Oliveira Martins, Sobre as «lutas caseiras» de Marques Mendes, Vol. IV, pp. 297-299.

OUTRA CARTA DE OLIVEIRA MARTINS

SOBRE AS «LUTAS CASEIRAS» DE MARQUES MENDES

A páginas 137 e 138 deste volume do Arquivo, publicámos uma carta de OLIVElRA MARTINS sobre o merecimento da obra que MARQUES GOMES, ilustre investigador aveirense, tencionava publicar com o título de Lutas Caseiras. Foi essa carta escrita no Porto, com data de 15 de Fevereiro; mas não nos foi possível determinar o ano respectivo.

Esta obra de MARQUES GOMES foi publicada em Lisboa em 1894, com o título de Lutas Caseiras e o subtítulo de Portugal de 1834 a 1851. Constaria ela de dois volumes; mas afinal só se publicou um, que abrange os acontecimentos compreendidos entre 1834 e 1837.

O nosso amigo, colega e confrade, Dr. Ferreira Neves, possui e facultou-nos um opúsculo de dezasseis páginas, impresso em Aveiro, em 1886, da autoria de MARQUES GOMES e intitulado − Lutas Caseiras − Subsídios dos acontecimentos políticos em Portugal, de 1836 a 1851 −, o qual é o sumário da obra que o escritor aveirense tencionava publicar. Nele indica uma introdução e uma Primeira Parte, que compreenderia os seguintes capítulos: I - Revolução de Setembro; II - A Belemzada; III - A revolta dos marechais; IV - A arsenalada. Os tumultos de 14 de Junho de 1838; V - Revoltas de 11 de Agosto de 1840 e do tenente-coronel Miguel Augusto; VI - Restauração da Carta Constitucional; VII - Revolta de Torres Novas e Almeida; VIII - Miguelistas.

Tanto a Introdução como os capítulos indicam os numerosos pontos a tratar na obra e que nos é impossível reproduzir aqui.

O opúsculo termina com uma «nota », que diz: − «A primeira parte da obra, além dos capítulos cujo sumário é o que se acaba de ler, conterá ainda um outro sobre o cisma religioso que houve em Portugal desde 1834 a 1842.» / 298 /

Ora é este opúsculo que nos vai desvendar, parece-nos, o ano da carta a que acima nos referimos. Publicando-o, teve o autor em vista dar conhecimento da obra à imprensa, como se lê numa espécie de prólogo, constituído, quase exclusivamente, pelas seguintes palavras: − « A imprensa. Depois de cinco anos de demoradas investigações, logramos concluir finalmente a obra por nós há muito planeada sobre a historia das revoluções politicas que houve em Portugal após a última vitória da causa da liberdade.

«Prestes a mandá-la para o prelo, julgamos dever nosso submeter à apreciação da imprensa o plano dela, ou antes o sumário dos capítulos correspondentes ao primeiro dos dois volumes que a compõem. O nosso maior desejo é que o livro preencha inteiramente o seu fim; por isso, pedindo a opinião dos nossos colegas sobre a sua oportunidade, agradecemos
reconhecido toda e qualquer indicação que se nos faça e que vise ao aperfeiçoamento do nosso humilde trabalho.

«E pedindo a opinião da imprensa, seja-nos permitido citar aqui, de permeio com o nosso altíssimo reconhecimento, algumas linhas que, a propósito das Lutas Caseiras, se dignaram escrever dois dos mais notáveis jornalistas, os Srs. Oliveira Martins, e Joaquim Martins de Carvalho que com tão proficientes e conspícuos estudos, têm ultimamente enriquecido o escasso catálogo dos livros portugueses sobre a ciência histírica.»

Seguem-se alguns trechos da carta de OLIVEIRA MARTINS, a que nos vimos referindo, e palavras de louvor de MARTINS DE CARVALHO.

Parece-nos poder concluir de tudo isto que o sumário que M. GOMES enviou a OLIVEIRA MARTINS é o que consta do opúsculo publicado em 1886 e que, transcrevendo-se nesta parte da carta de OLIVEIRA MARTINS, datada de 15 de Fevereiro, o ano correspondente será o de 1885 ou 1886.

O autor deve ter começado a preparar a obra em 1881.

Já em 1884 tinha escrito alguns capítulos, de que deu vista a OLIVEIRA MARTINS, como se prova coma carta, datada de 4 de Fevereiro de 1884, que a seguir se transcreve integralmente.

Antes disso, cumpre-nos agradecer ao nosso amigo, Dr. Ferreira Neves, os preciosos esclarecimentos que nos forneceu, para a resolução deste assunto.

A citada carta de OLIVEIRA MARTINS reza assim:


                                 Ex.mo Sr.

Não quiz escrever lhe antes em resposta á sua carta do dia 19 de Janeiro e accusando a recepção dos seus mss., pois entendi do meu dever mandar-lhe desde logo o meu parecer acerca do seu trabalho.

É isso o que hoje faço. / 299 /

Li os capitulos que me mandou e acho que a sua obra é muitissimo interessante. O periodo das nossas guerras civis contemporaneas é uma vasta ceara em que ha e haverá por muito ainda fartas cearas a colher. Quando eu proprio me occupei d'esses assumptos, publicou-se aqui no Porto uma obra até certo ponto analoga á sua; aconselhei ao seu author o Sr. Antonio Teixeira de Macedo que a imprimisse e não tive razão de me arrepender porque o livro vendeu-se logo e muito bem. Isto mostra o interesse do publico por esta ordem de estudos. Com effeito ha ainda muita gente que foi directa ou indirectamente actor n'essas campanhas que de 36 a 51 e mais particularmente de 46 a 48 tornam a nossa historia contemporanea eminentemente interessante.

V. Ex.ª collige documentos que andam dispersos; e por este lado o seu trabalho é nimiamente suggestivo; do estylo e embora me não considere com authoridade em tal assumpto, direi que é claro, correcto e adequado à narrativa.

Creio, pois, que a publicação do seu livro, sendo, um bom serviço à historia contemporanea, hade encontrar da parte do publico a acceitação condigna.

Desejando restituir lhe os mss. aproveito a circunstancia de ter de ir agora a Lisboa para os levar. Passarei em Aveiro no correio da noute do dia 6, e se V. Ex.ª quizer ter a bondade de ir à estação terei o prazer de lhe restituir o seu trabalho em mão propria, cabendo-me a vantagem de o conhecer.

(Será facil reconhecer me pois levarei na mão o rollo dos papeis).

De V. Ex.ª

Mtº Atº V.or e Ob.º

Oliveira Marfins

Porto
4/2/1884

J. T.

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