José Pereira Tavares, História do Liceu de Aveiro, Vol. III, pp. 221-231.

HISTÓRIA DO LICEU DE AVEIRO

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III

Em 24 de Outubro de 1895, em virtude do estatuído na Reforma de Instrução Secundária de 14de Agosto desse ano, em que pela primeira vez, entre nós, se decretou o ensino de classes, foi nomeado reitor, estranho ao corpo docente, o oficial da Armada, na inactividade temporária, Francisco Augusto da Fonseca Regala. Eram professores efectivos: João da Maia Romão, Elias Fernandes Pereira, Álvaro de Moura Coutinho de Almeida de Eça, José Rodrigues Soares, Albino Dias Ladeira de Castro, Manuel Gonçalves de Figueiredo (exonerado do cargo de Reitor por dec. de 24 de Outubro de 1895), Manuel Rodrigues Vieira e Ildefonso Marques Mano; e professor interino José Marques de Castilho.

A acção de Francisco Regala como chefe deste estabelecimento de ensino foi altamente benéfica. Austero, rígido, todo votado ao cumprimento das obrigações que o seu cargo lhe impunha, Francisco Regala só tinha dois pensamentos o da lealdade para com os seus subordinados e o do engrandecimento moral e material do Instituto que durante quinze anos dirigiu. A acta de 16 de Outubro de 1907, em que a sua acção é louvada pelo Conselho Escolar, e a de 19 de Outubro de 1919, em que se despede daquele mostram-nos bem que Francisco Regala era verdadeiramente um Reitor.

O novo Reitor tomou assento, pela primeira vez, no Conselho Escolar, no dia 2 de Novembro de 1895. Nessa sessão, o Reitor cessante, Manuel Gonçalves de Figueiredo, pede a palavra para lembrar o quanto era indispensável e urgente, para a regularidade do serviço das aulas e execução do ensino, que se aumentasse o número de casas para as mesmas aulas, visto como as actualmente disponíveis bem longe estavam de satisfazer / 222 / convenientemente ás necessidades do serviço. Que o estabelecimento do novo regime d e Instrução Secundária tornava para já, e ainda mais nos futuros anos, indispensável dividir em dois ou três compartimentos cada uma das salas Norte e Sul, da frente do edifício, parecendo-lhe conveniente que se interrompesse a sessão, por um pouco, para todos irem ao local informar-se por inspecção directa do que melhor conviria fazer, como com efeito foram. Depois do que se concordou que cada uma das referidas salas se dividisse em três compartimentos, dois iguais e um maior, lembrando o Reitor que ficasse o professor Maia Romão encarregado de apresentar, na sessão seguinte, o pensamento do conselho reduzido a planta, para, em vista dela, se solicitar do Governo a necessária autorização para a execução da mesma planta». Esta planta foi apresentada ao Conselho em 2 de Dezembro desse mesmo ano.

Os seis primeiros anos da reitoria de Francisco Regala são seis longos anos de desesperança e arrelia: o Liceu, materialmente, não fazia progressos!

No Anuário do Liceu, relativo a 1896-1897, figura o nome dum novo professor efectivo António Carlos Cardoso de Lemos , que em 1897-1898 é dado em serviço no Liceu de Coimbra. É nomeado, para o substituir o prof. interino José Marques de Castilho (P.e).

Em 1898-1899, deixa de figurar o nome daquele professor; além dos efectivos, figuram os provisórios José Marques de Castilho e Francisco Augusto da Silva Rocha, prof. da Escola Industrial de «Fernando Caldeira».

O Anuário de 1899-1900 elucida-nos que o professor Manuel Gonçalves de Figueiredo deixara de reger a partir de 12 de Maio de 1900, por motivo de doença, e que para o substituir fora nomeado o professor interino Armando da Cunha Azevedo, médico. O prof. Marques de Castilho continua na regência interina.

