NAS camadas antracolíticas
da Beira-Litoral aparece uma
forma de Neuropteris, de grandes folhas, muito semelhante à espécie de Schwarzkosteletz (Boémia)
descrita e classificada por' GOEPPERT como N.
cordata
Brongn.
(1)
Comparando os exemplos portugueses
− até aí classificados
também como N. cordata
(2)
− com o tipo de Brongniart e com
a série de exemplares de N. cordata Brongn da Escola Superior
de Minas de Paris, chegou W. DE LIMA à conclusão de que eram
espécies completamente distintas o N. cordata de Brongniart,
com nervação muito laxa, e os Neuropteris do Buçaco e de
Schwarzkosteletz, cuja nervação é fina e cerrada; W. DE LIMA
reputava estes últimos, especificamente, mais próximos do
N. macrophylla e característicos de um nível superior ao do
N. cordata
(3).
'Em vista desta diferença de caracteres foram as formas do
Buçaco e o N. cordata de GOEPPERT atribuídas por W. DE LIMA a
uma nova espécie que denominou N. Zeilleri em homenagem
ao eminente fito-paleontologista francês R. ZEILLER, seu amigo
pessoal
(4).
/ 54 / Em 1892 H. POTONIÉ atribuiu
este mesmo nome a uma forma de Neuropteris descrita por ZEILLER no seu estudo sobre a flora fóssil de
Valenciennes
como N. gigantea Sternb.
(5) e que aquele
julgara especificamente diferente
(6).
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A espécie de POTONIÉ não foi, porém, sustentada, pois mais tarde, pôde reconhecer-se que a
diagnose de ZEILLER era exacta. Mas, ainda que tal facto se não
verificasse, o nome de POTONIÉ seria invalidado pela
lei da prioridade, dada a antecipação da
designação de W. DE LIMA (1890).
No Buçaco, o N. Zeilleri aparece acompanhado de
Callipteris conferta, Lebachia laxifolia,
Pecopteris leptophylla, etc., segundo W. DE LIMA que o considera, por isso, planta
francamente permeana.
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Fig.
1 - Ramo de N. Zeilleri W. de LIMA proveniente do Buçaco (Ex.
da col. dos Serv. Geol. de Portugal) |
O âmbito do N. Zeilleri é, porém, mais largo do que W.
DE LIMA supunha, pois tive ocasião de assinalar a .sua existência nas camadas estefanianas dos arredores do Porto, tendo
recolhido em Valdeão várias impressões de folhas desta planta.
ZEILLER assinalou-a também nas camadas autunianas
de
Charmoy, na bacia carbonífera de Blanzy e do Creusot, onde
/ 55 /
foi encontrado um exemplar constituído por dois fragmentos de pínulas
cujos caracteres, segundo ele, mostravam concordância absoluta com os
das formas do Buçaco
(7).
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*
A observação de um
certo número de exemplares desta espécie, provenientes, quer do Buçaco, quer de S. Pedro da Cova, permite resumir do
seguinte modo a sua diagnose, concordante quase em absoluto com a
estabelecida por W. DE LIMA em 1893
(8):
Planta de porte e tamanho desconhecidos; as suas dimensões, a avaliar
pelo tamanho das pínulas e grossura dos eixos dos ramos, deviam ser
consideráveis.
Os eixos dos ramos são grossos e fortes, apresentando finas estrias
longitudinais.
As pínulas, de pecíolo muito curto,
quase rentes, contíguas ou
sobrepondo-se mesmo parcialmente, são inteiras, lanceoladas, cordiformes na base; as suas
dimensões atingem 9 cm. de comprimento e, 3 cm de largura. A pínula terminal dos ramos é grande
e forte e as pínulas laterais adjacentes a esta são decorrentes na base com nervuras que nascem directamente do eixo do ramo, isto é, apresentam
caracteres odontopteroides.
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Fig.
2 - Pínula de N. Zeilleri W. de LIMA recolhida nas camadas de
insectos de Valdeão, Valongo (Ex. do Mus. Geol. da Univ. do Porto) |
A nervação é nítida nervura média pouco saliente, larga na base, não atingindo o vértice da pínula; nervuras secundárias
/
56 /
finas, numerosas, nascendo sob ângulos muito agudos, bifurcando-se três ou quatro vezes e encurvando-se mais ou menos até
encontrarem o bordo da pínula onde se contam sempre mais de
vinte por centímetro.
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Fig.
3 - Duas pínulas de N. Zeilleri W. de LIMA provenientes de
Valdeão, Valongo (Ex. do Mus. Geol. da Univ. do Porto) |
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Há um carácter que tenho observado frequentemente
nas
pínulas desta espécie, que é uma pronunciada assimetria na
disposição das nervuras secundárias. Com efeito, enquanto de um lado do
limbo estas nervuras se encurvam muito pouco e encontram o bordo sob
ângulos acentuadamente agudos (50º)
ou 60º), do outro lado a curvatura é muito mais pronunciada,
atingindo as nervuras o bordo sob ângulos que às vezes ultrapassam 90º.
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Como pode concluir-se desta descrição, o N.
Zeilleri distingue-se perfeitamente de todas as outras espécies, pelo tamanho e forma
das pínulas, pela nervação, pelos caracteres odontopteroides, etc.; não
sendo possível confundi-lo com qualquer outra forma.
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57 /
Em Portugal, até hoje, era apenas conhecido nas camadas antracolíticas
da Beira-Litoral. Nunca foi, porém, figurado, salvo numa gravura,
inédita ainda, de W. DE LIMA. Como atrás disse já, existe também no
Estefaniano dos arredores do Porto, onde tenho encontrado com frequência impressões das suas folhas,
nomeadamente em Valdeão, acompanhadas de Callipteridium figas, Pecoptéris feminaeformis,
Linopteris sp., Sphenopteris sp., ginnularia
sphenophylloides, Lebachia laxifolia, Ernestiodendron Aliciforme,
insectos vários, etc.
O N. Zeilleri W. DE LIMA é, pois, mais uma espécie comum aos dois
afloramentos antracolíticos portugueses a acrescentar às já conhecidas,
cujo número e frequência tanto acentuam as semelhanças e afinidades
florísticas das suas camadas.
Porto − Laboratório Mineralógico e Geológico da Faculdade
de Ciências − Março de 1940.
CARLOS TEIXEIRA
Bolseiro do Instituto para a Alta Cultura
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(1)
− GOEPPERT − Fossil Flora des Permisehen Formation - pág. 100, pl. XI.
(2)
−Cfr. B. A. GOMES − FI. fos. do ter. Carbon.
(3)
− W. DE LIMA − Not. sobre os Cam. da Ser. Permo-Carb. do Bussaco.
(4)
− W. DE LIMA − Not. sobre os Cam. da Ser. Permo-Carb, do Bussaco; sobre uma espécie crítica do
Rothliegendes − Rev. de Sc. Nat. e
Soc., III, n.º 9;
Bull. Soc. Geol. de Fr. 3.ª série XIX, pág. 137.
(5)
−Pág. 258, Est. XLII.
(6)
− Cfr. H. POTONIÉ - Über einige Carbónfarne, III, 1892, pág. 22-36
in Jahrbuch der Königlich Preussichen Geologischen Landesanstalt und Bergakademie
zu Berlin für das Jahr 1891, Band XII − Berlin, 1893.
(7)
− A. ZEILLER - Le bas. h. de Blanzy et du Creusot, Paris, 1906, pág.
105,
pl. XXXII, fig. I.
(8)
− Cfr. W. DE LIMA - Sobre uma espécie crítica do Rothliegendes) cit.
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