III
Em
24 de Outubro de 1895, em virtude do estatuído na Reforma de Instrução
Secundária de 14de Agosto desse ano, em que pela primeira vez, entre
nós, se decretou o ensino de classes, foi nomeado reitor, estranho ao
corpo docente, o oficial da Armada, na inactividade temporária,
Francisco Augusto da Fonseca Regala. Eram professores efectivos: João da
Maia Romão, Elias Fernandes Pereira, Álvaro de Moura Coutinho de Almeida
de Eça, José Rodrigues Soares, Albino Dias Ladeira de Castro, Manuel
Gonçalves de Figueiredo (exonerado do cargo de Reitor por dec. de 24 de
Outubro de 1895), Manuel Rodrigues Vieira e Ildefonso Marques Mano; e
professor interino José Marques de Castilho.
A acção de
Francisco Regala como chefe deste estabelecimento de ensino foi
altamente benéfica. Austero, rígido, todo votado ao cumprimento das
obrigações que o seu cargo lhe impunha, Francisco Regala só tinha dois
pensamentos
−
o da lealdade
para com os seus subordinados e o do engrandecimento moral e material do
Instituto que durante quinze anos dirigiu. A acta de 16 de Outubro de
1907, em que a sua acção é louvada pelo Conselho Escolar, e a de 19 de
Outubro de 1919, em que se despede daquele
−
mostram-nos bem
que Francisco Regala era verdadeiramente
−
um Reitor.
O novo Reitor
tomou assento, pela primeira vez, no Conselho Escolar, no dia 2 de
Novembro de 1895. Nessa sessão, o Reitor cessante, Manuel Gonçalves de
Figueiredo, pede a palavra para lembrar o quanto era indispensável e urgente,
para a
regularidade do serviço das aulas e execução do ensino, que se aumentasse o número de casas para as mesmas aulas,
visto como as
actualmente disponíveis bem longe estavam de satisfazer
/ 222 / convenientemente ás necessidades do
serviço. Que o estabelecimento do novo regime d e Instrução Secundária tornava
para já, e ainda mais nos futuros anos, indispensável dividir em
dois ou três compartimentos cada uma das salas Norte e Sul, da frente do
edifício, parecendo-lhe conveniente que se interrompesse a sessão, por um pouco, para todos irem ao local informar-se por inspecção directa do que melhor conviria fazer, como
com efeito foram. Depois do que se concordou que cada uma das referidas
salas se dividisse em três compartimentos, dois iguais e um maior,
lembrando o Reitor que ficasse o professor Maia Romão encarregado de apresentar, na sessão seguinte, o pensamento do conselho reduzido a
planta, para, em vista dela, se solicitar do Governo a necessária
autorização para a execução da mesma planta». Esta planta foi
apresentada ao Conselho em 2 de Dezembro desse mesmo ano.
Os seis primeiros anos da reitoria de Francisco Regala são seis longos
anos de desesperança e arrelia: o Liceu, materialmente, não fazia
progressos!
No Anuário do Liceu, relativo a 1896-1897, figura o nome dum novo
professor efectivo
−
António Carlos Cardoso de
Lemos
−, que em 1897-1898
é dado em serviço no Liceu de Coimbra. É nomeado, para o substituir o prof. interino José Marques
de Castilho (P.e).
Em 1898-1899, deixa de figurar o nome daquele professor;
além dos
efectivos, figuram os provisórios José Marques de Castilho e Francisco
Augusto da Silva Rocha, prof. da Escola Industrial de «Fernando
Caldeira».
O Anuário de 1899-1900 elucida-nos que o professor Manuel Gonçalves de
Figueiredo deixara de reger a partir de 12 de Maio de 1900, por motivo
de doença, e que para o substituir fora nomeado o professor interino
Armando da Cunha Azevedo, médico. O prof. Marques de Castilho continua
na regência interina.