Em 1900-1901 figuram dois professores novos: Alexandre Ferreira da Cunha e Sousa, do Liceu da Guarda, em comissão; e Eduardo Silva, transferido do Liceu de Leiria. Eram prof. interinos: Francisco da Silva Rocha e Armando da Cunha Azevedo.

De 1901 por diante, modifica-se a situação do Liceu. Da acta de 2 de Dezembro desse ano conclui-se que o Liceu acabara de sofrer reparações. Infelizmente, como deixou de se publicar o Anuário, certamente por falta de dinheiro, apenas temos as informações das actas, que só nos podem dar uma pequena ideia da actividade do Reitor, na ânsia de melhorar as condições materiais do Liceu, e das arrelias sofridas.

Da acta, pois, de 2 de Dezembro de 1901, consta que o Reitor «declarou que, achando-se quasi concluidas as reparações a que se estava procedendo no edificio do lyceu e estando proxima / 223 / a mudança da repartição do Governo Civil, das sallas que occupa no mesmo edificio, para caza que o Governo mandara alugar para sua installação, lhe parecia chegado o momento de propor que na acta fosse lançado um voto de reconhecimento aos Ex.mos Conselheiros Albano de Melo Ribeiro Pinto e José Coelho da Motta Prégo, digno Governador Civil do districto, pelo modo como concorreram para se realisar a referida mudança e mencionadas reparações. O Ex.mo Conselheiro Albano de Melo chamou oportunamente, na Camara dos Senhores Deputados, a attenção do Ex.mo Ministro das Obras Publicas para o estado vergonhoso em que se achava o edificio do lyceu; e obtendo de S. Ex.ª ordem para se proceder ao projecto e orçamento das obras a fazer, particularmente conseguio que o Ex.mo Presidente do Conselho de Ministros e Ministro do Reino fizesse inscrever no orçamento do Estado a verba necessaria para o arrendamento da caza em que ia ser installada a repartição do Governo Civil. Por estes meios secundara S. Ex.ª expontaneamente a requesição que elle reitor fizera á Direcção Geral d'Instrução Publica relativamente á necessidade de se findar reparações e mudança.

O Ex.mo Conselheiro Motta Prégo, tendo tomado posse do Governo Civil do districto e visitado o edificio do lyceu e vendo a necessidade de ser satisfeita, o mais breve possivel, a mesma requesição, conseguira do Ex.mo Ministro das Obras Publicas, que dotasse a obra a fazer com as verbas orçadas e que ordenasse a sua realisação. Além disto pedira e obtivera que depois das reparações projectadas fosse ordenada a installação da canalisação para illuminar o edificio a gaz. Com relação á mudança da repartição do Governo Civil, facilitara com a melhor vontade a realisação do contracto d'arrendamento da casa onde aquella repartição ia ser instalada».

Mas a mudança do Governo Civil só mais tarde, como vamos ver, se havia de fazer. Vejamos o que nos dizem as actas acerca disso e do mais que interessa à vida do Liceu.

Na sessão de 6 de Outubro de 1902, o reitor lembrou «os bons serviços e a boa vontade que o Ex.mo Director das Obras Publicas do Districto prestara a este edificio na realisação dos recentes e grandes reparos que soffreo o mesmo edificio, havendo-se aquelle cavalheiro interessado por tal modo no assumpto, que entendia de justiça ficar aqui consignado um voto de louvor e d'agradecimento ao Ex.mo Sr. Diniz Theodoro d'Oliveira, ao tempo e ainda então investido n'aquelle elevado cargo».

Na sessão de 4 de Novembro do mesmo ano, «pedio a todos os professores lhe fornecessem, no mais curto praso de tempo possivel, uma relação d'objectos para estudo prático que cada um julgasse mais conveniente no ensino da sua cadeira a fim de solicitar da Direcção Geral d'Instruçâo Publica o fornecimento dos mesmos objectos». / 224 /

Pela acta de 1 de Maio de 1903, ficamos sabendo que haviam saído do Liceu as repartições de Fazenda: o reitor «propoz... um voto de agradecimento aos Senhores Director das Obras Publicas d'este districto e Governador Civil, pelos serviços prestados em favor da remoção da repartição de Fazenda».

