MARIA ARCHER

Grande escritora e jornalista, filha de pais

alentejanos, publicou mais um livro

«Há-de haver uma lei»

Pelo DR. VIRGÍLIO PASSOS

Maria Archer acaba de publicar mais um livro «Há-de haver uma lei».

Se bem que nascida em Lisboa, é alentejana pelo sangue e pela forte personalidade que se vinca e mostra nos crónicas, nos contos e romances que escreve.

Os pais são alentejanos e desde muito nova Maria Archer começou a viajar, a conhecer diferentes paisagens e, principalmente, «muitas e desvairadas gentes» desde as províncias do continente às longínquas terras ultramarinas.

A ilustre escritora, dos maiores valores da literatura feminina portuguesa, tem já muitos e valiosos livros publicados, entre eles: «Ela é apenas mulher», «Aristocratas», «A morte veio de madrugada», «Casa sem pão», «Viagem à roda da África», «Três mulheres», «Ida e volta duma caixa de cigarros», «Há dois ladrões sem cadastro», «Fauno sovina», «África selvagem» .e ainda livros de crónicas, cadernos coloniais, peças de teatro e traduções.

Tendo vivido em Moçambique três anos, na Guiné dois, no Niassa cinco e em Luanda quatro, conhece a África portuguesa como nenhuma outra escritora.

De subtil inteligência e delicada sensibilidade, analisa o meio e os seus personagens de uma forma real e dramática que emociona e comove.

Numa prosa forte e clara narra as cenas da vida que conheceu de perto ou que a sua imaginação arquitectou. É comunicativa em todos os temas essencialmente humanos. Nas suas obras descreve a brutalidade de anormais ou degenerados, considerados gente de bem pela sociedade, onde predomina o cinismo, a hipocrisia, a inveja, a maldade, o ódio e o ciúme. Nos contos e novelas, faz-nos sentir a animalidade que há no íntimo de cada ser, nos seus aspectos mais rudes e brutais.

De todas as escritoras é a que se apresenta mais sincera, vincando, desassombradamente, as anomalias e defeitos do sexo fraco.

A sinceridade, que transparece nos seus romances e novelas, dá vida, enriquece e embeleza os episódios que surgem cheios de originalidade e frescura.

No último livro «Há-de haver uma lei», que se lê com interesse crescente desde a primeira à última página, Maria Archer revela-se a grande ficcionista que realmente é, além de bela prosadora de forte personalidade, reagindo contra velhos preconceitos que aviltam e amesquinham a sociedade. É de uma franqueza abertamente alentejana, / 277 / mostrando a mulher nos diferentes estados de alma da perversão à virtuosidade.

A maneira como Maria Archer nos conta a timidez e dissimulação característica do sexo fraco, herança que vem da inferioridade da mulher perante o homem, na sociedade em que ainda hoje se vive, faz com que seja a escritora portuguesa mais lida. Analisa a psicologia humana sem lhes perdoar os defeitos, pondo a claro a vida fictícia a que a sociedade a obriga.

A maior coroa de glória desta ilustre escritora vem precisamente da verdade da sua obra.
 

 

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