Em 1900-1901 figuram dois professores novos: Alexandre Ferreira da Cunha
e Sousa, do Liceu da Guarda, em comissão; e Eduardo Silva, transferido
do Liceu de Leiria. Eram prof. interinos: Francisco da Silva Rocha e
Armando da Cunha Azevedo.
De 1901 por diante, modifica-se a situação do Liceu. Da
acta de 2 de Dezembro desse ano conclui-se que o Liceu acabara de sofrer
reparações. Infelizmente, como deixou de se publicar o Anuário,
certamente por falta de dinheiro, apenas temos as informações das actas,
que só nos podem dar uma pequena ideia da actividade do Reitor, na ânsia
de melhorar as condições materiais do Liceu, e das arrelias sofridas.
Da acta, pois, de
2 de Dezembro de 1901, consta que o Reitor «declarou
que, achando-se quasi concluidas as reparações a que se estava
procedendo no edificio do lyceu e estando proxima
/ 223 / a mudança da repartição do Governo Civil, das sallas que occupa no
mesmo edificio, para caza que o Governo mandara alugar para sua
installação, lhe parecia chegado o momento de propor que na acta fosse
lançado um voto de reconhecimento
aos Ex.mos Conselheiros Albano de Melo Ribeiro Pinto e José Coelho da
Motta Prégo, digno Governador Civil do districto, pelo modo como
concorreram para se realisar a referida mudança e mencionadas
reparações. O Ex.mo Conselheiro Albano de Melo chamou oportunamente, na Camara dos Senhores Deputados, a attenção do
Ex.mo Ministro das Obras
Publicas para o estado vergonhoso em que se achava o edificio do lyceu;
e obtendo de S. Ex.ª ordem para se proceder ao projecto e orçamento das
obras a fazer, particularmente conseguio que o Ex.mo Presidente do
Conselho de Ministros e Ministro do Reino fizesse inscrever no orçamento
do Estado a verba necessaria para o arrendamento da caza em que ia ser
installada a repartição do Governo Civil. Por estes meios secundara S.
Ex.ª expontaneamente a requesição que elle reitor fizera á Direcção
Geral d'Instrução Publica relativamente á necessidade de se findar
reparações e mudança.
O Ex.mo Conselheiro Motta Prégo, tendo tomado posse do Governo Civil do
districto e visitado o edificio do lyceu e vendo a necessidade de ser
satisfeita, o mais breve possivel, a mesma requesição, conseguira do
Ex.mo Ministro das Obras Publicas, que dotasse a obra a fazer com as
verbas orçadas e que ordenasse a sua realisação. Além disto pedira e
obtivera que depois das reparações projectadas fosse ordenada a
installação da canalisação para illuminar o edificio a gaz. Com relação
á mudança da repartição do Governo Civil, facilitara com a melhor
vontade
a realisação do contracto d'arrendamento da casa onde aquella
repartição ia ser instalada».
Mas a mudança do Governo Civil só mais tarde, como vamos ver, se havia
de fazer. Vejamos o que nos dizem as actas acerca disso e do mais que
interessa à vida do Liceu.
Na sessão de 6 de Outubro de 1902, o reitor lembrou «os bons serviços e
a boa vontade que o Ex.mo Director das Obras Publicas do Districto
prestara a este edificio na realisação dos recentes e grandes reparos
que soffreo o mesmo edificio, havendo-se aquelle cavalheiro
interessado por tal modo no assumpto, que entendia de justiça ficar
aqui consignado um voto de louvor e d'agradecimento ao Ex.mo Sr. Diniz
Theodoro d'Oliveira, ao tempo e ainda então investido n'aquelle elevado
cargo».
Na sessão de 4 de Novembro do mesmo ano, «pedio a todos os professores
lhe fornecessem, no mais curto praso de tempo possivel, uma relação
d'objectos para estudo prático que cada um julgasse mais conveniente no
ensino da sua cadeira a fim de solicitar da Direcção Geral d'Instruçâo
Publica o fornecimento dos mesmos objectos».
