Abade José Luciano Lobo, Sever do Vouga e suas indústrias, Vol. III, pp. 67-71.

SEVER DO VOUGA E SUAS INDÚSTRIAS

ESTE concelho, de bela posição topográfica, majestoso e sorridente, de solo rico e produtivo, não vive exclusivamente de seus elementos agrícolas. Também tem suas indústrias. Possui grandes e pequenas indústrias este concelho.

Fábrica de Moagem da Sociedade industrial do Vouga Ld.ª

As pequenas indústrias a que me refiro e que pequena influência exercem na vida económica da região são, por exemplo, os rudimentares pisões de burel; teares caseiros para preparação / 68 / do burel e linhos; pequenos moinhos dispersos pelos diferentes ribeiros ou córregos, alambiques para fabrico de aguardente, lagares de azeite, etc. etc.

A indústria do burel e linho (o bureI usado pelos pobres, o linho por uns e outros) vai diminuindo pouco a pouco.

A intensidade destas indústrias caseiras vai decaindo sensivelmente.

Devido à divisão dos baldios em, muitas freguesias, e à proibição do apascentamento de gados em terrenos particulares, são pequenos os rebanhos de gado lanígero neste concelho; e a cultura do linho também se encontra desprezada devido à facilidade com que se encontram outros tecidos que, por preço mais módico, substituem aquele.

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As grandes indústrias, as indústrias mecanizadas que representam enormes recursos pecuniários não são alheias a esta região.
E assim temos entre outras: fábricas de serração; de papel / 69 / e moagem; empresas eléctricas; indústrias de lacticínios, e minas de chumbo e de cobre.

As fábricas de serração são actualmente duas, sitas uma na estação de Paradela-Vouga e outra no lugar da Cortinha-Sever.

Nesta mesma localidade há a fabricação de papel para embrulhos e sacos, e uma pequena empresa eléctrica que fornece energia para iluminação da vila e casas particulares.

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Nas freguesias de Pessegueiro e Paradela está montada uma grande fábrica de moagem. Em Paradela propriamente a fábrica, e em Pessegueiro a central eléctrica que fornece energia à fábrica.

Esta fábrica, sistema «Daverio» da Sociedade Industrial do Vouga, Limitada, pode com razão chamar-se uma fábrica modelo devido ao aperfeiçoamento e modernismo de seus maquinismos.

Pertence à sociedade Vergílio, Aníbal, Francisco e Júlio Soares e Joaquim Martins. / 70 /
Funciona com dois turnos de nove horas cada turno, empregando cerca de 45 operários.

Mói nos dois turnos 35.000 quilos; e 20 mil quando trabalha só um turno.

Tencionam aumentar o prédio para armazém de moagem.

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Também a indústria de lacticínios está florescente neste concelho.

Quase todas as freguesias possuem esta indústria.

Assim, o Couto de Esteves, além da «Cooperativa Vale do Vouga» tem a firma Custódio Pereira Dias que exporta diariamente muitas dezenas de quilogramas de manteiga finíssima, premiada, como outras do concelho, em algumas exposições.

Freguesias há, como Rocas e Silva-Escura, onde o número de fábricas deste género atinge uma dezena.

Para muitos agricultores é esta a principal, senão a única, fonte de receita.

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As indústrias das minas de chumbo do Braçal, Malhada e Coval da Mó, e de chumbo e cobre (Galena-Calcopirite) das Talhadas − Vale do Vouga, estão decadentes. Estas últimas . encontram-se paralisadas. Situadas na margem direita do Alfusqueiro em local aprazível e poético, próximo do lugar de Vilarinho da freguesia das Talhadas, estas minas já chegaram a produzir mensalmente 300 toneladas de calcopirite a 20% de cobre e 50 toneladas de galena a 70% de chumbo. A percentagem da prata varia de 300 a 1.000 gramas por tonelada para o minério de cobre, e 600 a 1800 para o minério de chumbo. A crise económica mundial foi um dos factores para a sua paralisação.

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As minas de chumbo do Braçal, Malhada e Cova! da Mó constituíram outrora um dos mais importantes centros mineiros do norte do país.

Estas minas, que atravessam uma aguda crise, são bastante antigas. Algumas delas datam de tempos antigo, talvez dos romanos. Objectos lá encontrados indicam a sua antiguidade.

Possuem estas minas 14 poços, ou sejam 3 no Braçal, 5 na Malhada e 6 no Coval da Mó, sendo o mais profundo poço / 71 / mestre da Malhada que mede 400 metros com um desenvolvimento, só em galerias, de 13000 metros.

Esta empresa mineira tem no Braçal diversas oficinas e uma boa fundição de ferro onde se preparam peças de grandes dimensões.

Também possui um forno onde se funde o chumbo.

Eis o que de mais importante há a dizer sobre o problema industrial concelhio.

Apesar de essencialmente agrícola, a esta região nem por isso lhe são alheias as grandes e as pequenas ou rudimentares indústrias.

Pessegueiro do Vouga − Janeiro, 1937

ABADE JOSÉ LUCIANO LOBO