Entretanto, prosseguiam as obras no edifício do Largo do Terreiro para instalação do Governo Civil e outras repartições, mas nem por isso cessaram as instâncias do Reitor, para que as salas do rés-do-chão do edifício do Liceu fossem restituídas.

Na sessão de 1 de Fevereiro de 1907, «propoz que o conselho escolar fosse, encorporado, representar ao Ex.mo Governador Civil do Districto, no sentido de esse magistrado se empenhar para que o edificio das repartições seja concluido o mais breve possivel, pois que o Lyceu, caso aquellas repartições publicas continuem no seu edificio, não terá os compartimentos necessarios para as aulas, as quaes augmentaram, dada a possibilidade de desdobramento da terceira classe, no proximo futuro ano lectivo».

Mas agora aumentam as aspirações de progresso. No Relatório do Anuário do Liceu de 1906-1907, escreve Francisco Regala: «Sendo-Ihe entregues e adaptadas aos serviços que funcionam em compartimentos provisórios, as salas presentemente occupados pelo Governo Civil; modificada a mobilia das aulas; adquirido, para recreio, o terreno adjacente à fachada posterior do edificio, o Lyceu de Aveiro ficará installado nas melhores condições hygienicas e pedagogicas. A aquisição d'este terreno é essencial, não só para a boa disciplina escolar, como para a educação dos alunos». E nota também a necessidade da construção dum Ginásio, para que a Educação Física não tivesse de se fazer em edifício diferente, como se fazia.

Na sessão de 5 de Abril de 1907, «apresentou o Reitor e leu ao Conselho um projecto d'uma «Caixa Escolar», denominada «Caixa Escolar do Lyceu Nacional de Aveiro», em forma de associação, tendo por fim constituir capital destinado ao pagamento das despezas a fazer com excursões escolares de estudo e subsidiar estudantes pobres que frequentarem o mesmo lyceu, fornecendo-lhes livros, pagando-lhes propinas de matricula e, quando fôr possivel, conceder-lhes pensões para a sua alimentação».

Em Novembro desse mesmo ano sentia-se que se avizinhava a saída da repartição do Governo Civil. Na sessão de 4, fala o Reitor da necessidade de «mobilar com bancos-carteiras, no decurso do anno actual, duas salas d'aula a estabelecer nos compartimentos em que está o Governo Civil, logo que esta repartição os desoccupe: adquirir um armario para a collecção de material de ensino de historia e geografia, que está prometida / 225 / ao lyceu, e um quadro preto para uma aula; e proceder às obras d'adaptação e limpeza de que precisarem aquelles compartimentos».

 

É muito importante a acta do dia 13 de Dezembro do mesmo ano de 1907.

O Reitor apresenta a seguinte proposta: «Tendo começado a mudança das repartições do Governo Civil para a casa do Terreiro, ficando o Lyceu, com a mudança, finalmente, depois de 43 anos, de posse do seu edificio, proponho que o conselho escolar lance na acta d'esta sessão um voto de louvor e de agradecimento aos cavalheiros que ultimamente mais diligencias fizeram para vencer as difficuldades que, já d'há muito, se teem opposto á referida mudança.