/ 224 /
Pela acta de 1 de Maio de 1903, ficamos sabendo que haviam saído do Liceu as repartições de Fazenda: o reitor
«propoz... um voto de agradecimento aos Senhores Director
das Obras Publicas d'este districto e Governador Civil, pelos
serviços prestados em favor da remoção da repartição de Fazenda».
Entretanto, prosseguiam as obras no edifício do Largo do
Terreiro para instalação do Governo Civil e outras repartições,
mas nem por isso cessaram as instâncias do Reitor, para que
as salas do rés-do-chão do edifício do Liceu fossem restituídas.
Na sessão de 1 de Fevereiro de 1907, «propoz que o conselho escolar fosse, encorporado, representar ao
Ex.mo Governador Civil do Districto, no sentido de esse magistrado se
empenhar para que o edificio das repartições seja concluido o
mais breve possivel, pois que o Lyceu, caso aquellas repartições
publicas continuem no seu edificio, não terá os compartimentos
necessarios para as aulas, as quaes augmentaram, dada a possibilidade de desdobramento da terceira classe, no proximo futuro
ano lectivo».
Mas agora aumentam as aspirações de progresso. No Relatório do Anuário do Liceu de 1906-1907, escreve Francisco
Regala:
−
«Sendo-Ihe entregues e adaptadas aos serviços que
funcionam em compartimentos provisórios, as salas presentemente occupados pelo Governo Civil; modificada a mobilia das aulas;
adquirido, para recreio, o terreno adjacente à fachada posterior do edificio, o Lyceu de Aveiro ficará installado nas melhores condições hygienicas e pedagogicas. A aquisição d'este
terreno é essencial, não só para a boa disciplina escolar, como
para a educação dos alunos». E nota também a necessidade da
construção dum Ginásio, para que a Educação Física não
tivesse de se fazer em edifício diferente, como se fazia.
Na sessão de 5 de Abril de 1907, «apresentou o Reitor e
leu ao Conselho um projecto d'uma «Caixa Escolar», denominada «Caixa Escolar do Lyceu Nacional de Aveiro», em forma
de associação, tendo por fim constituir capital destinado ao
pagamento das despezas a fazer com excursões escolares de
estudo e subsidiar estudantes pobres que frequentarem o mesmo lyceu, fornecendo-lhes
livros, pagando-lhes propinas de
matricula e, quando fôr possivel, conceder-lhes pensões para a
sua alimentação».
Em Novembro desse mesmo ano sentia-se que se avizinhava
a saída da repartição do Governo Civil. Na sessão de 4, fala o
Reitor da necessidade de «mobilar com bancos-carteiras, no
decurso do anno actual, duas salas d'aula a estabelecer nos
compartimentos em que está o Governo Civil, logo que esta
repartição os desoccupe: adquirir um armario para a collecção
de material de ensino de historia e geografia, que está prometida
/ 225 / ao lyceu, e um quadro preto para uma aula; e proceder às
obras d'adaptação e limpeza de que precisarem aquelles compartimentos».
|
É muito importante a acta do dia 13 de Dezembro do mesmo ano de 1907.
O Reitor apresenta a seguinte proposta:
−«Tendo começado
a mudança das repartições do Governo Civil para a casa do Terreiro,
ficando o Lyceu, com a mudança, finalmente, depois
de 43 anos, de posse do seu edificio, proponho que o conselho
escolar lance na acta d'esta sessão um voto de louvor e de
agradecimento aos cavalheiros que ultimamente mais diligencias fizeram
para vencer as difficuldades que, já d'há muito, se teem opposto á
referida mudança. |
Francisco
Augusto da Fonseca Regala
(1848-1927) |
Esses cavalheiros sam: o Ex.mo Sr. Leopoldo Machado
que, como Governador Civil do dlstricto, tomando em consideração a
representação que o
conselho escolar lhe dirigiu no passado anno lectivo, deu então os
primeiros passos para a mudança; e o Ex.mo Sr. Dr. Casimiro Barreto
Ferraz Sacchetti Taveira, actual Governador Civil do districto, que,
logo ao tomar posse do elevado cargo que exerce, prometteu ordenar,
com a maior brevidade, a desoccupação das salas onde o Governo Civil
funcciona e que, para cumprimento
d'esta promessa, diligenciou vencer os ultimos obstaculos que
se oppunham, como de facto venceu, conseguindo do Governo
os meios necessarios e ordenando a mudança immediata. S. Ex.ª
prestou assim à instrucção do seu districto e ao Lyceu um serviço relevante que lhe parece a elle proponente dever ser reconhecido desde já pelo conselho».
