, e outra
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44 /
romana, o automóvel rodou rapidamente pela formosíssima
estrada de Ponte de Lima a Viana do Castelo, na margem
direita do rio, estrada cujas belezas tão bem cantadas foram
pelo ilustre escritor D. ANTÓNIO DA COSTA. A alguns quilómetros, uma transversal desta estrada, atravessando a freguesia de Moreira, conduz-nos, sempre pelo meio de várzeas
feracíssimas e paisagens verdejantes, à freguesia de Esturãos.
Termina a estrada junto de uns rústicos casais cujos habitantes, talvez surpreendidos pela presença de um elegante
automóvel, nos olhavam entre respeitosos e desconfiados.
Apeámo-nos e seguimos a pé por uma antiga estrada de
lajes de granito, já desgastas pelo uso e pelo tempo; passámos uma velha ponte coberta de musgos e denegrida pelos
séculos, ponte de três arcos de volta inteira e pelos quais
passa, murmurando, o ribeiro de Esturãos.
Está a ponte abandonada a todos os prejuízos dos homens e da natureza, e mais aos desta do que aos dos homens, mostrando já as pedras dos pilares desconjuntadas pelas raízes
de alguns carvalhos que neles se instalaram e ameaçam arruiná-los, se um machado salvador não se levantar a cortar-lhes cerce o tronco.
Mais algumas dezenas de metros andados e encontrávamo-nos junto da residência paroquial, mesmo fronteira à igreja de
Esturãos, estendendo-se esta freguesia já pelo sopé
-da serra de Arga.
Fizemo-nos anunciar ao reverendo abade Fiúza, homem erudito e de cabelos brancos, que imediatamente nos apareceu no patamar elevado da sua antiga residência, caracteristicamente portuguesa, e entre amável e sorridente nos
convidou a entrar, ao mesmo tempo que inquiria sobre o
motivo da nossa visita.
Sentámo-nos e disse-lhe: −
Desejava saber em que local,
data e condições tinha sido achada a ara de Esturãos, hoje no
Museu Etnológico Português. Interessa-me saber isto porque
a velha pedra refere-se à antiga cidade romana ou pré-romana
Talábriga que, na opinião de alguns eruditos, tem como actual
representante a cidade de Aveiro, minha terra natal e de alguns de meus
antepassados.
Respondeu o velho abade:
«Tenho nos arquivos da igreja uma
memória escrita por
um meu antecessor aí pelo ano de 1730, em que ele lançou
as tradições desta freguesia que faz remontar à época de
S. Martinho de Dume, que morreu arcebispo de Braga, parecendo que o movimento religioso neste sítio foi desenvolvido
pelos beneditinos. É tradição oral e escrita que no lugar de
Ramila é que se fundou a igreja paroquial. O abade que
escreveu as tradições da freguesia, disse que trinta anos antes
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de ele escrever um lavrador tinha descoberto uma pedra larga
e comprida no dito lugar de Ramila, e tendo conhecimento disto, os
homens do velho luga − que é junto do lugar de Gafarim, disseram que
aquela pedra era sinaI certo do que constava da tradição, isto é, que
naquele sítio esteve a igreja paroquial, e que de lá foi mudada para onde hoje está, porque na Ramila
os cadáveres não se consumiam, conservando-se inteiros por mais de
cinco anos.
O que posso afirmar é que a actual igreja foi edificada com material que
tinha servido a outra. É natural que dela apenas alguns materiais
tivessem sido aproveitados, porquanto o pórtico da igreja actual tem uns
simples colunelos de estilo manuelino, o que condiz com a data da reconstrução em 1590, data que se lê no cimo do arco da capela-mor. Tem
hoje a igreja três naves; mas quando reconstruída neste último ano só
tinha duas, sendo-lhe posteriormente acrescentada a terceira.
Em 1902 ou 1903, tendo eu mandado fazer obras no altar-mor que era de
pedra e no qual eu queria substituir a velha pedra do altar da igreja de
Ramila que tinha um bocado partido, talvez desde a sua mudança para
aqui, verifiquei com
surpresa que o interior do altar era de areia e de cascalho solto, no
meio do qual estava colocada a ara em questão. Houve, pois, o propósito
evidente de preservar a ara de qualquer injúria ou mau destino,
guardando-a num local sagrado
como era o altar-mor da igreja.
Mandei então tirar a ara que pesava cerca de quatrocentos e oitenta
quilogramas, do sítio em que se encontrava, e, lendo a inscrição que
continha, resolvi colocá-la no adro da igreja a servir de pé à mesa
formada pela antiga laje de granito do altar-mor, com a inscrição
voltada para a fachada direita da igreja.
