Carlos Teixeira, Notas sobre NEUROPTERIS ZEILLERI W. de Lima do Antracolítico de Portugal, Vol. VI, pp. 53.-57.

 

SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA GEOLOGIA DO DISTRITO DE AVEIRO

 

NOTAS SOBRE NEUROPTERIS ZEILLERI W. DE LIMA DO ANTRACOLÍTICO DE PORTUGAL

NAS camadas antracolíticas da Beira-Litoral aparece uma forma de Neuropteris, de grandes folhas, muito semelhante à espécie de Schwarzkosteletz (Boémia) descrita e classificada por' GOEPPERT como N. cordata Brongn. (1)

Comparando os exemplos portugueses − até aí classificados também como N. cordata (2) − com o tipo de Brongniart e com a série de exemplares de N. cordata Brongn da Escola Superior de Minas de Paris, chegou W. DE LIMA à conclusão de que eram espécies completamente distintas o N. cordata de Brongniart, com nervação muito laxa, e os Neuropteris do Buçaco e de Schwarzkosteletz, cuja nervação é fina e cerrada; W. DE LIMA reputava estes últimos, especificamente, mais próximos do N. macrophylla e característicos de um nível superior ao do N. cordata (3).

'Em vista desta diferença de caracteres foram as formas do Buçaco e o N. cordata de GOEPPERT atribuídas por W. DE LIMA a uma nova espécie que denominou N. Zeilleri em homenagem ao eminente fito-paleontologista francês R. ZEILLER, seu amigo pessoal (4).

 / 54 / Em 1892 H. POTONIÉ atribuiu este mesmo nome a uma forma de Neuropteris descrita por ZEILLER no seu estudo sobre a flora fóssil de Valenciennes como N. gigantea Sternb. (5) e que aquele julgara especificamente diferente (6).

A espécie de POTONIÉ não foi, porém, sustentada, pois mais tarde, pôde reconhecer-se que a diagnose de ZEILLER era exacta. Mas, ainda que tal facto se não verificasse, o nome de POTONIÉ seria invalidado pela lei da prioridade, dada a antecipação da designação de W. DE LIMA (1890).

No Buçaco, o N. Zeilleri aparece acompanhado de Callipteris conferta, Lebachia laxifolia, Pecopteris leptophylla, etc., segundo W. DE LIMA que o considera, por isso, planta francamente permeana.

Fig. 1 - Ramo de N. Zeilleri W. de LIMA proveniente do Buçaco (Ex. da col. dos Serv. Geol. de Portugal)

O âmbito do N. Zeilleri é, porém, mais largo do que W. DE LIMA supunha, pois tive ocasião de assinalar a .sua existência nas camadas estefanianas dos arredores do Porto, tendo recolhido em Valdeão várias impressões de folhas desta planta.

ZEILLER assinalou-a também nas camadas autunianas de Charmoy, na bacia carbonífera de Blanzy e do Creusot, onde / 55 / foi encontrado um exemplar constituído por dois fragmentos de pínulas cujos caracteres, segundo ele, mostravam concordância absoluta com os das formas do Buçaco (7).

*

*          *

A observação de um certo número de exemplares desta espécie, provenientes, quer do Buçaco, quer de S. Pedro da Cova, permite resumir do seguinte modo a sua diagnose, concordante quase em absoluto com a estabelecida por W. DE LIMA em 1893 (8):

Planta de porte e tamanho desconhecidos; as suas dimensões, a avaliar pelo tamanho das pínulas e grossura dos eixos dos ramos, deviam ser consideráveis.

Os eixos dos ramos são grossos e fortes, apresentando finas estrias longitudinais.

As pínulas, de pecíolo muito curto, quase rentes, contíguas ou sobrepondo-se mesmo parcialmente, são inteiras, lanceoladas, cordiformes na base; as suas dimensões atingem 9 cm. de comprimento e, 3 cm de largura. A pínula terminal dos ramos é grande e forte e as pínulas laterais adjacentes a esta são decorrentes na base com nervuras que nascem directamente do eixo do ramo, isto é, apresentam caracteres odontopteroides.