Francisco Augusto da Fonseca Regala
(1848-1927)

Esses cavalheiros sam: o Ex.mo Sr. Leopoldo Machado que, como Governador Civil do dlstricto, tomando em consideração a representação que o conselho escolar lhe dirigiu no passado anno lectivo, deu então os primeiros passos para a mudança; e o Ex.mo Sr. Dr. Casimiro Barreto Ferraz Sacchetti Taveira, actual Governador Civil do districto, que, logo ao tomar posse do elevado cargo que exerce, prometteu ordenar, com a maior brevidade, a desoccupação das salas onde o Governo Civil funcciona e que, para cumprimento d'esta promessa, diligenciou vencer os ultimos obstaculos que se oppunham, como de facto venceu, conseguindo do Governo os meios necessarios e ordenando a mudança immediata. S. Ex.ª prestou assim à instrucção do seu districto e ao Lyceu um serviço relevante que lhe parece a elle proponente dever ser reconhecido desde já pelo conselho».

Na sessão de 6 de Março de 1908, o Reitor Regala, que era, ao mesmo tempo, o Presidente da Caixa Económica de Aveiro, comunica ao Conselho Escolar a instituição, pela Caixa Económica, do prémio anual e pecuniário de 30$00, denominado «Prêmio do Governador Civil Nicolau Anastácio Bettencourt» «que será annualmente conferido ao alumno ordinario da 5.ª classe do Lyceu Nacional de Aveiro e que, ao mesmo tempo, o / 226 / houver sido das demais classes, que, com mais distinção, termine o Curso Geral do Lyceu»(1).

Na sessão solene da abertura das aulas, em 16 de Outubro de 1908, presidida pelo Governador Civil, dirigiu-se o Reitor ao «Ex.mo Presidente, Sr. Conde de Águeda, pedindo-lhe, em seu nome e no do Conselho Escolar, a que presidia, a sua valiosa coadjuvação e indiscutível boa vontade para a realização de progressos a introduzir nos serviços deste instituto, nomeadamente a rápida aquisição de grande parte do terreno particular adjacente ao edifício, a fim de nele se estabelecer um horto botânico e, sobretudo, um ginásio ao ar livre e à altura da actualidade, tendente a concorrer poderosamente para o rejuvenescimento da raça, por uma científica e bem entendida educação física da mocidade das escolas; problema, cuja solução definitiva não é lícito adiar por mais tempo»(2).

São da alocução proferida pelo reitor na aludida sessão da abertura das aulas, que pode ler-se no Anuário de 1908-1909, as seguintes palavras, em que se dá conta dos progressos realizados nas instalações liceais: «Alcançado este desideratum (saída do Govêrno Civil), que constituiu uma lucta de muitos annos, contra difficuldades que surgiam a cada passo-reaes e até phantasiadas; effectuadas, á custa da dotação do lyceu, as obras de limpeza e da adaptação das salas que nos foram entregues, aos serviços a que iam ser destinados; realizados pela Repartição d'Obras Publicas do Districto os melhoramentos, ha muito requisitados, para facilitar a renovação do ar nas differentes salas d'aula, taes como-abertura de ventiladores nos tectos das do pavimento superior e modificação nas bandeiras de todas as janellas, por fórma a permitir a sua abertura, quando seja necessaria; guarnecidas as salas que não teem amphitheatro, com mobília apropriada ao seu destino bancos-carteiras modelo Retig, modificado por esta reitoria, de forma a permitir, a cada alumno, que possa levantar-se e conservar-se de pé no seu logar, independentemente do companheiro de banco; tive finalmente a intima satisfação de ver as aulas d'este lyceu, funccionando em condições do melhor proveito para o ensino e offerecendo aos alumnos as commodidades necessarias, para evitar a sua deformação physica e poderem permanecer alli, sem o menor prejuizo da sua saude» (pág. 6).

É da acta da sessão do Conselho Escolar de 2 de Dezembro de 1908 a seguinte proposta do reitor Regala: «Proponho / 227 / que na acta d'esta sessão seja exaradp um voto de louvor e agradecimento ao Ex.mo Sr. Conde d'Águeda, Governador Civil d'este districto, pelo empenho com que tem tratado de conseguir uma solução favorável á pretenção que, na sessão solemne da abertura das aulas, expuz e para a qual pedi a valiosa protecção de S. Ex.ª, relativa á remodelação da divisão interior do edifício do Lyceu e á acquisição do terreno adjacente á sua fachada posterior, para campo de exercícios de educação physica, jogos sportivos e recreio dos alumnos».

