A
páginas 137 e 138 deste volume do Arquivo, publicámos uma carta de
OLIVElRA MARTINS sobre o merecimento da obra que MARQUES GOMES, ilustre
investigador aveirense, tencionava publicar com o título de Lutas
Caseiras. Foi essa carta escrita no Porto, com data de 15 de
Fevereiro; mas não nos foi possível determinar o ano respectivo.
Esta obra de MARQUES GOMES
foi publicada em Lisboa em 1894, com o título de Lutas Caseiras e
o subtítulo de Portugal de 1834 a 1851. Constaria ela de dois volumes;
mas afinal só se publicou um, que abrange os acontecimentos
compreendidos entre 1834 e 1837.
O nosso amigo, colega e
confrade, Dr. Ferreira Neves, possui e facultou-nos um opúsculo de
dezasseis páginas, impresso em Aveiro, em 1886, da autoria de MARQUES
GOMES e intitulado − Lutas Caseiras − Subsídios dos acontecimentos
políticos em Portugal, de 1836 a 1851 −, o qual é o sumário da obra
que o escritor aveirense tencionava publicar. Nele indica uma introdução
e uma Primeira Parte, que compreenderia os seguintes capítulos: I
- Revolução de Setembro; II - A Belemzada; III - A
revolta dos marechais; IV - A arsenalada. Os tumultos de 14 de
Junho de 1838; V - Revoltas de 11 de Agosto de 1840 e do
tenente-coronel Miguel Augusto; VI - Restauração da Carta
Constitucional; VII - Revolta de Torres Novas e Almeida; VIII
- Miguelistas.
Tanto a Introdução como os
capítulos indicam os numerosos pontos a tratar na obra e que nos é
impossível reproduzir aqui.
O opúsculo termina com uma
«nota », que diz: − «A primeira parte da obra, além dos capítulos cujo
sumário é o que se acaba de ler, conterá ainda um outro sobre o cisma
religioso que houve em Portugal desde 1834 a 1842.»
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Ora é este opúsculo que nos
vai desvendar, parece-nos, o ano da carta a que acima nos referimos.
Publicando-o, teve o autor em vista dar conhecimento da obra à imprensa,
como se lê numa espécie de prólogo, constituído, quase exclusivamente,
pelas seguintes palavras: − « A imprensa. Depois de cinco anos de
demoradas investigações, logramos concluir finalmente a obra por nós há
muito planeada sobre a historia das revoluções politicas que houve em
Portugal após a última vitória da causa da liberdade.
«Prestes a mandá-la para o
prelo, julgamos dever nosso submeter à apreciação da imprensa o plano
dela, ou antes o sumário dos capítulos correspondentes ao primeiro dos
dois volumes que a compõem. O nosso maior desejo é que o livro preencha
inteiramente o seu fim; por isso, pedindo a opinião dos nossos colegas
sobre a sua oportunidade, agradecemos
reconhecido toda e qualquer indicação que se nos faça e que vise ao
aperfeiçoamento do nosso humilde trabalho.
«E pedindo a opinião da
imprensa, seja-nos permitido citar aqui, de permeio com o nosso
altíssimo reconhecimento, algumas linhas que, a propósito das Lutas
Caseiras, se dignaram escrever dois dos mais notáveis jornalistas,
os Srs. Oliveira Martins, e Joaquim Martins de Carvalho que com tão
proficientes e conspícuos estudos, têm ultimamente enriquecido o escasso
catálogo dos livros portugueses sobre a ciência histírica.»
Seguem-se alguns trechos da
carta de OLIVEIRA MARTINS, a que nos vimos referindo, e palavras de
louvor de MARTINS DE CARVALHO.
Parece-nos poder concluir de
tudo isto que o sumário que M. GOMES enviou a OLIVEIRA MARTINS é o que
consta do opúsculo publicado em 1886 e que, transcrevendo-se nesta parte
da carta de OLIVEIRA MARTINS, datada de 15 de Fevereiro, o ano
correspondente será o de 1885 ou 1886.
O autor deve ter começado a
preparar a obra em 1881.
Já em 1884 tinha escrito
alguns capítulos, de que deu vista a OLIVEIRA MARTINS, como se prova
coma carta, datada de 4 de Fevereiro de 1884, que a seguir se transcreve
integralmente.
Antes disso, cumpre-nos
agradecer ao nosso amigo, Dr. Ferreira Neves, os preciosos
esclarecimentos que nos forneceu, para a resolução deste assunto.
A citada carta de OLIVEIRA
MARTINS reza assim:
Ex.mo Sr.
Não quiz escrever lhe antes
em resposta á sua carta do dia 19 de Janeiro e accusando a recepção dos
seus mss., pois entendi do meu dever mandar-lhe desde logo o meu parecer
acerca do seu trabalho.
É isso o que hoje faço.
/ 299 /
Li os capitulos que me
mandou e acho que a sua obra é muitissimo interessante. O periodo das
nossas guerras civis contemporaneas é uma vasta ceara em que ha e haverá
por muito ainda fartas cearas a colher. Quando eu proprio me occupei
d'esses assumptos, publicou-se aqui no Porto uma obra até certo ponto
analoga á sua; aconselhei ao seu author o Sr. Antonio Teixeira de Macedo
que a imprimisse e não tive razão de me arrepender porque o livro
vendeu-se logo e muito bem. Isto mostra o interesse do publico por esta
ordem de estudos. Com effeito ha ainda muita gente que foi directa ou
indirectamente actor n'essas campanhas que de 36 a 51 e mais
particularmente de 46 a 48 tornam a nossa historia contemporanea
eminentemente interessante.
V. Ex.ª collige documentos
que andam dispersos; e por este lado o seu trabalho é nimiamente
suggestivo; do estylo e embora me não considere com authoridade em tal
assumpto, direi que é claro, correcto e adequado à narrativa.
Creio, pois, que a
publicação do seu livro, sendo, um bom serviço à historia contemporanea,
hade encontrar da parte do publico a acceitação condigna.
Desejando restituir lhe os
mss. aproveito a circunstancia de ter de ir agora a Lisboa para os
levar. Passarei em Aveiro no correio da noute do dia 6, e se V. Ex.ª
quizer ter a bondade de ir à estação terei o prazer de lhe restituir o
seu trabalho em mão propria, cabendo-me a vantagem de o conhecer.
(Será facil reconhecer me
pois levarei na mão o rollo dos papeis).
De V. Ex.ª
Mtº Atº V.or
e Ob.º
Oliveira Marfins
Porto
4/2/1884
J. T.
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