Na sessão de 6 de Março de 1908, o Reitor Regala, que
era, ao mesmo tempo, o Presidente da Caixa Económica de Aveiro, comunica
ao Conselho Escolar a instituição, pela Caixa Económica, do prémio anual e pecuniário de 30$00, denominado
−
«Prêmio do Governador Civil Nicolau Anastácio
Bettencourt»
−
«que será annualmente conferido ao alumno ordinario da
5.ª
classe do Lyceu Nacional de Aveiro e que, ao mesmo
tempo, o
/ 226 /
houver sido das demais classes, que, com mais distinção, termine o Curso
Geral do Lyceu»(1).
Na sessão solene da abertura das aulas, em 16 de Outubro de 1908,
presidida pelo Governador Civil, dirigiu-se o Reitor ao «Ex.mo
Presidente, Sr. Conde de Águeda, pedindo-lhe, em seu nome e no do
Conselho Escolar, a que presidia, a sua valiosa coadjuvação e
indiscutível boa vontade para a realização de progressos a introduzir
nos serviços deste instituto, nomeadamente a rápida aquisição de grande
parte do terreno particular adjacente ao edifício, a fim de nele se
estabelecer um horto botânico e, sobretudo, um ginásio ao ar livre e à
altura da actualidade, tendente a concorrer poderosamente para o
rejuvenescimento da raça, por uma científica e bem entendida educação
física da mocidade das escolas; problema, cuja solução definitiva não
é lícito adiar por mais tempo»(2).
São da alocução proferida pelo reitor na aludida sessão da abertura das
aulas, que pode ler-se no Anuário de 1908-1909, as seguintes palavras,
em que se dá conta dos progressos realizados nas instalações liceais:
−
«Alcançado este desideratum (saída do Govêrno Civil), que
constituiu uma lucta de muitos annos, contra difficuldades que surgiam a
cada passo-reaes e até phantasiadas−; effectuadas, á custa da dotação do
lyceu, as obras de limpeza e da adaptação das salas que nos foram
entregues, aos serviços a que iam ser destinados; realizados pela
Repartição d'Obras Publicas do Districto os melhoramentos, ha muito
requisitados, para facilitar a renovação do ar nas differentes salas
d'aula, taes como-abertura de ventiladores nos tectos das do pavimento
superior e modificação nas bandeiras de todas as janellas, por fórma a
permitir a sua abertura, quando seja necessaria; guarnecidas as salas
que não teem amphitheatro, com mobília apropriada ao seu
destino
−
bancos-carteiras
−
modelo Retig, modificado por esta reitoria, de
forma a permitir, a cada alumno, que possa levantar-se e conservar-se de
pé no seu logar, independentemente do companheiro de banco; tive
finalmente a intima satisfação de ver as aulas d'este lyceu,
funccionando em condições do melhor proveito para o ensino e offerecendo
aos alumnos as commodidades necessarias, para evitar a sua deformação
physica e poderem permanecer alli, sem o menor prejuizo da sua saude»
(pág. 6).