A seguir, informa que, graças às diligências do Sr. Conde de Águeda, o Governo «já Ordenou a elaboração do projecto e orçamento das obras a effectuar no edificio e pediu ... a avaliação do terreno a adquirir para ser organisado o necessario processo d'expropriação».

Para o prosseguimento desta breve monografia, socorremo-nos agora das informações que nos pode fornecer o 5.º livro das actas dos conselhos escolares, cuja primeira acta é de 26 de Abril de 1909.

Na de 16 de Outubro desse ano consta que o Reitor rememorou «os bons serviços que, d'ha muito, vem prestando a este estabelecimento scientifico o Ex.mo Conde de Águeda, illustre Governador Civil d'este districto, principalmente durante o anno escolar findo, em que S. Ex.ª, a solicitações do Ex.mo Reitor do mesmo estabelecimento, obteve do Estado dois importantissimos melhoramentos, em via de realisação, quaes foram uma profunda remodelação do interior d'este edificio e a construcção d'um gymnasio no terreno adjacente à fachada posterior do mesmo edificio. Pelo que, disse, lhe era grato e, por certo tambem a este conselho escolar testemunhar, publicamente, mais uma vez a sua gratidão, da qual tam prestante cavalheiro se torna credor».

Em 1909, ano do 1.º centenário do nascimento de José Estêvão(3), o Conselho Escolar associa-se às festas, que por esse motivo se realizaram. Na sessão de 3 de Novembro, «o professor, Álvaro d'Athayde, leu e mandou para a mesa a seguinte proposta: Proponho que o Lyceu Nacional d'Aveiro se manifeste, por ocasião das festas em honra de José Estevam, pela forma seguinte: 1.º Descerramento, no atrio do Lyceu, de uma lápide de marmore, por meio de rateio entre todos os professores do conselho, e da qual conste que a construção do edificio se deve á propugnação tenaz e valiosa do eminente tribuno; 2.º Sessão solemne, em que se lerá o elogio historico de José Estevam e na qual se apresentará o Orpheon academico».

O Conselho aprovou a proposta e «deliberou nomear uma commissão, composta de tres membros presentes, com poderes / 228 / para alterar ou ampliar a referida proposta, devendo, em tempo opportuno, dar conta dos seus trabalhos a este conselho; commissão essa que ficou composta do Ex.mo Reitor, Álvaro de Athayde e José Maria Soares».

A este respeito, nada, porém, consta das actas subsequentes. A lápide foi colocada na parede da direita do átrio.

Em sessão extraordinária do dia 28 de Janeiro de 1910, o Reitor dá «ao conselho conhecimento d'um telegramma que, no dia anterior, havia recebido do Ex.mo Governador Civil do Distrito, Conde de Águeda, e que gostosamente passava a ler, vista a alta importancia que o assumpto do mesmo telegrama tinha: «Lisboa, 27 de Janeiro de 1910. Ex.mo Reitor Lyceu Aveiro: Com a maior satisfação comunico a V. Ex.ª que acaba de ser approvado emprestimo onze contos de reis para as obras lyceu d'essa cidade». Depois do quê, o conselho, reconhecendo o alto alcance do serviço prestado a este instituto e á instrução do districto pelo Ex.mo Conde d'Águeda, digno Goverdador Civil Districto, a cujos esforços e pertinaz desejo de bem servir causa tão sympathica se deve a realisação do grande desideratum d'este conselho, gostosa e unanimemente deliberou que na acta fosse exarado um caloroso voto de louvor e de sincero agradecimento a S. Ex.ª, pelo relevantissimo serviço que acabava de prestar ao Lyceu e á instrução do districto que superiormente dirige, e d'este facto se desse logo, por communicação telegraphica, conhecimento ao mencionado Ex.mo Conde d'Águeda».