Tendo-se tornado público o achado,
o reverendo Padre Cunha Brito
convenceu-me a ceder a ara ao Museu Etnológico Português, o que de
facto fiz, mas exigindo que ficasse na igreja uma cópia em gesso da
inscrição.
A ara foi arrancada do seu novo lugar, e por ela e para a substituir,
mandei fazer um outro pedestal igual em dimensões e forma ao que se
tirava, e que é o que hoje sustenta a antiga pedra do altar.»
E mudando de tom, convidou-nos a visitar a igreja e o
adro.
III
«A velha igreja de Esturãos, com as naves
apoiadas em colunas românicas algo toscas, estando algumas da nave esquerda
terrivelmente gastas na base, provando bem a granide antiguidade da igreja que àquela deu
origem, é singela
/
46 / e com a nave central à altura da capela-mor, defeito que o actual
pároco queria tirar-lhe, mas que o Dr. JOSÉ LEITE
DE VASCONCELOS impediu de fazer, alegando que não se devia
alterar o primitivo plano da igreja. Por isso lá continua o
tecto da capela-mor à mesma altura do tecto da nave central. De passagem direi que descobri no capitel de uma das colunas uma inscrição que suponho ser uma data, e de que o
próprio pároco ignorava a existência.
Conduzidos à sacristia, lá vimos, eu e os meus companheiros, a cópia de gesso em tamanho natural da face da ara que
tinha a inscrição, mas já rachada no canto superior direito.
Saindo para o adro da igreja, vimos a nova base da antiga
pedra do altar, em substituição da ara, mas sem inscrição alguma.
Uma pergunta me ocorreu imediatamente:
− Então não há a certeza do ponto onde esteve primitivamente a ara?
A esta pergunta o pároco respondeu:
− «Não há. Poderia
ter vindo do lugar de Ramila para aqui, acompanhando a
mudança da igreja, ou ter existido sempre aqui onde nos
'encontramos.
Porém, de qualquer maneira, a ara deve ter existido sempre dentro do terreno actualmente ocupado pela freguesia de Esturãos,
que tira o nome de Asturianos, antigos habitantes desta região, segundo
a tradição.»
Neste momento pensava eu nas razões que teriam levado
a ofertante da ara a vir de uma cidade da Lusitânia para uma
povoação da Galécia, e arrisquei ainda uma pergunta:
Poderá admitir-se que uma talabrigense, no século
IIl ou IV, tivesse
vindo para estes sítios por motivo religioso ou de saúde, e que, em
acção de graças, tivesse mandado construir e dedicado a ara em questão ao génio Tiauranceaico, que poderia
ser uma divindade de saúde?
− «Sim, senhor. Tanto mais que ainda hoje o povo
chama à serra de Arga que perto de nós está, Montanha Santa, não tendo
esquecido a tradição dos numerosos ermitérios e casas de oração que noutros tempos povoaram as
suas encostas, avultando o Monastério Máximo, sito in illo altissimo monte Agra.»
Dei por finda a entrevista, e apresentámos os nossos melhores
agradecimentos ao ilustre abade de Esturãos que amavelmente nos acompanhou ao automóvel que perto nos aguardava.
Já o sol no seu giro estava prestes a desaparecer por
detrás das agudas cristas da serra de Arga, enchendo com
uma poalha de ouro o vale rico e formoso do Lima, encanto
do grande jardim de Portugal, que é a província do Minho.
O automóvel, caminhando velozmente, em breve galgou os dez quilómetros que nos separavam
de Ponte de Lima,
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47 /
mas não tão depressa que eu não tivesse tempo de pensar que Aveiro teria
grande satisfação em possuir aquela ara, se lhe tivesse sido dada
ocasião de a adquirir, por ser o único documento lapidar conhecido que
diz respeito a Talábriga, que alguns afirmam ser a moderna Aveiro, mas
que, não a podendo ter, ao menos poderia possuir no seu museu, tão pobre
de antiguidades, uma cópia de gesso ou pedra, e uma boa fotografia da
referida ara. Convenci-me até de que o meu amigo e ilustre director do
Museu de Aveiro, Dr. Alberto Souto, ao tomar conhecimento desse desejo,
não deixará, por certo, de tomar as providências necessárias para que
nele figurem os dois documentos que atrás indico, embora alguém diga, e
com fundamento, que Aveiro não é a antiga
Talábriga.»
Aveiro, Dezembro de 1948.
FRANCISCO FERREIRA NEVES |