É da acta da sessão do Conselho Escolar de 2 de Dezembro de 1908 a seguinte proposta do reitor Regala:
−«Proponho
/ 227 /
que na acta d'esta sessão seja exaradp um voto de louvor e agradecimento
ao Ex.mo Sr. Conde d'Águeda, Governador Civil d'este districto, pelo
empenho com que tem tratado de conseguir uma solução favorável á pretenção que, na sessão solemne
da abertura das aulas, expuz e para a qual pedi a valiosa protecção de
S. Ex.ª, relativa á remodelação da divisão interior do edifício do Lyceu
e á acquisição do terreno adjacente á sua fachada posterior, para campo
de exercícios de educação physica, jogos sportivos e recreio dos alumnos».
A seguir, informa que, graças às diligências do Sr. Conde de
Águeda, o
Governo «já Ordenou a elaboração do projecto e orçamento das obras a
effectuar no edificio e pediu ... a avaliação do terreno a adquirir para
ser organisado o necessario processo d'expropriação».
Para o prosseguimento desta breve monografia, socorremo-nos agora das
informações que nos pode fornecer o 5.º livro das actas dos conselhos
escolares, cuja primeira acta é de 26 de Abril de 1909.
Na de 16 de Outubro desse ano consta que o Reitor rememorou «os bons
serviços que, d'ha muito, vem prestando a este
estabelecimento scientifico o Ex.mo Conde de Águeda, illustre Governador
Civil d'este districto, principalmente durante o anno escolar findo, em
que S. Ex.ª, a solicitações do Ex.mo Reitor do mesmo estabelecimento,
obteve do Estado dois importantissimos
melhoramentos, em via de realisação, quaes foram uma profunda remodelação do interior d'este edificio e a construcção d'um
gymnasio no terreno adjacente à fachada posterior do mesmo edificio.
Pelo que, disse, lhe era grato e, por certo tambem a este conselho
escolar testemunhar, publicamente, mais uma vez a sua gratidão, da qual tam prestante cavalheiro se torna credor».
Em 1909, ano do 1.º centenário do nascimento de José Estêvão(3), o
Conselho Escolar associa-se às festas, que por esse
motivo se realizaram. Na sessão de 3 de Novembro, «o professor, Álvaro d'Athayde, leu e mandou para a mesa a seguinte
proposta:
−Proponho que o Lyceu Nacional d'Aveiro se manifeste, por
ocasião das festas em honra de José Estevam, pela forma seguinte: 1.º
−
Descerramento,
no atrio do Lyceu, de uma lápide de marmore, por meio de rateio entre
todos os professores do conselho, e da qual conste que a construção do
edificio se deve á propugnação tenaz e valiosa do eminente tribuno; 2.º
−
Sessão solemne, em que se lerá o elogio historico de José Estevam e
na qual se apresentará o Orpheon academico».
O Conselho aprovou a proposta e «deliberou nomear uma commissão,
composta de tres membros presentes, com poderes
/ 228 /
para alterar ou ampliar a referida proposta, devendo, em tempo opportuno,
dar conta dos seus trabalhos a este conselho; commissão essa que ficou
composta do Ex.mo Reitor, Álvaro de Athayde e José Maria Soares».
A este respeito, nada, porém, consta das actas subsequentes. A lápide
foi colocada na parede da direita do átrio.
Em sessão extraordinária do dia 28 de Janeiro de 1910, o Reitor dá «ao
conselho conhecimento d'um telegramma que, no dia anterior, havia
recebido do Ex.mo Governador Civil do Distrito, Conde de
Águeda, e que
gostosamente passava a ler, vista a alta importancia que o assumpto do
mesmo telegrama tinha:
− «Lisboa, 27 de Janeiro de 1910.
