COMO
não há muito referi(1), a prelada que regia a comunidade dominicana de
Jesus de Aveiro pelos anos de 1630, reuniu, num carneiro que fez abrir
no
chão de certa capela, os ossos das freiras fundadoras
do mosteiro, e de algumas outras que haviam exercido o
cargo de Prioresa nos primeiros tempos da vida conventual.
Para isso foi buscar a outras quadras da clausura oito
campas dessas religiosas, com as quais, deitadas de lado,
construiu as paredes da cova que, em planta, tinha a forma
de uma cruz:
Ao centro, num pequeno
caixão de chumbo, colocou as ossadas, e nas
pedras da borda do alçapão da entrada fez
insculpir os seguintes dizeres:
SEPVLTVRA DAS FVNDADORAS E PRELA
DAS DESTE CÕVẼTO. A OBRA DE[S
TA CA]PELA MANDOV FAZER HVA FREIRA
NA ERA. DE 1630. ANNOS
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183 /
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A − D. Brites Leitoa. B
− D. Mecia Pereira. C − D. Maria de Ataíde.
D − D. Leonor de Meneses. E − D. Antónia de Noronha.
F − D. Brites Ferraz. G −
D. Guiomar Pinta. H − D. Antónia de Sousa.
I − D. Inês de Noronha. |
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No decorrer das obras de adaptação do edifício a museu,
foi resolvido inutilizar esse lôbrego ossuário, em verdade já
sem razão de ser conservado pois os restos das religiosas
outrora ali depositados, tinham sido levados, segundo ouvi, para o
cemitério local, e haver agora ocasião para expor à
vista do público frequentador do Museu, e ao exame dos estudiosos, essas
campas − duas, pelo menos, interessantíssimos
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184 / exemplares da escultura funerária dos séculos
XV
e XVI − salvando-as do perigoso estado de conservação em
que se encontravam causado pela infiltração de águas durante
os invernos.
Por amável sugestão do Ex.mo Director dos Monumentos
Nacionais, e de acordo com a Junta Nacional de Educação,
tive a honra de propor que todas essas campas, com a da
madre Brites Leitoa, que também fora encontrada(2), fossem
integradas no ambiente conventual, colocando-as no pavimento da sala capitular, onde primitivamente terão estado,
por ser esse o lugar em regra destinado nas antigas casas
monásticas para jazida das .religiosas que em vida haviam
exercido os altos cargos da comunidade, e onde, sem dúvida,
estiveram pelo menos as três mais antigas, como nos revela
a crónica do mosteiro editada em 1939 com erudito prefácio
de A. G. DA ROCHA MADAHIL, ilustre Director deste «Arquivo»;
dispondo-as, segundo as suas datas: as três góticas, das «Fundadoras» ao centro da quadra, e as restantes a par umas das outras com
as cabeceiras para as paredes laterais, começando
pela banda do Evangelho, conforme o esquema atrás indicado.
Lumiar, Casa de Nossa Senhora do Carmo, verão de 1947.
J. M. CORDEIRO DE SOUSA |