Fig. 2 - Pínula de N. Zeilleri W. de LIMA recolhida nas camadas de insectos de Valdeão, Valongo (Ex. do Mus. Geol. da Univ. do Porto)

A nervação é nítida nervura média pouco saliente, larga na base, não atingindo o vértice da pínula; nervuras secundárias / 56 / finas, numerosas, nascendo sob ângulos muito agudos, bifurcando-se três ou quatro vezes e encurvando-se mais ou menos até encontrarem o bordo da pínula onde se contam sempre mais de vinte por centímetro.

 

 
 

Fig. 3 - Duas pínulas de N. Zeilleri W. de LIMA provenientes de Valdeão, Valongo (Ex. do Mus. Geol. da Univ. do Porto)

 

Há um carácter que tenho observado frequentemente nas pínulas desta espécie, que é uma pronunciada assimetria na disposição das nervuras secundárias. Com efeito, enquanto de um lado do limbo estas nervuras se encurvam muito pouco e encontram o bordo sob ângulos acentuadamente agudos (50º) ou 60º), do outro lado a curvatura é muito mais pronunciada, atingindo as nervuras o bordo sob ângulos que às vezes ultrapassam 90º.

*

*          *

Como pode concluir-se desta descrição, o N. Zeilleri distingue-se perfeitamente de todas as outras espécies, pelo tamanho e forma das pínulas, pela nervação, pelos caracteres odontopteroides, etc.; não sendo possível confundi-lo com qualquer outra forma. / 57 /

Em Portugal, até hoje, era apenas conhecido nas camadas antracolíticas da Beira-Litoral. Nunca foi, porém, figurado, salvo numa gravura, inédita ainda, de W. DE LIMA. Como atrás disse já, existe também no Estefaniano dos arredores do Porto, onde tenho encontrado com frequência impressões das suas folhas, nomeadamente em Valdeão, acompanhadas de Callipteridium figas, Pecoptéris feminaeformis, Linopteris sp., Sphenopteris sp., ginnularia sphenophylloides, Lebachia laxifolia, Ernestiodendron Aliciforme, insectos vários, etc.

O N. Zeilleri W. DE LIMA é, pois, mais uma espécie comum aos dois afloramentos antracolíticos portugueses a acrescentar às já conhecidas, cujo número e frequência tanto acentuam as semelhanças e afinidades florísticas das suas camadas.

Porto − Laboratório Mineralógico e Geológico da Faculdade de Ciências − Março de 1940.

CARLOS TEIXEIRA
Bolseiro do Instituto para a Alta Cultura

___________________________________________________________

(1) − GOEPPERT − Fossil Flora des Permisehen Formation - pág. 100, pl. XI.

(2) −Cfr. B. A. GOMES − FI. fos. do ter. Carbon.

(3) − W. DE LIMA − Not. sobre os Cam. da Ser. Permo-Carb. do Bussaco.

(4) − W. DE LIMA − Not. sobre os Cam. da Ser. Permo-Carb, do Bussaco; sobre uma espécie crítica do Rothliegendes − Rev. de Sc. Nat. e Soc., III, n.º 9; Bull. Soc. Geol. de Fr. 3.ª série XIX, pág. 137.

(5) −Pág. 258, Est. XLII.

(6) − Cfr. H. POTONIÉ - Über einige Carbónfarne, III, 1892, pág. 22-36 in Jahrbuch der Königlich Preussichen Geologischen Landesanstalt und Bergakademie zu Berlin für das Jahr 1891, Band XII − Berlin, 1893.

(7) − A. ZEILLER - Le bas. h. de Blanzy et du Creusot, Paris, 1906, pág. 105, pl. XXXII, fig. I.

(8) − Cfr. W. DE LIMA - Sobre uma espécie crítica do Rothliegendes) cit.

 

Página anterior Índice Página seguinte