Ex.mo Reitor
Lyceu Aveiro: Com a maior satisfação comunico a V. Ex.ª que acaba de ser
approvado emprestimo onze contos de reis para as obras lyceu d'essa
cidade». Depois do quê, o conselho, reconhecendo o alto alcance do
serviço prestado a este instituto e á instrução do districto pelo Ex.mo
Conde d'Águeda, digno Goverdador Civil Districto, a cujos esforços e
pertinaz desejo de bem servir causa tão sympathica se deve a realisação
do grande desideratum d'este conselho, gostosa e unanimemente deliberou
que na acta fosse exarado um caloroso voto de louvor e de sincero
agradecimento a S. Ex.ª, pelo relevantissimo serviço que acabava de
prestar ao
Lyceu e á instrução do districto que superiormente dirige, e
d'este facto se desse logo, por communicação telegraphica, conhecimento
ao mencionado Ex.mo Conde d'Águeda».
Não descansa o reitor Francisco Regala na consecução dos melhoramentos
do Liceu que dirigia. Ao relatório que figura no anuário do Liceu,
relativo a 1909-1910, pertencem estas palavras da notada pág. 16:
−O «emprestimo
foi, de facto, auctorisado e contratado pelo Estado com a Caixa Geral
dos Depositos, na importancia de 11:260$000 reis em que foram orçadas as
obras, já iniciadas, e a expropriação do terreno, destinado a campo de
desportos e à construcção do edificio do gymnasio. Está, assim,
assegurada a realização do projecto de melhoramentos, que, elaborado
pelo snr. José da Maya Romão, conductor das Obras Publicas, sob as
indicações fornecidas pela reitoria, foi adoptado sem modificações pelo
conselho escolar».
Este reitor não chegou a presidir à realização dos melhoramentos. O
decreto de 17 de Outubro de 1910 demitia os reitores de todos os liceus.
Na sessão de 19 deste mês, o reitor Francisco Regala entregou ao
Conselho as funções do cargo que desde 1895 desempenhava. Disse «que
retirava com a consciencia tranquilla, pois, emquanto exerceu as funções
de reitor que entregava, cumpriu sempre os seus deveres, se não com a
competencia que o cargo exigia, com a boa vontade de servir bem e não se
poupando por isso a trabalhos. Parecia-lhe que alguma coisa fizera para
elevar o Lyceu á altura da sua missão.»
/ 229 / A seguir, agradeceu a colaboração de todos e falou sobre
os assuntos de administração pendentes.
O professor Elias Pereira apresentou a seguinte proposta,
que foi aprovada:
−«Privando-nos as circunstancias, provenientes
das alterações regulamentares ultimamente decretadas, da presença do
cavalheiro a quem, durante quinze annos successivos, tem estado confiada
a direcção superior d'este instituto, onde, como tal, vem desde sempre
representando um papel que, por muitos titulos, o torna crédor da nossa
alta consideração, tenho a honra e o prazer de mandar para a mesa,
pedindo fique exarado na acta d'esta sessão, um voto de profundo
sentimento
pela não continuação do Ex.mo Sr. Francisco Augusto da Fonseca Regala á testa do nosso estabelecimento, do qual, sob
todos os pontos de vista, tractou ininterruptamente com tanto desvelo e
devoção quão intelligentes e proficuos esforços, dando-lhe tão honroso e
civico procedimento incontestavel jus ás nossas homenagens e á nossa
saudade pela sua sahida, forçada pelas circunstancias, da chefia do
lyceu d'Aveiro».
A respeito da acção deste Reitor, deixou o seu sucessor,
Álvaro de Eça,
escritas estas palavras de justiça no relatório do anuário do Liceu,
relativo a 1910-1911:
− «Indica a justiça que, em primeiro logar, deixe
aqui consignado o desgosto que nos causou a retirada do antigo reitor o
sr. Francisco Augusto da Fonseca Regalla que, durante 15 anos, consagrou
com
proveito digno de menção, a sua culta inteligencia e notavel
energia ao progresso da instrução e especialmente ao desenvolvimento do estabelecimento que habilmente dirigiu.
−A' sua tenacidade se
deve, em grande parte, a renovação que o edificio do liceu acaba de
sofrer, colocando-o em condições de satisfazer, senão de uma fórma
perfeita pelo menos aceitavel, ás necessidades do ensino.
