O ARQVIVO DO DISTRITO DE
AVEIRO dará sempre notícia das obras à sua Redacção enviadas quer por
autores quer por editores.
De harmonia com a prática
seguida pelas publicações suas congéneres, fará também algum comentário
crítico aos livros de que receba dois exemplares.
CARTAS, por M.me
DE
SÉVIGNÉ. Escolha, tradução, prefácio e notas pelo prof. VITORlNO NEMÉSIO. Livraria Sá da Costa, Editora. Lisboa,1939. Volume
de XXVIII − 264 páginas.
este volume, da Colecção de Clássicos Sá da Costa, é formado por noventa
e seis das famosas cartas de Madame de SÉVIGNÉ. O critério seguido pelo
ilustre tradutor e anotador, apreende-se da parte final do prefácio: − «Nesta selecção de cartas não perdemos de vista o critério clássico, de
«lugares selectos» tais como em França os decretaram o ensino e o gosto,
que quase sempre coincidem com as preferências médias do leitor
estrangeiro. Mas há pontos que pouco importam a uma antologia de autor
francês organizada para franceses e que para nós são capitais. Assim,
tudo quanto possa servir para nos revelar o tempo de Luís XIV e as
premissas que nele estão do feitio permanente da França.
Mas acima de tudo preferimos amostras simplesmente humanas, cartas
inquietas, engraçadas − o campo, a corte, a morte, a moda, o pecado,
tudo isto − mais livre possível de factos e figurantes familiares aos
destinatários,
mas fastidientos para nós. Assim, reduzimos as notas explicativas ao
mínimo,
prevenindo desde já que não provêm de doutas lucubrações de arquivo de
que sejamos responsável. São as triviais identificações de editores
críticos,
arqueólogos, biógrafos, para não dizer do Larousse. De resto, a não ser
nas duas ou três cartas em que há referência a Portugal e numa ou noutra
que Sainte-Beuve deixou de parte, à nossa escolha coincide com a das
suas Lettres Choisies dos Clássicos Garnier, através das quais esta
leitura vai ser um passeio curto. − A respeito da tradução, pareceu-nos
legítimo contornar a dificuldade do «vous», dado a Madame de GRIGNAN e
a BUSSY, com: «a minha filha» isto, «o primo» aquilo, tão naturais em
português entre
pessoas da boa roda. − O francês de Madame de SÉVIGNÉ não é fácil. Além
do vocabulário que se arcaízou, há não sei quê de contraído em certos grupos sintácticos, uma urdidura que resiste muito mais ao discurso
português
do que a de um VOLTAIRE, de um FLAUBERT ou de um GIDE. Daí a
necessidade
de mãos livres. Mas sempre que tivemos de recorrer a equivalências
arredadas do pé da letra o sentido essencial ficou intacto. E aqui está.»
A este importante volume da Colecção segue-se o primeiro dos
Poemas Lusitanos, a cargo do distintíssimo professor liceal, Dr. Gonçalves
Braga.
J. T.
HEROÍSMO E MARTÍRIO DA POLÓNIA, por
LUÍS BARRADAS
(Almedina). Edições Flor de 'Lis. Porto, 1939. Folheto de 38 páginas.
Vivas páginas de justa simpatia pela Polónia, através das quais perpassam as desgraças, o martírio e o levantamento desse
país, bem como o
seu heroísmo perante a recente invasão de alemães e russos e a sua inabalável fé em melhores dias. O último capítulo intitula-se:
− «Após dezoito anos de paz ambicionada, carregadas nuvens pairam no céu europeu
e a
Polónia, mártir e heróica, conta, desta feita, com a força do sentimento
universal!». Três gravuras ilustram o volume, e a capa também é ilustrada.
J T.
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A FREGUESIA DA POCARIÇA DO CONCELHO DE CANTANHEDE,
por VIRIATO DE SÁ FRAGOSO; Porto, Liv. Simões Lopes, 1939. 270
págs.
