SENHOR
SE os Soberanos, que têm procurado manter a amizade dos seus vizinhos
para afastar dos seus Estados as misérias da guerra, e têm feito
consistir a sua maior glória em promover a felicidade doméstica e
interna
dos seus vassalos, são dignos da admiração do Universo e bênçãos da
Posteridade, a paternal regência de V. A. R. é nos dois Mundos um
monumento de glória imortal para o Monarca português.
A felicidade dos povos que a Providência confiou ao tutelar Governo de
V. A. R. é tão sólida, e tão geral a todas as classes dos venturosos
vassalos de V. A. R. quanto na Europa o tem mostrado a firmeza desta
nação grata, valente,
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e fiel em sustentar, auxiliada pela mesma visível Providência, o trono onde brilham e resplandecem as régias virtudes de V. A. R.; e donde têm emanado sete séculos de prosperidade; e quanto também, ainda que por um diferente modo,
na América o expressou a filial recepção que V. A. R. recebeu dos seus filhos brasilienses: como nós eles mostraram o
extremo com que V. A. R. é amado pela Grande Família,
que sobre todos os mares, e sobre as quatro partes do Globo
contemplam a V. A. R., como o melhor pai, e como seu legítimo e augusto Soberano. E quando V. A. R. sofre a saudade, que deixou a um povo que o adora, quem a não sente
moderar à vista do espectáculo tocante e majestoso que dão ao mundo inteiro mil povos diferentes, habitantes das vastas
regiões e diversos climas, que compõem o dilatado império de V. A. R., estendendo os braços, prostrando-se, e tributando a V. A. R. as homenagens do seu amor e do seu respeito; e fazendo ver que o excelso trono de V. A. R., firmado sobre os dois Hemisférios, consolidado pelo amor e lealdade de uma considerável porção dos habitadores da Terra, nenhum
poder o pode abalar, e menos destruir; que ele só foi transferido a outro ponto de seu vasto domínio pelo triste motivo das perturbações de uma bárbara e insensata perseguição,
que dirigida contra a sagrada pessoa de V. A. R. podia privar o leal povo português do seu amado Soberano; mas nunca a V. A. R. de um trono, cujo domínio excede tanto a esfera de esse soberbo perseguidor!
A guerra foi sempre um estorvo, ou grande diversão
para as empresas da economia e felicidade doméstica; é por
isso que, entre os inumeráveis prodígios obrados por V. A. R. a bem dos seus vassalos, é admirável a empresa que regenerou
Aveiro, e pela qual V. A. R. deu a existência, e tirou da nulidade um grande e mui importante país; salvou uma grande população; deu um novo e belo porto de mar ao seu
reino de Portugal; que faz já, e fará cada vez mais, a felicidade de meia Província da Beira; e isto obrado no meio dos
estorvos invencíveis de uma guerra desigual, de exterminação, e carnagem.
V. A. R. fez-me uma honra inapreciável confiando-me a execução desta empresa, que tanto havia tocado o paternal
coração de V. A. R. e que, executada já, é hoje um dos mais
belos monumentos de clemência, e munificência real. A descrição dos
trabalhos e transcendentes resultados deste monumento, em que a geração presente e a posteridade contemplarão os benefícios devidos a V. A. R., é um dever que
ainda me restava cumprir. Este novo trabalho pertence todo igualmente a
V. A. R; é por isso que muito respeitosamente enho a honra de o dedicar a V. A. R. esperando no gracioso, e favorável acolhimento, e aceitação de minha respeitosa
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oferta; a maior recompensa que eu possa receber das minhas
fadigas, e dos meus longos trabalhos. Digne-se, pois, V. A. R. aceitá-la também como tributo de gratidão, amor e lealdade
que devo à sagrada e augusta pessoa de V. A. R.
Prostrado com o mais profundo respeito, beija a real
mão de V. A. R.
O mais reconhecido e fiel vassalo
Luís Gomes de Carvalho
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