− Muito teria
que expôr para comprovar a sua influencia benefica, mas dois factos
bastarão para salientar de um modo frisante, a sua dedicação pelo instituto de que foi
digno chefe.
−
Sendo em 1908 presidente da direcção da Caixa Economica de
Aveiro,... creou, por iniciativa sua, o premio anual de 30$000 reis,
denominado Governador Civil, Nicolau Anastacio Bethencourt, para o aluno
interno da 5.ª classe deste liceu que concluisse o curso geral com maior
distinção;
premio este que já foi conferido a dois alunos.
−
Na sua gerencia foi tambem creada a Caixa Escolar José Estevam Coelho de Magalhães
que alguns serviços tem prestado já, e que, sendo uma instituição
prestante e digna de simpatia, maiores serviços
prestará, logo que, reconhecendo-se o alcance que realmente
tem, se alargue a sua esfera de acção que no presente é, infelizmente,
muito restrita.
−
Durante o largo lapso de quinze anos
foi, aqui, um exemplo constante de amôr ao trabalho, pontualidade e ordem, um escrupuloso regulador de todos os interesses,
/ 230 /
um fiel mantenedor da disciplina, um infatigavel propugnador
do engrandecimento liceal» (pág. 5-6)
(4).
As sessões do Conselho Escolar de 19, 20 e 21 de Outubro
de 1910, foram presididas pelo professor Elias Fernandes Pereira.
Desde 1901 a 1910
foram professores do Liceu de Aveiro:
1901-1902
−
Elias Pereira, Álvaro de Eça, José Rodrigues Soares, Ildefonso Marques
Mano, Manuel Rodrigues Vieira, Eduardo Silva, Alexandre Ferreira da
Cunha e Sousa, Francisco da Silva Rocha e Armando da Cunha Azevedo.
1902-1903
−
Elias, Álvaro de Eça, José Rodrigues Soares, Manuel Rodrigues Vieira,
Marques Mano, Eduardo Silva, Ferreira da Cunha, Silva Rocha e Armando
Azevedo.
1903-1904
−
Elias, Álvaro, Rodrigues Soares, Vieira, M. Mano, Eduardo Silva, F. da
Cunha, Silva Rocha, Barbosa de Andrade (Matemática) e P.e Campos
Ferreira.
|
|
Padre Manuel
Rodrigues Vieira |
1904-1905
−
Os mesmos do ano anterior, mas o prof. Barbosa de Andrade aparece a
certa altura substituído pelo ten.-cor. da guarnição de Aveiro, Aniceto
de Paiva Gonzalez Bobela, e não figura o prof. Campos Ferreira.
1905-1906
− Elias,
Álvaro, J. Soares, Marques Mano, Vieira,
Ed. Silva, F. da Cunha, Barbosa de Andrade, Silva Rocha e Henrique
Brunswich (alemão).
1906-1907
− Elias,
Álvaro, Soares, Vieira, Marques Mano,
Ferreira da Cunha, Eduardo Silva, e os interinos: João de Morais Zamith,
Lourenço Simões Peixinho, José Maria Soares, Henrique Brunswich, Joaquim
Maria de Oliveira Simões (alferes de infantaria) e Celestino Marques do
Couto (cap.), prof. de ginástica.
/ 231 /
1907-1908
− Elias,
Álvaro, Soares, Vieira, F. da Cunha, Eduardo Silva,
Álvaro de Ataíde; Peixinho, Zamith, José António da Silva (inglês e alemão), Oliveira Simões e José Maria
Soares(5).
1908-1909
− Elias,
Álvaro, Soares, Vieira, F. da Cunha, Eduardo Silva,
Ataíde; Zamith, Oliveira Simões, Celestino Couto.
1901-1910
− Efectivos, os mesmos do ano anterior; provisórios: José Maria Soares, Zamith, Oliveira Simões e o tenente Mário de
Mourão Gamelas.
JOSÉ PEREIRA TAVARES
Conclui na pág. 272
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