Não descansa o reitor Francisco Regala na consecução dos melhoramentos do Liceu que dirigia. Ao relatório que figura no anuário do Liceu, relativo a 1909-1910, pertencem estas palavras da notada pág. 16: O «emprestimo foi, de facto, auctorisado e contratado pelo Estado com a Caixa Geral dos Depositos, na importancia de 11:260$000 reis em que foram orçadas as obras, já iniciadas, e a expropriação do terreno, destinado a campo de desportos e à construcção do edificio do gymnasio. Está, assim, assegurada a realização do projecto de melhoramentos, que, elaborado pelo snr. José da Maya Romão, conductor das Obras Publicas, sob as indicações fornecidas pela reitoria, foi adoptado sem modificações pelo conselho escolar».

Este reitor não chegou a presidir à realização dos melhoramentos. O decreto de 17 de Outubro de 1910 demitia os reitores de todos os liceus. Na sessão de 19 deste mês, o reitor Francisco Regala entregou ao Conselho as funções do cargo que desde 1895 desempenhava. Disse «que retirava com a consciencia tranquilla, pois, emquanto exerceu as funções de reitor que entregava, cumpriu sempre os seus deveres, se não com a competencia que o cargo exigia, com a boa vontade de servir bem e não se poupando por isso a trabalhos. Parecia-lhe que alguma coisa fizera para elevar o Lyceu á altura da sua missão.» / 229 /  A seguir, agradeceu a colaboração de todos e falou sobre os assuntos de administração pendentes.

O professor Elias Pereira apresentou a seguinte proposta, que foi aprovada: «Privando-nos as circunstancias, provenientes das alterações regulamentares ultimamente decretadas, da presença do cavalheiro a quem, durante quinze annos successivos, tem estado confiada a direcção superior d'este instituto, onde, como tal, vem desde sempre representando um papel que, por muitos titulos, o torna crédor da nossa alta consideração, tenho a honra e o prazer de mandar para a mesa, pedindo fique exarado na acta d'esta sessão, um voto de profundo sentimento pela não continuação do Ex.mo Sr. Francisco Augusto da Fonseca Regala á testa do nosso estabelecimento, do qual, sob todos os pontos de vista, tractou ininterruptamente com tanto desvelo e devoção quão intelligentes e proficuos esforços, dando-lhe tão honroso e civico procedimento incontestavel jus ás nossas homenagens e á nossa saudade pela sua sahida, forçada pelas circunstancias, da chefia do lyceu d'Aveiro».

A respeito da acção deste Reitor, deixou o seu sucessor, Álvaro de Eça, escritas estas palavras de justiça no relatório do anuário do Liceu, relativo a 1910-1911: «Indica a justiça que, em primeiro logar, deixe aqui consignado o desgosto que nos causou a retirada do antigo reitor o sr. Francisco Augusto da Fonseca Regalla que, durante 15 anos, consagrou com proveito digno de menção, a sua culta inteligencia e notavel energia ao progresso da instrução e especialmente ao desenvolvimento do estabelecimento que habilmente dirigiu. A' sua tenacidade se deve, em grande parte, a renovação que o edificio do liceu acaba de sofrer, colocando-o em condições de satisfazer, senão de uma fórma perfeita pelo menos aceitavel, ás necessidades do ensino. Muito teria que expôr para comprovar a sua influencia benefica, mas dois factos bastarão para salientar de um modo frisante, a sua dedicação pelo instituto de que foi digno chefe. Sendo em 1908 presidente da direcção da Caixa Economica de Aveiro,... creou, por iniciativa sua, o premio anual de 30$000 reis, denominado Governador Civil, Nicolau Anastacio Bethencourt, para o aluno interno da 5.ª classe deste liceu que concluisse o curso geral com maior distinção; premio este que já foi conferido a dois alunos. Na sua gerencia foi tambem creada a Caixa Escolar José Estevam Coelho de Magalhães que alguns serviços tem prestado já, e que, sendo uma instituição prestante e digna de simpatia, maiores serviços prestará, logo que, reconhecendo-se o alcance que realmente tem, se alargue a sua esfera de acção que no presente é, infelizmente, muito restrita. Durante o largo lapso de quinze anos foi, aqui, um exemplo constante de amôr ao trabalho, pontualidade e ordem, um escrupuloso regulador de todos os interesses, / 230 / um fiel mantenedor da disciplina, um infatigavel propugnador do engrandecimento liceal» (pág. 5-6) (4).