Com a publicação destes curiosos apontamentos de história local, que
o seu ilustre Autor agrupou em XVIII capítulos e um apêndice de documentos, prestou o Sr. Dr. VIRIATO DE
SÁ FRAGOSO relevante serviço à região
que
lhe serviu de tema, criando-lhe lugar na bibliografia portuguesa, e
forneceu
salutar exemplo aos estudiosos do seu concelho a quem de há muito
incumbe a obrigação de tentarem a monografia do município de Cantanhede.
Zona particularmente interessante sob os aspectos geográfico, geológico, arqueológico, artístico, agrícola e urbanístico, com freguesias
que só
por si dariam abundante assunto para monografia completa, como Ançã,
Cadima, Cantanhede e Tocha, das quais pelos arquivos do Cabido da Sé e
de Santa Cruz, de Coimbra, ficaram muitas dezenas de documentos
medievais e centenas doutros, o concelho merece a atenção dos
historiadores e justifica perfeitamente que a sua Comissão Municipal encare a realização
dessa
monografia como sendo uma das suas obrigações culturais mais instantes.
Abalançando-se à publicação destes apontamentos sobre
a Pocariça,
freguesia com diminuto rasto nos arquivos e na História, o Sr. Dr. SÁ
FRAGOSO
iniciou auspiciosa e abnegadamente o caminho; que o seu distinto exemplo
seja meditado e frutifique, são os votos que sinceramente formulamos.
R. M.
GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA
Prossegue com crescente segurança esta publicação a que está reservado
magnifico futuro na preparação da cultura intelectual do nosso Pais.
Saiu o fascículo n.º 58, atingindo já o vocábulo cápsula e inserindo
magníficos artigos científicos e biográficos de completa actualidade,
que honram verdadeiramente esta colecção, e constituem utilíssimo
material de trabalho.
R. M.
EXTRACTOS DOS PROCESSOS PARA FAMILIARES DO SANTO OFÍCIO − Tomo I.
Organização de EDUARDO DE MIRANDA e de ARTUR DE TÁVORA. Famalicão,
Grandes Ateliers Gráficos, 1937; 765 páginas.
Completou-se recentemente o 1.º volume dos extractos dos processos
para familiares do Santo Oficio, que desde 1937 vinha sendo publicado em
fascículos, abrangendo 280 processos, ou seja, desde Acúrcio até
Alexandre.
É verdadeiramente inestimável o valor desta obra que, se chegar a
completar-se, constituirá a mais abundante e segura fonte de informações
para a história da sociedade portuguesa de 1536 a 1820.
O número de processos a sumariar, superior a 12.000, tem arrefecido
quantas tentativas se esboçaram para uma publicação deste género; mas é
sobretudo a falta de espírito de classe e a egoística tendência para
trabalhos
individuais, que domina a investigação portuguesa, a verdadeira causa do
inaproveitamento metódico e sistemático dessa preciosa colecção.
Dois homens de boa vontade, inteligência, e rasgada iniciativa
− D. EDUARDO
DE MIRANDA e o Dr. ARTUR MENDES DE ALMEIDA E TÁVORA − sem auxílio oficial e apenas com o amparo do Público, meteram ombros à pesada
tarefa, demonstrando com a conclusão deste 1.º volume reais qualidades
de organizadores que é de absoluta justiça registar.
Resta que o Público mostre a compreensão necessária para não deixar
cair uma obra desta natureza, honra do Pais e da geração que a executa.
O Arquivo do Distrito de Aveiro já no seu 1.º volume explicou sumariamente, a propósito de
Ilhavenses familiares do Santo Oficio, como se
organizavam estes processos e que fonte de informações ficaram
constituindo;
registando agora, festivamente, o aparecimento do 1.º volume dos
Extractos,
recomenda aos seus leitores a sua aquisição, convicto de que lhes
presta, com isso, verdadeiro e leal serviço.
R. M. |