Um
ilustrado e prezado amigo facultou-me há tempos o exame dum velho
manuscrito que logo vi ter muito interesse para a história das lutas da
Restauração, resolvendo por isso
tirar dele algumas notas e transcrever alguns dos documentos ali
insertos para publicar no Arquivo do Distrito de Aveiro, visto que
deles
constam referências muito honrosas a pessoas da linda região bairradina,
de certo ignoradas, ou esquecidas.
Trata-se dum processo de habilitação requerido pelo Capitão-Mor Pedro
de Barros Sobrinho, natural de Tamengos, e no qual ele fez petição, ao
rei, de dois hábitos de Cristo, sendo um para ele e outro para um seu
filho. Para esse fim, o suplicante abona-se não só com os seus serviços
de Capitão das Ordenanças, e Capitão-Mor do Couto de Aguim e seu termo,
durante 13 anos, ou fosse desde 1679 a 1692, ano em que fez a mencionada
petição, mas ainda com os de seu pai o Capitão Agostinho
Jorge Sobrinho, natural da Pedrulha, e de seu tio o Padre João
Gomes Sobrinho, também da Pedrulha, da comarca de Coimbra. No dito
processo o suplicante alegava que «deu sempre inteiro comprimento a tudo
que se lhe ordenou acodindo aos Alardos geraes que se costumão fazer
todos os annos sem nunca faltar á sua obrigação» e sempre «com grande
zello prudencia e verdade» etc. etc. Invocou ainda, em seu favor, os
serviços de António Cabral da Costa, natural de Coimbra, parente de sua
mulher D. Helena Cabral, e que o mesmo havia prestado na Índia. Vê-se
mais que por sentença de 26 de Agosto de 1684, numa justificação por ele
requerida e constante do mesmo processo, o pai do requerente faleceu ab
intestato no estado de casado com Bárbara de Barros, tendo desta uma
filha que morreu de menor idade e um filho
− Dom Manuel das Chagas,
Religioso dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, que renunciou, a
favor do Capitão Pedro de Barros, seu irmão, o que lhe podia tocar dos
feitos de seu pai e tio.
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O processo é instruído com vários documentos, dos quais alguns se
transcrevem no final deste artigo; e baseado neles, o Capitão Pedro de
Barros Sobrinho faz ver que seu pai faleceu Capitão da Ordenança do
Couto de Aguim, dizendo que ele
procedeu com zelo em todas as ocasiões, principalmente no tempo
de guerra, conduzindo «soldados pagos e auxiliares» acompanhando sempre o Capitão-Mor Manuel de Oliveira Barreto, indo também com
este e uma companhia de 20 soldados a Castelo Branco, onde mostrou o
zelo com que serviu o rei.
Maior folha de serviços porém foi aquela que apresentou de seu tio o
referido P.e João Gomes Sobrinho, que foi realmente um valente soldado.
Tendo sido nomeado Capelão do Terço que se formou em Coimbra no ano de
1643 «per ter as partes e calidades necess.as p.ª bem poder ocupar o
ditto cargo». Desempenhou-o com satisfação e aplauso de todos, «confessando e sacramentando
os soldados e acodindo aos rebates e animando-os nelles entrando e
saindo de guarda trabalhando nas trincheiras
e forteficações» o que lhe mereceu sempre menção honrosa. O
mesmo Capelão marchou com o dito Terço para Campo Maior, acompanhando a
infantaria e cavalaria na entrada que fez em
Castela, entrando cinco léguas na terra do inimigo, marchando para
Estremoz com uma Companhia a seu cargo à frente da qual esteve vinte
dias, estando em Campo Maior até Janeiro de
1645, tomando parte nas jornadas de Boin, Jurumenha, Mourão e outros
lugares, e portando-se sempre como «bom servidor e leal vassallo».
SOARES DA GRAÇA
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«Mendo Afonço da Silveira Cappitão de Infantaria por sua Mag.de do terço
que levantou o Conde de Cantanhede Dom Ant.º Luiz de Menezes por Sua
Mag.de ell.ma |
Certefico q marchando eu da Cidade de Coimbra com hum trosso da minha
Companhia vim a Villa de Estremos aonde achey o Capelaõ mor Joaõ Gomes
Sobrinho con secenta soldados q eraõ o restante dela com os quais avia
marchado a dita praça por hordem do dito Conde vindo por cabo deles. E
assistio vinte dias Entrando e saindo de guarda E as forteficaçoés da
fachina ate o dia que cheguei a dita praça adonde mos entregou com o
quaderno que em seo poder tinha. E por me ser pedida a presente por o
dito Capelaõ mor lha pacei por mim assinada e selada com o signete de
minhas armas o que iuro pello iuram.to dos Santos evamielhos paçar na
verdade e assim o julgo por merecedor de toda a honra e m.ce q que sua
Mag.de for servido fazer-lhe dada em Campo Mayor aos trinta de Dezembro
da era de mil e seis sentos e quarenta E quatro Anos. Mendo Afonso da
Silveira (Tem um selo branco)
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/ 153 / [VoI. lIl - N.º 10 - 1937]
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