As sessões do Conselho Escolar de 19, 20 e 21 de Outubro de 1910, foram presididas pelo professor Elias Fernandes Pereira.

Desde 1901 a 1910 foram professores do Liceu de Aveiro:

1901-1902 Elias Pereira, Álvaro de Eça, José Rodrigues Soares, Ildefonso Marques Mano, Manuel Rodrigues Vieira, Eduardo Silva, Alexandre Ferreira da Cunha e Sousa, Francisco da Silva Rocha e Armando da Cunha Azevedo.

1902-1903 Elias, Álvaro de Eça, José Rodrigues Soares, Manuel Rodrigues Vieira, Marques Mano, Eduardo Silva, Ferreira da Cunha, Silva Rocha e Armando Azevedo.

1903-1904 Elias, Álvaro, Rodrigues Soares, Vieira, M. Mano, Eduardo Silva, F. da Cunha, Silva Rocha, Barbosa de Andrade (Matemática) e P.e Campos Ferreira.

Padre Manuel Rodrigues Vieira

1904-1905 Os mesmos do ano anterior, mas o prof. Barbosa de Andrade aparece a certa altura substituído pelo ten.-cor. da guarnição de Aveiro, Aniceto de Paiva Gonzalez Bobela, e não figura o prof. Campos Ferreira.

1905-1906 Elias, Álvaro, J. Soares, Marques Mano, Vieira, Ed. Silva, F. da Cunha, Barbosa de Andrade, Silva Rocha e Henrique Brunswich (alemão).

1906-1907 Elias, Álvaro, Soares, Vieira, Marques Mano, Ferreira da Cunha, Eduardo Silva, e os interinos: João de Morais Zamith, Lourenço Simões Peixinho, José Maria Soares, Henrique Brunswich, Joaquim Maria de Oliveira Simões (alferes de infantaria) e Celestino Marques do Couto (cap.), prof. de ginástica. / 231 /

1907-1908 Elias, Álvaro, Soares, Vieira, F. da Cunha, Eduardo Silva, Álvaro de Ataíde; Peixinho, Zamith, José António da Silva (inglês e alemão), Oliveira Simões e José Maria Soares(5).

1908-1909 Elias, Álvaro, Soares, Vieira, F. da Cunha, Eduardo Silva, Ataíde; Zamith, Oliveira Simões, Celestino Couto.

1901-1910 Efectivos, os mesmos do ano anterior; provisórios: José Maria Soares, Zamith, Oliveira Simões e o tenente Mário de Mourão Gamelas.

JOSÉ PEREIRA TAVARES

Conclui na pág. 272 ►►►

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(1) O respectivo projecto de regulamento foi aprovado em sessão de 1 de Maio de 1908.  

(2) Nessa sessão, em resposta, o Sr. Conde de Águeda prometeu «empregar todos os seus esforços e boa vontade no sentido de, por sua parte, concorrer para os progressos deste instituto».  

(3) O célebre tribuno nasceu a 26 de Dezembro de 1809. 

(4) Francisco Regala faleceu em Aveiro no dia 18 de Julho de 1917. 

(5) O prof. Marques Mano deixou de prestar serviço a partir de 1 de Outubro de 1907, por ter sido nomeado Dir. Geral do Ensino Primário. 

 

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