J. M. Cordeiro de Sousa, Colocação das campas das fundadoras e prioresas do mosteiro..., Vol. XIII, pp. 182-184

A COLOCAÇÃO DAS CAMPAS DAS

FUNDADORAS E PRIORESAS DO MOSTEIRO

DE JESUS NA CASA DO CAPÍTULO

COMO não há muito referi(1), a prelada que regia a comunidade dominicana de Jesus de Aveiro pelos anos de 1630, reuniu, num carneiro que fez abrir no chão de certa capela, os ossos das freiras fundadoras do mosteiro, e de algumas outras que haviam exercido o cargo de Prioresa nos primeiros tempos da vida conventual.

Para isso foi buscar a outras quadras da clausura oito campas dessas religiosas, com as quais, deitadas de lado, construiu as paredes da cova que, em planta, tinha a forma de uma cruz:

Ao centro, num pequeno caixão de chumbo, colocou as ossadas, e nas pedras da borda do alçapão da entrada fez insculpir os seguintes dizeres:

SEPVLTVRA DAS FVNDADORAS E PRELA
DAS DESTE CÕVẼTO. A OBRA DE[S
TA CA]PELA MANDOV FAZER HVA FREIRA
NA ERA. DE 1630. ANNOS

/ 183 /

 

 
 

A − D. Brites Leitoa. B − D. Mecia Pereira. C − D. Maria de Ataíde.
D − D. Leonor de Meneses. E − D. Antónia de Noronha.
F − D. Brites Ferraz. G − D. Guiomar Pinta. H − D. Antónia de Sousa.
I − D. Inês de Noronha.

 

No decorrer das obras de adaptação do edifício a museu, foi resolvido inutilizar esse lôbrego ossuário, em verdade já sem razão de ser conservado pois os restos das religiosas outrora ali depositados, tinham sido levados, segundo ouvi, para o cemitério local, e haver agora ocasião para expor à vista do público frequentador do Museu, e ao exame dos estudiosos, essas campas − duas, pelo menos, interessantíssimos / 184 / exemplares da escultura funerária dos séculos XV e XVI − salvando-as do perigoso estado de conservação em que se encontravam causado pela infiltração de águas durante os invernos.

Por amável sugestão do Ex.mo Director dos Monumentos Nacionais, e de acordo com a Junta Nacional de Educação, tive a honra de propor que todas essas campas, com a da madre Brites Leitoa, que também fora encontrada(2), fossem integradas no ambiente conventual, colocando-as no pavimento da sala capitular, onde primitivamente terão estado, por ser esse o lugar em regra destinado nas antigas casas monásticas para jazida das .religiosas que em vida haviam exercido os altos cargos da comunidade, e onde, sem dúvida, estiveram pelo menos as três mais antigas, como nos revela a crónica do mosteiro editada em 1939 com erudito prefácio de A. G. DA ROCHA MADAHIL, ilustre Director deste «Arquivo»; dispondo-as, segundo as suas datas: as três góticas, das «Fundadoras» ao centro da quadra, e as restantes a par umas das outras com as cabeceiras para as paredes laterais, começando pela banda do Evangelho, conforme o esquema atrás indicado.

Lumiar, Casa de Nossa Senhora do Carmo, verão de 1947.

J. M. CORDEIRO DE SOUSA

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(1)Vide As campas das «Fundadoras» do mosteiro de Jesus de Aveiro, in Arquivo do Distrito de Aveiro, 1946.

(2)Idem.. 

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